Cantora Quesia Freitas conta que já foi ameaçada com uma arma pelo marido
Com registros de violência doméstica, a cantora gospel abriu o jogo; O medo da morte a fez viver um relacionamento abusivo que parecia que não ter fim
Na última quarta-feira, 25, veio a tona o caso da cantora gospel Quesia Freitas, que foi agredida pelo marido Bruno Feital, em um shopping do Rio de Janeiro no último sábado, 21. Um dos vídeos da agressão foi divulgado pelo irmão da vítima, Juninho Black, a qual ele pedia ajuda da sociedade para com o que a irmã estava passando.
Depois do ocorrido, a artista decidiu abrir para a imprensa o que vinha passando nas mãos do seu cônjuge, inclusive relatando que sofreu ameaça de morte por ele com arma de fogo.
Durante a conversa com o jornal Extra, Quesia revelou que estava passando por violência doméstica cerca de um ano e três meses, desde o início de sua relação. Por conta do medo, ela não conseguia falar sobre o assunto. No momento, ela segue em um retiro espiritual em São Paulo.
No dia que aconteceu a última agressão amplamente divulgada pela imprensa, eles foram levados para o 42ªDP (Recreio) por policiais miliares, justamente para prestar queixa contra o marido, mas durante o relato omitiu detalhes da conturbada relação que vivia e também não conseguiu realizar o exame de corpo de delito.
No histórico Bruno Feital, foram encontrados três registros de boletim de ocorrência na Lei Maria da Penha realizadas por ela.
Quesia Freitas, que é mãe de três crianças de 7, 10 e 12 anos, afirma que se arrepende de ter voltado com o marido depois de ter prestado as queixas anteriormente. Ela conta que ele já a ameaçou com uma arma jogá-la da sacada de casa e que ainda durante essas brigas, tentou estrangulá-la. Dois pedidos de medida protetiva também foram protocolados na Justiça, mas foram arquivados a pedido da vítima. Depois da queixa, Bruno tentou falar com a Quesia na última terça-feira, dia 24, e chegou a ameaçá-la de novo.
“Está tudo bem dolorido. Têm dias que estou melhor, outros não. Foram muitas coisas. Essa agressão do shopping só o empurrão e o puxão, mas só eu sei o que passava dentro de casa. Ele sempre me ameaçou, dizia que iria me matar, que iria me jogar da sacada, que tinha coragem para isso. Já me ameaçou com uma arma diversas vezes e até tentou me estrangular em uma das brigas que tivemos”, começa a falar ao jornal Extra.
“Hoje, eu me arrependo de tudo. É duro falar, mas eu tinha e ainda tenho um sentimento por ele, aquele que rasga por dentro. Mas hoje vocês viram esse vídeo, mas poderia ser um vídeo do meu óbito, de eu caindo da janela ou de ele me jogando da sacada”, continua.
O que aconteceu no shopping?
De acordo com a vítima, a agressão que sofreu do marido no último sábado aconteceu porque Bruno não achou um achocolatado que procurava. Mesmo não conseguindo atingir o objetivo e ficando muito irritado, eles foram assistir a um filme no cinema, porém logo na sequência começou a reclamar da roupa que ela estava, das fotos que tinha tirado, até que ela o questionou. E foi nesse momento que as agressões dentro do shopping iniciaram.
“Ele começou a gritar, e eu fiquei com vergonha. Ele me empurrou e eu travei. Mas na hora eu pensei: ‘Chega! Cansei dessa vida’. Estava exausta, e vi que ali, em um lugar público, seria o empurrão que eu precisava para acabar com tudo. Eu perdi a guarda do meu filho mais novo por causa dele. Meu filho viu ele me agredindo e dizia que ‘ele era mal e que tinha medo’. Mas é complexo… Hoje tem a ferramenta, que são os vídeos, que provam tudo”, conta.
Violência dentro de casa
O casal se conheceu em agosto de 2019, mas já nesses tempos ele se demonstrava ser um homem nervoso e muito ciumento. Um mês depois, o namoro virou casamento. No dia seguinte do casório, aconteceu a primeira agressão e os dois foram para a delegacia. Três dias após o ocorrido, ela solicitou medida protetiva, que foi aceito pela Justiça do Rio de Janeiro. Por 90 dias, o agressor foi obrigado a ficar pelo menos 400 metros de distância dela. Só depois do pedido de desculpas, Quesia decidiu retirar a queixa e os dois voltaram.
A cantora ainda revelou que Bruno pegou uma arma emprestada de um amigo e chegou a apontá-la algumas vezes para ela, inclusive quando ela falava que iria embora e se separar. O caso ocorreu quando moravam no conjunto habitacional Cohab, em Carapicuiba (SP).
Sexo sem consentimento
Ele ainda relata que durante as brigas o marido quebrava os objetos em casa, até partir para a violência física. Quesia caracteriza esses momentos como “um inferno diário”. Ela ainda ressalta muita das discussões começavam porque ele a forçava a ter relação sexual na frequência que ele desejava. A cristã conta que foi por vezes coagida para ir para a cama com ele.
“O meu inferno começava à noite e ia até a madrugada. Eu só rezava para acabar logo. Muitas das brigas aconteciam porque eu não queria ter relações sexuais sempre, mas ele não aceitava isso. Nem mesmo quando eu estava com cinta médica após uma cirurgia ele respeito. Já tive relações sexuais chorando, porque ele me obrigava. Ele usava a minha religião e dizia que ‘mulher não tem que negar’, fala.
No início desse ano, em abril, ela prestou a segunda queixa a polícia, que acabou em divórcio e mais uma medida protetiva. Os dois ficaram separados por pelo menos 4 meses, mas novamente, sob pressão, ela retirou a queixa e a medida protetiva. Quesia avisa que apesar de terem reatado, dessa vez, as agressões só pioraram.
“Eu passei por cima de tudo, perdi tempo. Me arrependo, sem sombra de dúvidas, de ter voltado agora. Eu queria uma família, achei que teria a família que sempre sonhei, que daria certo. Mas vivia uma dependência dele, não financeira, mas psicológica e emocional. É feio falar, mas eu amei e ainda o amo. Ninguém deixa de amar da noite para o dia. Mas ele já me avisou: ‘se eu te encontro, eu te atravesso’. Não quero perder a minha vida”, finaliza.
Agressor não compareceu a delegacia
Bruno Feital, o agressor, já foi intimado a aparecer na delegacia para prestar depoimento, mas até o momento não compareceu. O delegado do caso, Alan Luxardo, disse que já pediu todas as imagens publicadas nas redes sociais e as das câmeras de segurança do shopping, que serão inseridas nos autos do processo e analisadas.
“Ele ainda não foi ouvido, mas espero que ele compareça por conta própria. Vamos ouvi-lo e fazer averiguações. O agressor já tinha outro registros que envolviam violência doméstica contra ela. Ele foi enquadrado por lesão corporal contra mulher, na Lei Maria da Penha. No caso, mais dois outros casos. Nós recolhemos as imagens das câmeras de segurança para anexar ao processo. Nelas, fica o agressor aparece puxando o cabelo e o braço dela. Tudo será juntado ao processo. Agora, ela aguarda que a Justiça autorize as medidas protetivas”, disse o delegado.
Vídeo da agressão sofrida por Quesia Freitas no shopping
https://www.instagram.com/p/CH6WWEIFyhq/
Briga entre marido e mulher se mete a colher, sim!
Segundo o ditado popular, brigas entre casais devem ser ignoradas por terceiros. Mas, vale lembrar que muitos dos casos de violência doméstica, como o de Quesia Freitas, não são denunciados pela vítima por inúmeros motivos. Medo ou falta de informação inclusos. Então, meta a colher, sim! Qualquer pessoa pode – e deve – dar queixa desses casos.
Outra situação comum é achar que a denúncia “não vai dar em nada” contra o agressor, uma vez que nem sempre as circunstâncias e as leis permitem que ele seja detido ou punido no momento da denúncia.
Mas não se engane! A presença da polícia no local, por exemplo, pode inibir ações mais violentas naquele momento ou até no futuro.
Mas como denunciar violência doméstica? Os casos de violência doméstica que viram processos no Poder Judiciário começam em diferentes canais do sistema de justiça, como delegacias de polícia (comuns e voltadas à defesa da mulher), disque-denúncia, promotorias e defensorias públicas.