Caso Neymar: culpado ou não, ele não deve ser tratado como vítima
O jogador foi acusado de estupro por uma mulher, que registrou boletim de ocorrência na última sexta-feira, 31
Neymar Jr. foi acusado de estupro por uma mulher, que registrou boletim de ocorrência contra o jogador na última sexta-feira, 31, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo (SP). Segundo a denúncia, o crime teria ocorrido no dia 15 de maio, em Paris (França), onde o atleta mora.
Os dois teriam se conhecido pelo Instagram e combinaram de se encontrar na capital francesa. Um assessor de Neymar teria feito a compra das passagens e a reserva no hotel Sofitel Paris do Arco do Triunfo, onde teria acontecido o caso de estupro.
O portal UOL teve acesso a imagens e documentos, entregues pela vítima à polícia, que comprovariam a violência. De acordo com a reportagem, a brasileira relatou que o jogador chegou ao local, visivelmente embriagado, e agiu de forma agressiva antes do suposto crime. O laudo médico no corpo dela apontou hematomas, problemas gástricos, perda de peso e sintomas de estresse pós-traumático em seu corpo. Os exames foram feitos seis dias depois do suposto encontro.
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Exposição da mulher
A estratégia de defesa utilizada por Neymar foi a de desqualificar a vítima. Para provar que não cometeu um crime sexual (de estupro), ele pode ter cometido um crime digital (divulgação da identidade e de fotos íntimas). Em seu Instagram, com 119 milhões de seguidores, o atleta compartilhou um vídeo afirmando que estaria sofrendo um golpe, mostrando imagens de uma suposta conversa entre os dois na época.
Nos prints, o jogador expôs troca de mensagens entre eles e fotos da mulher nua, como se isso representasse alguma prova de que ela estaria mentindo para ganhar fama ou dinheiro. O fato de ser uma conversa em que, aparentemente, há consentimento, não anula a possibilidade de ter ocorrido a violência sexual.
A atitude do atacante depois das acusações será investigada pela polícia do Rio de Janeiro. Ao mostrar as imagens, ele teria cometido o crime previsto no artigo 218-C do Código Penal de “oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio – inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia”. Caso seja condenado, poderá pegar pena de um a cinco anos de prisão.
O acusado como vítima
Após a divulgação do caso e dos prints, as redes sociais foram tomadas por discussões sobre o assunto. Em muitos comentários, internautas chegaram a afirmar que Neymar sofreu um golpe e que a mulher estaria inventando o estupro. “Eu li a conversa e cheguei à conclusão de [que] quem estava sendo estuprado era o Neymar”, escreveu uma pessoa no Twitter. “Não consigo entender… Como o Neymar caiu nessa?”, disse outra.
Além disso, apesar de tratar de um crime, a conversa entre o jogador e a vítima virou motivo de piada em memes compartilhados nas redes sociais — alguns que, inclusive, usam as próprias fotos da mulher e as colocam em meio a mais violência.
O jogador também foi defendido publicamente pelo pai e por outros atletas da seleção brasileira. “Isso não vai contaminar o grupo e sabemos muito bem como é o Neymar como pessoa. Certeza que vai provar ser inocente. Os fatos apresentados são de estranheza e pareceu premeditado. Assim que tudo for esclarecido, Neymar vai ter a paz que merece e continuar o trabalho que tem feito”, disse o volante Fernandinho.
Enquanto o atleta usou seu poder midiático para se colocar como vítima, a brasileira fez a denúncia na polícia e entregou as provas para que seja feita investigação. Embora o caso esteja sob sigilo, ela acabou tendo sua identidade revelada pelo apresentador da Band José Luiz Datena. Ou seja, uma forma de punir e expor a envolvida, evidenciando um país em que a mulher sofre inúmeras violências mesmo após realizar a denúncia.
O ocorrido ainda não foi julgado e não é possível afirmar se Neymar é culpado ou não pelo crime de estupro. Fato é que, independentemente da conclusão das investigações, mais uma vez, uma mulher está sendo tratada como culpada e o jogador como vítima: um homem ingênuo que não resistiu à sedução feminina e acabou caindo em um suposto golpe.
O mesmo papel foi colocado a Neymar quando ele engravidou Carolina Dantas, com quem tem o filho David Lucca, de 7 anos. Quantas pessoas não disseram — e dizem ainda hoje — que ela seria “maria chuteira” e estaria interessada no dinheiro do jogador? Até quando vamos dizer que ele foi enganado por uma mulher? Culpado ou não, o atacante é um homem de 27 anos, que deve assumir suas responsabilidades como qualquer outro.
O papel da sociedade neste caso não é o de fazer julgamentos precipitados baseados em uma cultura do estupro, mas sim, de refletir sobre machismo e consentimento, como afirmou Djamila Ribeiro em um post no Instagram. “É preciso cuidado e responsabilidade, não é porque alguém tem comportamentos que você desaprova, que é correto afirmar ou supor coisas”.