Discriminação: mulher é excluída de processo seletivo por ser mãe
A falta de acolhimento às mães no mercado de trabalho é latente e se manifesta em diferentes estágios do desenvolvimento profissional da mulher: no momento de conceder licença maternidade, na incompreensão das demandas maternas, no olhar enviesado dos colegas de trabalho quando a responsabilidade materna se sobrepõe às profissionais. Mas, muitas vezes, o preconceito se manifesta antes mesmo de a mulher adentrar o mercado de trabalho, ou mesmo no momento de voltar a ele após o período de licença.
Sonia Cristina Tomiyoshi é exemplo disto. Em entrevista ao Huffpost Brasil, ela conta que passou meses em um processo seletivo para a vaga de Gerente Financeiro e de Controladoria. Entre testes, entrevistas e relatórios, Sonia relembra que mencionou os dois filhos – Lucas, de cinco anos, e Maria Clara, de oito meses – logo no início do processo, e notou que uma das recrutadoras anotou a informação, mas não muita importância.
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“Eles [os recrutadores] me disseram que não tinham dúvida em relação ao meu desempenho profissional, que eu tinha conhecimento técnico, mas pelo fato de ser mãe, eles me desqualificaram para a vaga. Por ser mãe, eles acharam que eu não teria tempo o bastante, ou que eu não me dedicaria ao trabalho”, relatou Sonia.
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Sonia ouviu dos próprios recrutadores que era perfeita para a vaga, mas que seria eliminada por ter dois filhos para cuidar.
Depois de passar por todas as etapas, Sonia foi avisada que era a única candidata finalista, mas que a recrutadora iria buscar mais candidatos antes de dar o resultado definitivo. Um mês se passou e Tomiyoshi pediu feedback para o recrutamento, que afirmava ainda estar em processo de seleção de outros candidatos. Foi então que ela soube que tinha sido desconsiderada do processo porque a empresa entendeu que ela não seria capaz de conciliar o trabalho com as responsabilidades da maternidade.
O Catraquinha conversou com Sonia para saber quais foram os desdobramentos do caso, e a profissional alegou que resolveu não fazer uma denúncia formal. “Acredito que o melhor benefícios é retratar o que acontece com as mães no mercado de trabalho, e ajudar a combater este preconceito”, explicou.
Sonia defende que falta preparo aos profissionais nas empresas. “Eu acredito que muitas vezes isso se deve mais ao gestor que está conduzindo o departamento do que a própria empresa, apesar de acreditar que as organizações devam estabelecer a forma correta de agir em sua cultura”.
Ela conta que não é a primeira vez que passa por algo dessa natureza, e que vai continuar em busca de empresas que a acolham e acreditem em seu potencial sem discriminações nem pré-julgamentos. “Existem muitas empresas que apoiam e acreditam no potencial de profissionais que são mães”, conta.
Sonia compartilhou o que viveu em um grupo de mães no Facebook, e o post chamou a atenção de muitas mulheres que se sensibilizaram com o caso. Leia o relato:
“É cada coisa que somos obrigadas a ouvir: Estava eu participando de um processo seletivo para Gerente Financeiro e de Controladoria, super animada por ter sido aprovada em todas as fases do processo, que já durava 2 meses. No último feedback a headhunter me informou que era candidata finalista porque a diretora havia gostado bastante e que havia pedido mais candidatos, pq entrevistou vários e não havia gostado dos perfis, então queria alguém mais proximo do meu perfil para entrevistar. Ontem me ligaram e me informaram que haviam aprovado outro candidato, pq acharam que pelo fato de eu ser mãe de dois filhos pequenos não conseguiria me dedicar tanto. Gente confesso que fiquei mt mt mt triste. Mas acho que nós por sermos mães, somos até mais dedicadas no trabalho, eu sempre fui excessivamente, pq trabalhamos para dar o melhor para nossa família e fazemos isto pelo amor que temos a eles, então damos o nosso melhor. Portanto mamães queridas, se alguma mãe que trabalhe com RH conseguir me ajudar, fico extremamente grata. Sou Gerente Financeiro e Controladoria. Muito Obrigada e desculpa o desabafo.”
Discriminação no mercado de trabalho: denuncie
É importante ressaltar que o caso de Sonia não é uma situação isolada. Relatos de preconceito e exclusão de mulheres que se tornam mães no mercado de trabalho são cada vez mais frequentes, apesar de a discriminação configurar crime previsto em lei. A Constituição Federal, a lei nº 9.029 e a Convenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT nº 111) impedem qualquer tipo de discriminação no emprego ou profissão. Clique aqui para ter acesso ao texto da OIT na íntegra.
Por isso, as mulheres podem e devem empoderar-se de seus direitos como cidadãs, e denunciar discriminações de qualquer natureza – seja racial, de gênero, social ou contextual, como é o caso de Sonia – ao Ministério do Trabalho.
*Com informações de Huffpost Brasil
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