Dossiê denuncia ações violentas contra moradores da cracolândia
"A violência na cracolândia aumentou desde o início da gestão Doria", diz ativista do movimento A Craco Resiste
Agressões generalizadas; uso cruel de armas menos letais; provocações e agressões gratuitas; violência contra pessoas em situação de vulnerabilidade; desinformação e falta de transparência.
Estas são as ações de maior recorrência contra os residentes e frequentadores da região da cracolândia, no centro de São Paulo, desde o início da gestão de João Doria (PSDB), de acordo com relatório do movimento A Craco Resiste.
Intitulado “Agressões e Violações na Cracolândia”, o documento divulgado no último dia 13 de maio é uma compilação e um registro dos casos de violência no território da cracolândia, com o objetivo de mostrar que não se tratam de episódios isolados, mas sim de agressões permanentes como forma de limpeza social.
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O dossiê reúne fotos das agressões aos moradores e relatos de integrantes do A Craco Resiste sobre os episódios. “[No dia 17 de janeiro de 2017], foi chamado um grande contingente de policiais, que passou a agredir indiscriminadamente todas as pessoas que estavam na região com balas de borracha e bombas de gás”, conta um trecho.
Segundo o movimento, a situação de abordagem se repete: a partir de um suposto ato cometido por um indivíduo ou grupo no local, as forças de segurança do estado e do município agridem de diversas formas, indiscriminadamente, todas as pessoas que se encontram na cracolândia.
As ações não se restringem à atual prefeitura. Na gestão Fernando Haddad (PT) as violações também eram comuns, de acordo com os ativistas. “No entanto, com a retomada do projeto de higienismo declarado no discurso de João Doria, os policiais e guardas que estão presentes no território se sentem liberados para intensificar a violência contra esta população”, diz o texto.
“A violência na cracolândia aumentou desde o início da gestão Doria. Os policiais chegam com o pretexto de um roubo de celular, por exemplo, e daqui a pouco entra a Tropa de Choque e dá tiro de verdade”, afirma Daniel Carvalho, militante do movimento A Craco Resiste.
Operação
No último domingo, dia 21, a Prefeitura de São Paulo e o governo do Estado fizeram uma operação violenta na cracolândia para prender traficantes e desobstruir três vias em que os usuários de drogas viviam. “A cracolândia aqui acabou, não vai voltar mais. Essa área será liberada de qualquer circunstância como essa”, disse João Doria.
“Foi uma operação de guerra: os homens da Polícia Civil cercaram o fluxo, invadiram, começaram a recolher todos os pertences das pessoas, pegaram as barracas, invadiram os hotéis, pegaram tudo o que elas tinham, meteram no caminhão e jogaram fora”, relata Daniel Carvalho.
De acordo com o ativista, a real intenção da prefeitura é limpar a área para fazer empreendimentos imobiliários, sem nenhum projeto para os moradores. “O tratamento foi o pior possível. Eles foram tratados como lixo a ser varrido da rua. Vários perderam documentos, objetos pessoais e ficaram arrasados.”
“As pessoas que ficavam na região foram espalhadas pelo centro em grupos menores e estão sofrendo constantemente a repressão da polícia. Elas estão em uma praça, vem a PM e joga bomba. Os imóveis vem sendo demolidos, sem aviso nenhum, do dia para a noite”, explica o integrante do movimento.
Após a ação, o prefeito anunciou o fim do comércio ilegal de entorpecentes no local e do programa Braços Abertos, criado na gestão de Fernando Haddad, além do início do programa Redenção.
Porém, Doria descumpriu as medidas prometidas na estreia de seu programa anticrack, o que fez o centro ganhar uma nova cracolândia a apenas 400 metros daquela decretada como extinta. A Guarda Civil Metropolitana (GCM) mapeou 22 pontos de concentração de usuários de crack na capital paulista depois da operação.
Resistência
A Craco Resiste é um movimento autônomo que atua na cracolândia como uma espécie de vigília, oferecendo auxílio social e jurídico aos moradores.
O grupo está presente no território para evitar as agressões das forças de segurança e outras formas de violência a que estão submetidas, cotidianamente, as pessoas que vivem e frequentam essa área fortemente estigmatizada.
O projeto também organiza eventos culturais, como saraus, shows e festas. Acompanhe as denúncias e ações na página do Facebook e veja algumas fotos:
O Catraca Livre fez uma reportagem sobre o “Sarau da Pedra”, que ocorreu no fim do ano passado.
Assista ao vídeo abaixo:
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