Em carta à ex-patroa, mãe de Miguel diz que não perdoa e pede punição
'Perdoar seria matar o Miguel novamente', afirmou Mirtes Renata
Mirtes Renata, mãe do menino Miguel, de 5 anos,enviou uma carta à ex-patroa, Sari Corte Real, esposa do prefeito de Tamandaré (PE), nesta quarta-feira, 10, em que diz não perdoá-la e pede punição. O garoto morreu após cair do 9º andar do prédio onde a 1ª dama morava, quando em Recife (PE).
“Perdoar seria matar o Miguel novamente”, afirmou Mirtes Renata que ainda destacou: “Eu não recebi qualquer pedido de desculpas”, disse a mãe do menino Miguel em resposta a uma carta da ex-patroa divulgada para imprensa.
“Perdoar pressupõe punição; do contrário, não há perdão, senão condescendência. A aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento, permitirá o meu recomeço e abrirá espaço para o que foi pedido: perdão. Antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente”, afirmou a mãe do menino no texto, que foi escrito com auxílio de um advogado.
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“Após poucos dias, é desumano cobrar perdão de uma mãe que perdeu o filho dessa forma tão desprezível. Afinal, sabemos que ela não trataria assim o filho de uma amiga. Ela agiu assim com o meu filho, como se ele tivesse menos valor, como se ele pudesse sofrer qualquer tipo de violência por ser ‘filho da empregada'”, afirmou a doméstica.
Ainda na mensagem, Mirtes disse que a carta divulgada por Sari não foi destinada a ela. “A carta de perdão foi dirigida à imprensa, o que me faz pensar que eu não era destinatária, mas sim a opinião pública com a qual ela se preocupa por mera vaidade e por ser esse um ano de eleição”, afirmou Mirtes na carta.
Mirtes trabalhava para Sarí como empregada doméstica e deixou o filho sob os cuidados da patroa por alguns minutos enquanto levava o cachorro dela para passear. Contudo, Sarí deixou Miguel sozinho dentro do elevador, apertou o botão. Então, o menino se perdeu e caiu do 9º andar do prédio. A esposa do prefeito foi presa em flagrante e liberada após pagar fiança de R$ 20 mil.
Veja a íntegra da carta de Mirtes Renata
“SOBRE O PERDÃO PEDIDO POR SARI
Eu não recebi qualquer pedido de desculpas. A carta de perdão foi dirigida à imprensa, o que me faz pensar que eu não era destinatária, mas sim a opinião pública com a qual ela se preocupa por mera vaidade e por ser esse um ano de eleição.
Eu não tenho rancor. Tenho saudade do meu filho. O sentido da vida de quem é mãe passa pelo cheiro do cabelo do filho ao acordar, pelo sorriso nas suas brincadeiras, pelo ‘mamãe’ quando precisa do colo e do abrigo de quem o trouxe ao mundo. Uma mãe, sem seu filho, sofre uma crise, não apenas de identidade, como também de existência.
Quem sou eu sem Miguel? Ela tirou de mim o meu neguinho, minha vida, por quem eu trabalhava e acordava todos os dias.
Quando eu grito que quero justiça, isso significa que eu preciso que alguém assuma a minha dor, lute minha luta, seja o destilado da cólera que eu não quero e nem posso ser. Eu não tenho forças neste momento, não tenho chão. Não tenho vida!
Após poucos dias é desumano cobrar perdão de uma mãe que perdeu o filho dessa forma tão desprezível. Afinal, sabemos que ela não trataria assim o filho de uma amiga. Ela agiu assim com o meu filho, como se ele tivesse menos valor, como se ele pudesse sofrer qualquer tipo de violência por ser ‘filho da empregada’.
Perdoar pressupõe punição; do contrário, não há perdão, senão condescendência. A aplicação de uma pena será libertadora, abrandará o meu sofrimento, permitirá o meu recomeço e abrirá espaço para o que foi pedido: perdão. Antes disso, perdoar seria matar o Miguel novamente. Mirtes, mãe de Miguel (carta escrita com auxílio do advogado constituído)”