Ex-funcionários do Bondinho do Pão de Açúcar denunciam demissão em massa
"Não nos foi proposto nenhum tipo de negociação. Nem suspensão temporária de contrato, nem diminuição de salário, nada", critica ex-funcionária da empresa
A crise do novo coronavírus faz vítimas em todo o mundo. Para além do colapso no sistema de saúde, a pandemia provoca caos econômico nos países por onde passa e deixa um rastro de destruição: desemprego, instabilidade social recessão e portas fechadas.
Afinal, quais serão as consequências da tragédia que parou o Brasil e o mundo ?
No Rio de Janeiro, denúncia feita por ex-funcionários de um dos mais importantes pontos turísticos do mundo, o Bondinho do Pão de Açúcar, mostra que os efeitos da recessão começam a se manifestar na economia.
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No último dia 3 de abril, a Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar demitiu 62 dos 280 funcionários. Além disso, suspendeu contratos de empresas terceirizadas para staff de limpeza e segurança que atuavam no local.
Em um texto divulgado no Facebook, a ex-funcionária Maiana Maceri critica a decisão da empresa que, segundo ela, decidiu ir contra as iniciativas de manutenção dos funcionários, a exemplo da campanha #naodemita. “Não nos foi proposto nenhum tipo de negociação. Nem suspensão temporária de contrato, nem diminuição de salário, nada. Algumas outras medidas poderiam ser tomadas numa situação de crise: corte nos salários de diretores e gerentes, diminuição dos dividendos dos acionistas.”
Confira o texto na íntegra:
“Estamos passando por uma situação sem precedentes. Sem grandes referências, empregados e empregadores estão aprendendo juntos a passar por essa pandemia que mudou drasticamente nossas rotinas e vidas.
De um dia para o outro, empresas se viram na necessidade de revisitar seus orçamentos, seus planejamentos e cronogramas e adaptá-los diante do novo cenário. É esse momento crucial, da decisão, que vai definir se sua empresa vai olhar pras pessoas ou não.
Aquelas pessoas que dedicam, diariamente, suas vidas e seus conhecimentos no desenvolvimento e crescimento da empresa. Incrível que em 2020 ainda tenhamos que lembrar isso.
Nesse cenário, vemos surgir uma série de medidas do Governo Federal, com lançamento de MPs e negociações para empresários manterem seus funcionários empregados e iniciativas como a #naodemita que visa garantir os empregos, pelo menos, até o final de Maio.
O Bondinho Pão de Açúcar escolheu ir na contramão e olhar apenas para o bolso de seus diretores e acionistas. 62 funcionários foram demitidos na última sexta-feira, dia 03/04, com o argumento de que essa era a única saída neste momento. 15 dias de quarentena e essa era a única saída? Não nos foi proposto nenhum tipo de negociação.
Nem suspensão temporária de contrato, nem diminuição de salário, nada. Algumas outras medidas poderiam ser tomadas numa situação de crise: corte nos salários de diretores e gerentes, diminuição dos dividendos dos acionistas,… No entanto, o que recebemos apenas foi um protocolar “muito obrigado” pelos anos de dedicação acompanhado de uma risível Cartilha de Apoio com dicas como medite e leia um livro.
Durante o ano passado inteiro, uma frase do Cazuza foi repetida com frequência pela diretoria no sentido de conquistar apoio dos funcionários: “vem comigo, no caminho eu explico”. Nós fomos. E agora?
Triste demais por esse momento pelo qual estamos passando, angustiada pelos que dependem de liberação de verba mínima do governo para comer, solidária com meus colegas que, assim como eu, perderam seus empregos no momento mais incerto de nossas vidas e decepcionada demais com essa empresa à qual dediquei mais de dois anos da minha vida profissional e que nos abandonou quando mais precisávamos.
Sigo firme com as minhas convicções de que juntos somos mais fortes e passaremos por essa pandemia com o menor número de mortos possível, cada um fazendo sua parte.
Fica aqui o meu desejo de um aprendizado com essa crise: olhe para o lado. Empresários, valorizem seus funcionários e #naodemita.”
O que diz empresa ?
A redação da Catraca Livre entrou em contato com a empresa que, por meio de sua assessoria, se manifestou sobre o assunto.
Em nota, a empresa justifica que o setor turístico passa por uma grande crise devido à pandemia e projeta retomada econômica daqui a, no mínimo, um ano.
“Desde o fechamento do Bondinho Pão de Açúcar, em 17 de março, passamos por um momento inédito em nossa história e, para manter a empresa viva, precisamos suspender contratos e renegociar pagamentos a fornecedores e terceiros. Infelizmente, diante da realidade atual e de ter esgotadas todas as soluções possíveis, fomos forçados a fazer uma reestruturação organizacional. Lamentavelmente, essa foi nossa última saída. Estes funcionários vão receber todos os seus direitos, como garantido por lei e ainda uma extensão por mais 60 dias além do aviso prévio para uso do plano de saúde. O setor de turismo está sendo drasticamente afetado no mundo inteiro e sua retomada se dará, no melhor cenário, apenas daqui a 12 meses.”