‘Fora das Margens’: uma luta pela defesa dos direitos LGBTQIA+

Projeto global da ONG britânica Stonewall está chegando ao Brasil e será desenvolvido pela plataforma de petições Change.org e pelo IBRAT

Em parceria com Change.org (Oficial)
11/03/2021 12:20 / Atualizado em 12/03/2021 12:35

Benjamin Neves é um dos ativistas trans que participam do projeto
Benjamin Neves é um dos ativistas trans que participam do projeto - Arquivo pessoal

“Vivemos em um país onde a expectativa de vida para transexuais é de apenas 35 anos, enquanto para a população em geral é, em média, 75. Não é possível aceitar que 90% dos cidadãos transgêneros e travestis precisem recorrer à prostituição por falta de um emprego formal. Essa situação precisa mudar.” A declaração é da diretora-executiva da Change.org, Monica Souza. Com o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat), a organização está trazendo ao Brasil um projeto internacional pelos direitos das pessoas trans.

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Chamado de “Out of the Margins” (Fora das Margens), o projeto da ONG britânica Stonewall é uma ação global pela defesa dos direitos LGBTQIA+, realizada por uma rede de 24 organizações na Europa e na Ásia Central, na África Subsaariana, na América Latina e no Caribe. No Brasil, será desenvolvido por Change.org e Ibrat com dois objetivos principais: empoderar membros dessa comunidade, especialmente pessoas trans, e criar uma ação de advocacy.

Em todo o mundo, lésbicas, gays, bissexuais, pessoas trans e outras pertencentes à comunidade LGBTQIA+ são excluídas e sofrem por não terem seus direitos garantidos. No Brasil, nação que lidera o ranking de assassinatos de transexuais, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o cenário é ainda pior. Por isso, segundo conta Monica, o projeto jogará luz nessa realidade de exclusão, provocando um debate na sociedade.

“Fora das Margens” está treinando ativistas trans para o lançamento de campanhas que amplifiquem suas vozes sobre problemas que afetam suas vidas nas áreas de saúde, educação, trabalho, entre outras. Em forma de abaixo-assinados, essas mobilizações estão sendo hospedadas pela plataforma Change.org para colocar as questões urgentes em pauta.

Em outra ponta, após engajar a sociedade em torno das demandas, as mobilizações sairão do mundo online e serão levadas diretamente às autoridades capazes de resolvê-las. O objetivo, de acordo com os participantes do projeto, é pressionar pela construção de políticas públicas locais e nacionais que garantam, de fato, os direitos hoje negados a essa população.

Essa ação de advocacy ficará a cargo dos membros do Ibrat que trabalharão com autoridades dos três Poderes. No dia 4, o secretário de políticas internacionais do instituto, Benjamin Neves, deu a largada nessa missão. Com outros ativistas, participou de uma audiência no Ministério Público Estadual do Mato Grosso e entregou um dos abaixo-assinados criados no projeto, que pede a instalação de um ambulatório trans em Cuiabá.

Neves, que é homem trans e também está liderando uma campanha, destaca a importância de ativistas da causa atuarem nos espaços de controle social, em representação ao segmento, para colaborarem com o desenvolvimento e monitoramento de políticas públicas. O abaixo-assinado lançado por ele, que também é professor e doutor em Educação, cobra o andamento das filas para cirurgias de redesignação sexual em um hospital no Rio de Janeiro.

“Para que consigamos melhorar ou atualizar políticas públicas em saúde transespecíficas, por exemplo, é muito importante que se tenha um homem trans ou uma pessoa transmasculina dentro dos conselhos de saúde LGBTQIA+”, explica o ativista. “Cabe a nós estarmos lá, levarmos nossas demandas e pressionarmos as instituições ou pessoas responsáveis por tomarem decisões”. Neves espera há 7 anos por sua cirurgia.

O Ibrat atua como ferramenta de defesa dos direitos civis e de promoção da qualidade de vida de homens trans e pessoas transmasculinas. Também tem a missão de agir pela educação das identidades de gênero a partir das demandas e experiências do movimento social de homens trans.

Demandas em uma única página

Hotsite já engaja mais de 435 mil apoios em torno das pautas
Hotsite já engaja mais de 435 mil apoios em torno das pautas - Divulgação/Change.org

Para ampliar o alcance e o poder de mobilização das campanhas que estão sendo criadas no projeto, a Change.org criou uma página na internet. O hotsite já concentra 70 abaixo-assinados ligados ao tema e propõe criar um movimento em torno da pauta. Até o momento, a página engaja de mais de 435 mil assinaturas nas mobilizações. Para conhecer as petições e apoiá-las, basta acessar o link: http://direitoslgbtqia.changebrasil.org

“Vamos colocar à disposição dessa comunidade nossos recursos tecnológicos e expertise. Esperamos empoderar esses cidadãos para que suas vozes possam ecoar na sociedade e sejam ouvidas, de fato, por políticos e autoridades capazes de mudar a injusta e cruel realidade de marginalização em que vivem”, afirma a diretora-executiva da plataforma.

A equipe da Change.org já realizou três webinários para o empoderamento de homens trans. Nas sessões, os participantes receberam orientações sobre como utilizar a tecnologia como aliada em suas campanhas e mobilizar o apoio da sociedade. O grupo ainda recebeu dicas sobre como direcionar suas demandas aos diferentes poderes e autoridades.

Além das petições pela instalação do ambulatório trans em Cuiabá e pelo andamento da fila de cirurgias de redesignação sexual, os ativistas que participam do “Fora das Margens” já lançaram outras. Uma delas luta para que o ambulatório “SerTrans”, que funciona em um hospital mental na cidade de Fortaleza, no Ceará, seja transferido para um local adequado. Outra demanda é a inclusão do nome social nas carteiras de trabalho e de habilitação.