Governo Bolsonaro vai recontar mortos por covid-19 e gera revolta
Apesar da sabida subnotificação, o governo justifica a recontagem dizendo que haveria óbitos a mais
O Ministério da Saúde, afirmou que irá recontar o número de mortos no Brasil vítimas da covid-19 e revoltou os secretários de Saúde do país, neste sábado, 6. Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta, Carlos Wizard, os dados atuais seriam “fantasiosos ou manipulados”.
Wizard afirmou que o número de mortos, que ontem chegou a 35.026 pessoas, conforme dados oficiais, estaria inflado. O bolsonarista desconsiderou que o próprio Ministério da Saúde já admitiu que há um grande número de subnotificações.
“Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como covid. Estamos revendo esses óbitos”, afirmou Wizard, em entrevista à Bela Magale, colunista do jornal ‘O Globo’.
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Para a jornalista, o membro do Ministério da Saúde ainda destacou que o número de mortos no Brasil seria menor que o divulgado até agora. “Eu acredito que vai ter um dado mais real, porque o número que temos hoje está fantasioso ou manipulado”.
O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, repudiou com “veemência e indignação” e chamou de “levianas afirmações, as declarações do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.
Beltrame afirma que há uma tentativa “autoritária, insensível, desumana e anti-ética” de dar invisibilidade aos mortos pelo coronavírus. “Não prosperará. Nós e a sociedade brasileira não os esqueceremos e tampouco a tragédia que se abate sobre a nação”, completou.
Beltrame rebateu as acusações de Wizard. “Ao afirmar que secretários de Saúde falseiam dados sobre óbitos decorrentes da Covid-19 em busca de mais ‘orçamento’, o secretário além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias”, afirmou.
“Wizard menospreza a inteligência de todos os brasileiros, que num momento de tanto sofrimento e dor, veem seus entes queridos mortos tratados como “mercadoria”. Sua declaração grosseira, falaciosa, desprovida de qualquer senso ético, de humanidade e de respeito, merece nosso profundo desprezo, repúdio e asco”, afirmou Beltrame.
A possibilidade de recontagem dos números pelo governo Bolsonaro também provocou reações de outras entidades de fora da área da Saúde. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, disse em seu perfil no Twitter: “Ministério da Saúde não adverte mais. Acéfalo e militarizado, presta-se ao papel de empoeirar e retardar informações sérias sobre a pandemia, apenas para satisfazer o apetite conspiratório do presidente e sua batalha pessoal contra a imprensa livre. Um perigoso e letal vexame”.
Estado com o maior número de casos confirmados e mortes do país, o governo de São Paulo diz que “irá manter os critérios para contabilização de casos e óbitos, bem como sua divulgação no período da tarde, com absoluta transparência, como vem ocorrendo durante toda a pandemia.”
“O Governo do Estado de São Paulo tem como premissa fundamental, em todas as suas ações, a transparência. As estatísticas são cadastradas nos sistemas de informação do próprio Ministério da Saúde, seguindo diretrizes do órgão. As divulgações de São Paulo levam em conta o número de casos e óbitos confirmados laboratorialmente por serviços devidamente aptos a fazer diagnósticos”, afirmou a gestão Doria.