Governo Bolsonaro vai recontar mortos por covid-19 e gera revolta

Apesar da sabida subnotificação, o governo justifica a recontagem dizendo que haveria óbitos a mais

06/06/2020 17:56

O Ministério da Saúde, afirmou que irá recontar o número de mortos no Brasil vítimas da covid-19 e revoltou os secretários de Saúde do país, neste sábado, 6. Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos da pasta, Carlos Wizard, os dados atuais seriam “fantasiosos ou manipulados”.

Governo Bolsonaro vai recontar mortos por covid-19 e gera revolta
Governo Bolsonaro vai recontar mortos por covid-19 e gera revolta - Fotos Públicas

Wizard afirmou que o número de mortos, que ontem chegou a 35.026 pessoas, conforme dados oficiais, estaria inflado. O bolsonarista desconsiderou que o próprio Ministério da Saúde já admitiu que há um grande número de subnotificações.

“Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como covid. Estamos revendo esses óbitos”, afirmou Wizard, em entrevista à Bela Magale, colunista do jornal ‘O Globo’.

Para a jornalista, o membro do Ministério da Saúde ainda destacou  que o número de mortos no Brasil seria menor que o divulgado até agora. “Eu acredito que vai ter um dado mais real, porque o número que temos hoje está fantasioso ou manipulado”.

O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, repudiou com “veemência e indignação” e chamou de “levianas afirmações, as declarações do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde.

Beltrame afirma que há uma tentativa “autoritária, insensível, desumana e anti-ética” de dar invisibilidade aos mortos pelo coronavírus. “Não prosperará. Nós e a sociedade brasileira não os esqueceremos e tampouco a tragédia que se abate sobre a nação”, completou.

Beltrame rebateu as acusações de Wizard. “Ao afirmar que secretários de Saúde falseiam dados sobre óbitos decorrentes da Covid-19 em busca de mais ‘orçamento’, o secretário além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias”, afirmou.

“Wizard menospreza a inteligência de todos os brasileiros, que num momento de tanto sofrimento e dor, veem seus entes queridos mortos tratados como “mercadoria”. Sua declaração grosseira, falaciosa, desprovida de qualquer senso ético, de humanidade e de respeito, merece nosso profundo desprezo, repúdio e asco”, afirmou Beltrame.

A possibilidade de recontagem dos números pelo governo Bolsonaro também provocou reações de outras entidades de fora da área da Saúde. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, disse em seu perfil no Twitter: “Ministério da Saúde não adverte mais. Acéfalo e militarizado, presta-se ao papel de empoeirar e retardar informações sérias sobre a pandemia, apenas para satisfazer o apetite conspiratório do presidente e sua batalha pessoal contra a imprensa livre. Um perigoso e letal vexame”.

Estado com o maior número de casos confirmados e mortes do país, o governo de São Paulo diz que “irá manter os critérios para contabilização de casos e óbitos, bem como sua divulgação no período da tarde, com absoluta transparência, como vem ocorrendo durante toda a pandemia.”

“O Governo do Estado de São Paulo tem como premissa fundamental, em todas as suas ações, a transparência. As estatísticas são cadastradas nos sistemas de informação do próprio Ministério da Saúde, seguindo diretrizes do órgão. As divulgações de São Paulo levam em conta o número de casos e óbitos confirmados laboratorialmente por serviços devidamente aptos a fazer diagnósticos”, afirmou a gestão Doria.