Hamburgueria apelida sanduíche de ‘Maria da Penha’ e é detonada
O estabelecimento fez questão de grifar as palavras "olho roxo" ao detalhar os ingredientes do hambúrguer
Uma hamburgueria da cidade de Salto, no interior de São Paulo, gerou revolta nas redes sociais e acabou se tornando alvo de críticas dos internautas após lançar um novo sanduíche, apelidado de “Maria da Penha”, segundo informou o site Metrópoles.
A escolha do nome em alusão à mulher que deu origem à lei homônima não agradou os consumidores, e a Kau Hamburgueria passou a ser detonada nos comentários do Facebook e Instagram, o que fez com que a empresa deletasse seus perfis nas respectivas plataformas.
O dono do estabelecimento chegou a alterar o nome do hambúrguer para “Censurado”, em alusão à “censura” que teria ocorrido por parte do público ao nome original do produto.
Por fim, em uma terceira alteração, ele rebatizou o sanduíche como “Um lanche com repolho”.
Por meio de sua conta no Twitter e no Facebook, ele afirmou que a decisão de retirar as redes sociais da hamburgueria do ar ocorreu “devido a ataques virtuais – [que] para mim, é quase um vírus, onde o que importa é o engajamento e não a solução dada – que pensam que os meios justificam os fins. Me cobram respeito, e o que menos demonstram, é o requerido”, escreveu.
Um outro detalhe que chamou a atenção do público foi que, na parte dos ingredientes que compõem o sanduíche, leva-se repolho roxo. No entanto, o estabelecimento fez questão de grifar “olho roxo”, no que foi entendido como deboche à violência sofrida pelas mulheres por seus respectivos parceiros, que, não raro, as deixam com os olhos roxos, além de outros hematomas.
ATUALIZAÇÃO
Em nota enviada à Catraca Livre, a Kau Hamburgueria informa que “gostaria de se retratar a todas as pessoas que se sentiram ofendidas em relação ao nome dado a um dos burgers presentes no cardápio, o Maria da Penha”.
Ainda, o estabelecimento disse ter havido um “equívoco em relação à escolha do nome” e pediu desculpas pelo ocorrido. “Em momento algum desejamos ser desrespeitosos com qualquer mulher, sendo ou não frequentadora do nosso espaço”.
“A Kau Hamburgueria – assim como seus proprietários – NÃO COMPACTUA com qualquer tipo de violência, sob qualquer premissa, a qualquer ser humano. Nosso cardápio foi alterado e, assim, reiteramos nossos mais sinceros pedidos de desculpas”, completou.
Violência contra a mulher
O Ministério dos Direitos Humanos (MDH) divulgou em agosto o balanço do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher -, com os dados referentes ao período de janeiro a julho de 2018, e que opera, de forma gratuita, 24 horas por dia, todos os dias da semana, inclusive em feriados e finais de semana.
De acordo com os dados do relatório, no período que compreende os meses de janeiro a julho de 2018, o Ligue 180 registrou 27 feminícidios, 51 homicídios, 547 tentativas de feminicídios e 118 tentativas de homicídios. No mesmo período, os relatos de violência chegaram a 79.661, sendo os maiores números referentes à violência física (37.396) e violência psicológica (26.527).
Entre os relatos de violência, 63.116 foram classificadas como violência doméstica. Os dados abrangem cárcere privado, esporte sem assédio, homicídio, tráfico de pessoas, tráfico internacional de pessoas, tráfico interno de pessoas e as violências física, moral, obstétrica, patrimonial, psicológica e sexual. Para ver o estudo completo basta clicar aqui.
Quem é Maria da Penha?
Maria da Penha Maia Fernandes é uma farmacêutica brasileira, natural do Ceará, que foi vítima de tentativa de feminícidio em duas ocasiões, provocadas por seu ex-marido, o colombiano naturalizado brasileiro Marco Antonio Heredia Viveros. Em decorrência das violências sofridas, ela perdeu o movimento das pernas.
Sua luta por justiça se tornou um marco no país e seu nome acabou dando origem a lei 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha, sancionada pelo ex-presidente Lula em 2006.
A lei cria mecanismo para coibir a violência familiar contra a mulher, é considerada uma das três mais eficazes no mundo no combate à violência doméstica, e já ajudou milhares de mulheres no Brasil.
Em entrevista à Catraca Livre em março de 2017, Maria da Penha avaliou a criação da lei como positiva, e disse que “as falhas existentes não estão na lei em si, mas nos aplicadores”.
“São falhas oriundas da cultura machista. Alguns delegados, promotores e juízes ainda deixam que o machismo intrínseco na sociedade tenha uma interferência negativa nos casos que julgam”, pontuou.
Para a cearense, o maior desafio da lei é que os gestores públicos sejam mais comprometidos em criar políticas para apoiar e orientar as vítimas. Além disso, é preciso que as delegacias da mulher funcionem 24 horas por dia, durante toda a semana, nas grandes cidades.
Atualmente aos 73 anos, Penha não deixou a luta de lado, e continua na militância feminista atuando por meio da imprensa, ao divulgar sua história e debater os casos de violência contra a mulher, além de palestras em instituições.