‘Investigação do caso Marielle está em um labirinto’, diz Anistia

Oito meses após o assassinato da vereadora, a organização divulgou um relatório que aponta questões graves não respondidas sobre o caso

Marielle Franco foi assassinada em 14 de março
Créditos: Reprodução / Facebook Marielle Franco
Marielle Franco foi assassinada em 14 de março

Na noite do dia 14 de março, Marielle Franco foi morta a tiros no bairro do Estácio, região central do Rio de Janeiro. O motorista que dirigia o veículo, Anderson Gomes, também morreu na hora. Nascida e criada na favela da Maré, a vereadora do PSOL tinha 38 anos de idade e atuava há mais de dez anos defendendo os direitos humanos.

Oito meses após o assassinato, a Anistia Internacional divulgou um relatório que reúne informações veiculadas publicamente sobre o caso. As investigações estão sob sigilo. Intitulado “O labirinto do caso Marielle Franco“, o objetivo do levantamento é apontar questões graves que não foram respondidas, possíveis incoerências e contradições, e ainda questionar o posicionamento das autoridades competentes.

Segundo Renata Neder, coordenadora de pesquisa da Anistia Internacional no Brasil, o padrão é “chocante” olhar para o que já foi divulgado sobre as investigações e ver que “o padrão foi de inconsistências, incoerências e contradições”.

“As autoridades não respondem às denúncias graves que vieram à tona e, quando se pronunciam, parecem não se responsabilizar pelo que dizem. Marielle era uma figura pública, uma vereadora eleita. Seu assassinato é um crime brutal e as autoridades não estão respondendo adequadamente”, declarou Neder.

O documento divide as informações em cinco categorias: disparos e munição, a arma do crime, os carros e aparelhos usados e as câmeras de segurança, procedimentos investigativos e o andamento das investigações. Os blocos trazem 16 perguntas ainda não respondidas pelas autoridades, como, por exemplo, sobre o desligamento das câmeras de segurança do local do crime dias antes.

A instituição ressalta que, mesmo sem respostas adequadas, as informações divulgadas apontam que o assassinato de Marielle foi planejado e que pode ter envolvido a participação de agentes do estado e das forças de segurança.

Entre os questionamentos citados no relatório da Anistia, estão:

Disparos e Munição

  • A munição pertence mesmo ao mesmo lote utilizado em uma chacina em São Paulo em agosto de 2015?
  • Como ele foi extraviado da Polícia Federal e por quem?
  • Como esta munição chegou ao Rio de Janeiro?
  • Qual a relação com o grupo de extermínio de São Paulo?

Arma do crime

  • Como as 5 submetralhadoras HK-MP5 sumiram do arsenal da Polícia Civil? Quem são os responsáveis?
  • O que foi feito para aumentar o controle das armas pertencentes ao Estado?

Carros, aparelhos e câmeras de segurança utilizados

  • O aparelho luminoso usado dentro do carro utilizado pelos criminosos que mataram Marielle era um celular?
  • Quem clonou as placas do carro e onde isso aconteceu?
  • Quem desligou as câmeras?
  • De onde os carros vieram e para onde foram?
  • O restante do trajeto dos carros não foi mapeado?

Procedimentos investigativos

  • Os procedimentos seguiram os padrões necessários ou houve negligência ou tentativa de fraude?
  • O que as autoridades tem a dizer sobre informações veiculadas que sugerem uma inconformidade com o devido processo legal?
  • As investigações estão próximas do fim?
  • As investigações estão andando devidamente te ou estão sendo atrapalhadas, inclusive por agentes do Estado?

Confira aqui o relatório na íntegra.