Jacarezinho: Clã Bolsonaro se solidariza policial morto e ignora outras 24 vítimas

Filhos do presidente se solidarizam com o único policial morto durante a operação sem mencionar as vítimas da ação da Polícia Civil.

Os filhos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usaram as redes sociais para se solidarizarem com o único policial morto durante a operação na comunidade do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, na manhã desta quinta-feira, 6. Ao todo, 25 pessoas morreram.

Em nenhuma das mensagens publicadas pelo senador Flávio Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro mencionaram uma palavra sequer sobre as vítimas da polícia, a não ser Eduardo, que classificou todos como ‘bandidos’.

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Créditos: © Marcelo Camargo/Agência Brasil
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“Meus sentimentos à família do Inspetor de Polícia André Leonardo de Mello Frias, que tombou na honrada missão de defender nossa sociedade do crime organizado. Dar a vida pela nossa segurança não é para qualquer um, é para corajosos e vocacionados! Que Deus o tenha”, escreveu o senador.

O vereador Carlos Bolsonaro fez um comentário no mesmo sentido, se solidarizando com o policial e ignorando os outros 24 mortos. “Meus sentimentos à família do Policial alvejado e assassinado em troca de tiros com traficantes na data de hoje no Jacarezinho – RJ”, escreveu no Twitter.

Já Eduardo Bolsonaro generalizou a situação e chamou todas as vítimas da chacina de ‘bandidos’. “Não surpreende ver deputados do PSOL defendendo bandido enquanto policial tomba em serviço”.

Ação no Jacarezinho é a mais letal do Rio

A  Operação Exceptis,, da Polícia Civil, que durou cerca de 9 horas e assustou moradores da comunidade, deixou 25 mortos. A ação é classificada como a mais letal da história da cidade do Rio de Janeiro.

A polícia alega que todos os 24 eram criminosos, mas não revelou as identidades ou as circunstâncias em que foram mortos, apenas divulgou que o policial que faleceu era André Leonardo de Mello Frias, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod)

Uma única operação da Polícia no Rio deixa 24 civis mortos
Créditos: Reprodução
Uma única operação da Polícia no Rio deixa 24 civis mortos

As cenas com corpos espalhados por diversos pontos da comunidade causaram indignação de moradores e internautas.

No Twitter, a hastag #Bandido e # 25 MORTOS estavam entre os assuntos do momento, com 36,6 mil e 21,8 mil tweets, respectivamente. A grande maioria dos comentários  questionava a operação policial.

“Suspeitos do quê? Por quê? Qual é a base para acusá-los? Apenas o fato de que foram mortos? E, se fossem suspeitos – não eram –, não teriam então direito de defesa num tribunal? E, se fossem condenados, não é que no Brasil não existe pena de morte? #ChacinaDoJacarezinho”

” Como você vai explicar pra uma criança de comunidade que o bandido é o vilão e o policial que entra na favela atirando, esculachando morador e matando inocente é o super herói da história???”, escreveu um internauta.

“Se é 25 suspeitos não é bandido, e se fosse bandido era para ta passando pelo processo legal que existe nesse país, julgamento e etc, não assassinato. Fora o requinte de crueldade de colocar um corpo morto chupando dedo numa cadeira para intimidar morador”, questionou a ação outra internauta.

“Essa imagem nunca poderia ser na Sta. Cecília ou em Laranjeiras. O espelho redondo ou as plantas podem enganar, mas isso é em Jacarezinho, bairro onde a polícia entra, mata e vai embora. Onde todo mundo é bandido, preto, pobre e favelado. Mais um dia triste. #ChacinaDoJacarezinho”, indagou outro.

” Bobo é quem acredita que a Polícia entra na favela pra “prender bandido”, escreveu outro internauta.

Ação mais letal do Rio

Um levantamento feito pelo G1 com dados do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni) da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da plataforma Fogo Cruzado aponta que a operação de hoje é a mais letal da história do Rio de Janeiro.

Para o sociólogo Daniel Hirata, do Geni/UFF, a operação é inaceitável e mais grave do que chacinas como a de Baixada Fluminense, em 2005, ou a de Vigário Geral, em 1993. Leia mais aqui.