Jovem negro de 16 anos é espancado em mercado na zona sul de SP
"Um menino de 57 quilos covardemente espancado na frente de dezenas de pessoas e ninguém fez nada", disse a mãe da vítima
Um adolescente negro de 16 anos foi espancado por seguranças de um mercado no Jabaquara, zona sul de São Paulo, na noite do último domingo, dia 11. A microempresária Luciana Cruz, mãe da vítima, denunciou o caso de agressão pelo Facebook.
Ao Catraca Livre, ela contou que o filho consumiu um chocolate e um salgadinho e estava saindo do Pão de Açúcar sem pagar. “Foi um ato sem pensar. Ele foi errado? Foi. Mas, quando os seguranças o abordaram, ele disse: ‘Eu sei o que fiz. Tenho dinheiro e vou pagar’. Mas, mesmo assim, eles quiseram o levar para uma sala supostamente para conversar”, afirma.
Ao perceber o que poderia acontecer, o rapaz disse que não iria para a sala e tentou se desvencilhar dos dois funcionários. “Meu filho ameaçou gritar, mas mesmo na frente de todos os clientes, um dos homens o jogou no chão e outro o chutou. Eles deram socos no nariz, na cabeça, na barriga e na perna. Então, chegou um terceiro segurança que estava com uma arma de airsoft no bolso e começou a atirar em seu rosto.”
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Enquanto o jovem era espancado, os funcionários o xingavam de “favelado” e “moleque da quebrada”. “Diziam que conheciam o tipo dele. Ele pedia por favor para parar, que sua mãe fazia compras lá e que morávamos perto. Será que se ele fosse um menino branco teria acontecido isso? Até quando vidas negras serão pré-julgadas?”, questiona Luciana.
Após 10 minutos de agressão, a vítima pagou os produtos e encontrou um amigo, que tirou satisfações com os seguranças e também foi agredido verbalmente. Em seguida, os dois saíram do mercado. A mãe chegou em casa na segunda-feira, dia 12, e encontrou o filho machucado.
Assim que descobriu a violência vivida pelo garoto, Luciana foi até o Pão de Açúcar para tirar satisfações. Depois, levou o rapaz até a delegacia para registrar um boletim de ocorrência e também ao hospital. “Um menino de 57 quilos covardemente espancado na frente de dezenas de pessoas e ninguém fez nada. Seu crime foi ter comido uma barra de chocolate e um Doritos, pago por ele depois da agressão”, escreveu a microempresária na rede social.
“Dói relatar isso. Dói expor, mas dói mais é ficar calada. Já fizemos BO e processaremos o Pão de Açúcar, mas a dor de ver seu filho como sempre perseguido por seguranças (isso sempre foi rotineiro em nossas vidas) é enorme”, completou.
Procurado, o mercado enviou uma nota de esclarecimento. Leia abaixo:
“A rede informa que não tolera atos de violência e que repudia veementemente qualquer comportamento desse tipo em suas lojas. A conduta relatada não condiz com o procedimento exigido pela companhia, realizado pela equipe de segurança terceirizada contratada. Assim que tomou conhecimento do caso, a rede instaurou um processo interno de apuração, notificando a empresa a prestar todos os esclarecimentos e afastando imediatamente os envolvidos, até que o caso seja esclarecido junto aos órgãos competentes. Além disso, procedeu com o reforço dos processos internos de conduta.”
A empresa Comando G8, responsável pela segurança da loja do Jabaquara, também emitiu um comunicado oficial sobre o caso. Confira:
“O Grupo G8 Comando, empresa que atua há 12 anos no segmento de segurança patrimonial, esclarece que não adota ou compactua com qualquer ato que ofenda a integridade física alheia nas operações de qualquer um de seus mais de 200 clientes. A empresa tem ainda uma escola de formação que não apenas treina profissionais para trabalhar com segurança patrimonial, como recicla periodicamente seus conhecimentos em busca de aperfeiçoamento contínuo. Além disso, o Grupo tem como missão maior a proteção da integridade física e do patrimônio alheio.
O Grupo não tolera qualquer suspeita de desvio de conduta de seus colaboradores e, ainda em respeito às políticas exigidas pelo Pão de Açúcar para os seguranças em suas lojas, desligou imediatamente os três colaboradores envolvidos no relato da unidade do Jabaquara. Paralelamente a essa decisão, a companhia abriu uma sindicância interna para apurar o ocorrido e tomar as demais medidas necessárias. O Grupo salienta ainda que trabalha dentro das determinações da lei 7102 e que não opera com armas de air soft, fato que também será investigado pelas partes. Por fim, a empresa reforça que a abordagem ocorreu no momento em que o jovem saía da loja com itens não pagos e que lamenta qualquer postura que tenha sido tomada por seus funcionários em total desacordo com as políticas do Grupo G8 e exigidas pelo Pão de Açúcar.”
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