Mãe denuncia expulsão de filha trans de escola em Fortaleza

"Simplesmente a expulsaram, a enxotaram. Lara e nós, seus pais, nunca nos sentimos tão constrangidos e humilhados", diz Mara Beatriz

No Facebook, a mãe relatou o caso de transfobia na escola

O relato de uma mãe sobre um caso de transfobia na Escola Educar Sesc, ligada ao Sistema Fecomercio, em Fortaleza (CE), repercutiu nas redes sociais nesta quarta-feira, 22. No post, a jornalista Mara Beatriz afirma que Lara, sua filha trans de 13 anos, foi expulsa do colégio nesta terça-feira, 21, sem qualquer justificativa, em uma clara “prática transfóbica”.

Ao Catraca Livre, a mãe contou que a jovem começou a estudar na escola aos 2 anos de idade. “Nós a matriculamos lá porque acreditávamos que eles tinham um projeto pedagógico construtivista e inclusivo. Isso muito tempo antes de saber que Lara é uma menina trans, pois queríamos que ela tivesse essa visão de mundo sobre a diversidade”, diz.

Desde o início da transição, em 2016, Lara tem sido muito respeitada pelos colegas, que a apoiaram em todo o processo até agora. “Um ou outro caso isolado de bullying nós relatamos para a direção da escola e sugerimos que eles oferecessem palestras sobre o tema para conscientizar os alunos, mas a instituição nunca se mostrou interessada em apoiar esses eventos”, explica Mara.

Além disso, segundo a jornalista, o colégio não vinha respeitando a resolução que garante o reconhecimento e adoção do nome social em instituições e redes de ensino de todos os níveis e modalidades, bem como o uso do banheiro de acordo com a identidade de gênero de cada pessoa.

“Depois, a impediram de pegar a carteirinha de estudante com o nome social (como a Etufor garante) porque se negaram a confirmar a matrícula dela, o que causa danos morais e também financeiros, uma vez que ela não pode exercer seu direito à meia-entrada”, conta.

Mas, na reunião desta terça, após solicitar que o colégio ajude a resolver esses casos diários de transfobia, a família recebeu a notícia da expulsão. “Nós fomos recebidos por outras pessoas, sem ser a coordenadora e a diretora que já conhecemos, que afirmaram que entendem a nossa situação, mas a escola não tem como fazer certos ajustes e recomendaram que a gente procure outra escola ‘adequada para receber a Lara em 2018′”.

“Simplesmente a expulsaram, a enxotaram. Lara e nós, seus pais, nunca nos sentimos tão constrangidos, humilhados, diminuídos, desrespeitados”, finaliza a mãe, que registrou um B.O. na Delegacia de Combate a Exploração da Criança e Adolescente (DECECA).

Posicionamento

Em nota, o Sistema Fecomércio-CE e a Escola Educar Sesc de Ensino Fundamental pediram desculpas à família de Lara e lamentaram qualquer atitude “fruto de preconceito ou desconhecimento que tenham causado sofrimento” à adolescente.

“A direção do Sistema determinou imediata apuração e tomada de providências para o acolhimento da aluna, bem como a adoção de protocolos para que fatos semelhantes não voltem a acontecer. Reforçamos que a aluna tem a matrícula assegurada para 2018, como todos os estudantes veteranos da Escola Educar Sesc de Ensino Fundamental”, diz o texto.

Veja o relato de Mara na íntegra:

https://www.facebook.com/marabeatriz.m/posts/10208500191661507

Transição e apoio

Segundo Mara Beatriz, até o ano passado, Lara apenas tinha contado aos pais que gostava de meninos e, por isso, eles entendiam que ela era um garoto gay. Mas, em 2017, após perceber mudanças no comportamento da filha, a mãe decidiu conversar com ela a respeito.

“Lara me disse que se identificava com o universo feminino e que se sentia uma menina trans. Nós demos todo o apoio possível e procuramos acompanhamento em um centro de referência LGBT para iniciar a transição. Antes, ela era um menino retraído e relatava que sentia que tinha algo de errado com ela”, afirma.

Para a jornalista, o primeiro acolhimento das pessoas trans tem que ser dentro de casa. “O conselho que eu dou para as mães e pais é: amem seus filhos, exatamente como eles são, porque eles tendo esse apoio, podem ser adultos capazes de enfrentar qualquer dificuldade”, ressalta.

Mara pontua, ainda, que é extremamente importante lutar pelos direitos das pessoas trans, principalmente no ambiente escolar, para que elas tenham condições de ser quem elas quiserem. “A escola é o lugar que mais deveria acolher, pois é onde estão os educadores e as pessoas que estão formando o nosso futuro.”

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