Mandetta diz que alertou sobre 180 mil mortes, e Bolsonaro negou

Em entrevista a Pedro Bial, ex-ministro disse que Bolsonaro reagiu a alertas com negação e raiva

25/09/2020 10:08

O ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), disse que chegou a alertar o presidente Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de o Brasil atingir 180 mil mortes por covid-19, mas teve uma postura negacionista como resposta.

“Eu nunca falei em público que eu trabalhava com 180 mil óbitos se nós não interviéssemos, mas para ele [Bolsonaro] eu mostrei, entreguei por escrito, para que ele pudesse saber da responsabilidade dos caminhos que ele fosse optar. Foi realmente uma reação bem negacionista e bem raivosa”, contou Mandetta em entrevista ao programa “Conversa com Bial” na madrugada desta sexta, 25.

Mandetta diz Ministério da Saúde foi alvo da ira de Bolsonaro
Mandetta diz Ministério da Saúde foi alvo da ira de Bolsonaro - reprodução/TV Globo

O ex-ministro usou o conceito psiquiátrico das fases do luto para explicar a postura de Bolsonaro: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. “Eu simbolizava a notícia e ele ficou com raiva do ‘carteiro’, ficou com raiva do Ministério da Saúde.”

Depois da negação e da raiva, segundo Mandetta, o presidente entrou na fase do apelo a algo sobrenatural. “Ele se apegou àquela cantilena de pessoas que vão ao seu redor e começam a falar o que ele queria escutar”, afirmou.

“Me lembro de uma pessoa da saúde pública, um ex-parlamentar, que falava que só iria ter três mil óbitos e duraria só quatro semanas. Daí veio a história da cloroquina e foi uma válvula de escape para ele”, lembrou.

Essas e outras revelações estão no livro que Mandetta está lançando, “Um paciente chamado Brasil: Os bastidores da luta contra o coronavírus”, em que conta detalhes do que aconteceu durante sua gestão à frente do Ministério da Saúde.