‘Me sinto bonita e forte’, diz educadora após agressão no Rio
Em tratamento contra o câncer de mama, Deborah Lourenço foi agredida por um guardador de carros após ser confundida com homossexual
Em tratamento contra o câncer de mama, a educadora Deborah Lourenço, de 31 anos, relatou ter sido vítima de uma agressão verbal e física no centro do Rio de Janeiro neste sábado, 24. O caso repercutiu após o post compartilhado por seu marido, Jorge Lourenço, viralizar no Facebook.
A educadora voltava na sessão de radioterapia, acompanhada pela mãe, quando foi confundida por um guardador de carros com homossexual por causa do cabelo curto. “Ela foi empurrada, ameaçada e xingada de ‘viado de merda’ por essa pessoa depois de sair do carro. A situação só não foi pior porque o [outro] guardador de carros impediu”, escreveu o marido na publicação, que teve mais de 31 mil curtidas.
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Em entrevista à Catraca Livre, Deborah contou que não achou difícil lidar com a situação, pois “este é um problema de quem julga os outros com base na aparência”. “Eu me sinto muito bonita sem cabelo. Cabelo curto também está associado a muita força. Eu me sinto forte por dentro e esse cabelo passa a imagem de quem eu sou”, ressaltou.
“Talvez isso teria me afetado se tivesse acontecido assim que eu fui diagnosticada, logo depois que perdi minha mama ou quando meu cabelo caiu, momentos em que eu estava muito mais frágil. Esse episódio foi 30 segundos de um dia que, tirando isso, foi maravilhoso, como tem sido a maioria deles, mesmo com esse diagnóstico aos 30 anos de idade”, completou ela.
Segundo a educadora, essa foi a primeira vez que ela sofreu agressão desde o início do tratamento. No entanto, já tinha notado olhares de desaprovação. “Enquanto eu estava sem cabelo e sobrancelha, com a típica cara de paciente de quimioterapia, eu sentia as pessoas e olhando com pena, algumas com curiosidade e outras até com algum medo.”
A partir da fase em que seu cabelo começou a crescer e seu corpo desinchou, ficando com “menos cara de doente”, os olhares se tornaram “de confusão”. “Em algumas pessoas, um olhar de agressividade. Eu cheguei a comentar com meus pais que um homem me olhou e franziu a testa. A minha interpretação é de que ele não aprovou o meu cabelo ou de que ele interpretou a minha aparência como algum marcador de identidade de gênero ou sexualidade.”
“Eu decidi postar sobre o caso na rede social porque ela tem sido um registro da minha vida nessa época. Ninguém espera ter câncer aos 30 anos. É uma forma de eu ver as fases que eu vivi e o quanto já avancei ao longo do tratamento. Essa é parte da minha história, por mais triste que seja ser ofendida”, explicou Deborah sobre a decisão de denunciar o ocorrido.
A vítima ainda não registrou boletim de ocorrência, mas diz que pretende fazê-lo nos próximos dias.