Movimentos online pedem impeachment de Bolsonaro
Brasileiros assinam petições online por entender que presidente está sendo perigosamente irresponsável para lidar com a crise da pandemia do coronavírus
Além dos panelaços, que têm se tornado constantes, os brasileiros estão se engajando em outras formas de protesto para pedir a saída do presidente Jair Bolsonaro. Em meio à crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, milhares de pessoas estão se juntando a mobilizações online, a favor do processo de impeachment, por acreditar que a sociedade pode enfrentar uma situação muito pior caso ele permaneça à frente das decisões no país.
Pelo menos quatro pedidos de afastamento já foram protocolados em Brasília por políticos e juristas, restando ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), dar andamento a eles. Na internet, uma campanha reúne milhares de brasileiros requerendo, justamente, que Maia não trave a tramitação dos processos. A petição foi aberta pelo professor universitário Daniel Tourinho Peres na plataforma de abaixo-assinados Change.org.
“O país está vivendo a sua maior crise, em que não se sabe quantos irão perder suas vidas”, aponta Peres. “É claro que se tem consciência de todas as dificuldades que um processo como este enfrenta. Mas ele deve estar lá, na mesa”, pondera. Para o professor, que dá aulas na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Bolsonaro pode atrapalhar todo o esforço da sociedade civil e dos servidores públicos para achatar a curva de crescimento do vírus.
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Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde, o país tinha, até o final da tarde desta quarta-feira, 1º, 6.836 casos confirmados e 240 mortes pela Covid-19. A quantidade de pessoas infectadas e mortas cresce a cada dia e, como o Brasil ainda está no começo da subida da curva, especialistas enfatizam a importância do cumprimento das medidas de prevenção para evitar mortes e um possível colapso do sistema de saúde.
Além de criar o abaixo-assinado, Peres, assim como outros professores, intelectuais e artistas, também assinou a petição apresentada por deputados federais do PSOL – David Miranda (RJ), Sâmia Bomfim (SP) e Fernanda Melchionna (RS). O manifesto, que atingiu 1 milhão de assinaturas, foi protocolado nesta terça (31/3) na Câmara dos Deputados. As mobilizações crescem em sinal de repúdio ao comportamento de Bolsonaro diante da crise.
Os protestos começaram a aquecer depois que o presidente, em retorno de viagem aos Estados Unidos, descumpriu ordens médicas para permanecer em isolamento e foi cumprimentar manifestantes na porta do Palácio do Planalto. Depois, ganharam ainda mais força quando, durante pronunciamento em rede nacional no último dia 24, Bolsonaro chamou a pandemia de “gripezinha” e “resfriadinho”, incentivando as pessoas a saírem do isolamento.
“Seria ótimo que simplesmente pudéssemos colocar o senhor Bolsonaro de ‘castigo’, no ‘canto da vergonha’”, comenta o professor Peres sobre a necessidade de, com um processo de afastamento, “parar os estragos” causados pelos discursos do presidente. As falas de Bolsonaro estão sendo consideradas irresponsáveis e em descompasso com as orientações pregadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a expansão da pandemia.
Crise de saúde, crise econômica
Fora o caos na saúde pública, outro temor dos brasileiros frente à pandemia é a crise econômica gerada por demissões e encerramento temporário das atividades de autônomos em quarentena. Em seu último pronunciamento, nesta terça, 31, Bolsonaro foi acusado de distorcer e omitir trechos do discurso do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, sobre a necessidade de “ganha pão” dos trabalhadores informais em meio à situação de isolamento.
O presidente recorreu à fala de Tedros para tentar respaldar seu posicionamento a favor de os brasileiros retomarem seus postos de trabalho para não ficarem sem dinheiro. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, porém, chamou a atenção dos governos para a adoção de medidas que garantam o bem-estar dos cidadãos que estão perdendo renda e precisam de apoio para comida, saneamento e outros serviços essenciais durante a crise.
“Bolsonaro não apenas trabalha contra os esforços da equipe de saúde, como o seu governo retarda, de modo criminoso, em tomar as medidas econômicas que já são consensualmente reconhecidas como imperativas”, destacou o professor Peres em atualização postada na página da petição, ainda no dia seguinte ao primeiro discurso do presidente. O docente elencou, na ocasião, importantes ações econômicas a serem praticadas pelo governo.
Entre as medidas para resguardar tanto a saúde quanto a vida financeira dos cidadãos mais necessitados, o autor do abaixo-assinado ressalta: criação de renda básica; oferta de crédito para micro, pequenas e médias empresas; revisão dos supersalários do serviço público; suspensão por três meses de pagamento de prestação de financiamento da casa própria; e outras. “O que importante é que se comece logo. E de modo claro, transparente”, diz.
Ações de enfrentamento ao coronavírus
Na segunda-feira, 30, o Senado Federal aprovou um projeto para conceder auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais de baixa renda pelo período de crise. O presidente, entretanto, ainda precisa sancionar a medida para que o benefício passe a valer.
Propostas como essa são pauta de diversas campanhas que multiplicam-se na internet em busca de alternativas para proteger a saúde dos brasileiros e ao mesmo tempo assegurar os seus rendimentos financeiros nesse tempo de pandemia. A Change.org lançou um “movimento de enfrentamento ao coronavírus” para dar mais visibilidade a essas causas. Veja.
“Saia ou não o impeachment, é preciso instalar de imediato uma espécie de ‘comitê de salvação pública [no Congresso]’”, sugere Peres, defendendo que tal comitê deva ter poderes para reverter ações do Executivo que se coloquem contra as políticas públicas necessárias.