“Muitos passam pelo que passei, mas poucos abrem a boca”, diz estudante vítima de homofobia

Dez dias após ataque, o estudante Lucas Salvattore se recupera dos ferimentos sofridos e levanta bandeira contra a homofobia

“Muitos já passaram pelo que passei e poucos abrem a boca. O que quero, ao expor o que sofri, é dar um basta à violência contra gays, lésbicas, travestis, transexuais, negros, nordestinos, mulheres. É acabar com toda forma de preconceito”, ressalta o estudante Lucas Salvattore, espancado a pauladas e socos por cinco jovens no último dia 22 de fevereiro, na cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo.

Dez dias depois do ataque, o jovem de 18 anos se recupera dos ferimentos causados na cabeça, embora a maior consequência seja as cicatrizes deixadas pela homofobia.

Para aliviar as dores, Lucas se recupera à base de remédios e calmantes, e ainda busca forças para assimilar o que sofreu. Sua orientação sexual é o que motiva a intolerância e violência que, no Brasil, causam uma morte LGBT a cada 28 horas.

Nesta perspectiva de um país que se recusa a discutir diversidade de gênero e sexualidade, Lucas se nega a ficar calado e, mesmo abalado pelos traumas – físicos e emocionais -, encontra na solidariedade de desconhecidos ou novos companheiros de luta a força para levar adiante.”Me esforço ao máximo para não chorar, ainda que, às vezes, sinta apenas vontade de sumir. Mas o que passei também servirá de incentivo para buscar mudança. Uma pessoa não pode ser atacada na rua por ser gay”.

Campanha nas redes sociais chama atenção para ataque sofrido pelo estudante. No Brasil, uma morte LGBT acontece a cada 28 horas
Campanha nas redes sociais chama atenção para ataque sofrido pelo estudante. No Brasil, uma morte LGBT acontece a cada 28 horas

Volta por cima

Desde que seu depoimento ganhou repercussão nas redes sociais, Lucas tem recebido o apoio – psicológico, motivacional e jurídico –  de ONG’s que atuam no combate à homofobia.”Nunca precisei esconder o que sou. E da mesma forma que estou recebendo todo apoio das ONG’s Mães pela Diversidade, de São Paulo, e LGBT , aqui da minha cidade, quero oferecer o mesmo para outras pessoas”, diz o estudante.

Por segurança e receio de novos ataques, o estudante revela que entrará com processo no Ministério Público para pedir punição aos agressores. “Eu não posso esperar ser atacado novamente ou que um dia entrem em casa e agridam a mim e minha família. É importante que haja alguma punição para que um novo crime não se repita”.

Na última segunda-feira, 29,  o adolescente voltou à escola pela primeira vez após o ataque. Em uma reunião que teve participação da diretora e funcionários da Secretaria de Educação, foram definidos os desdobramentos e medidas que devem ser tomadas – como a discussão sobre diversidade de gênero e sexualidade nas aulas de Sociologia. Um dos agressores, que estudava na mesma escola e sala de Lucas, foi expulso da instituição.

#JustiçaParaLucas 

Além das iniciativas jurídicas e pessoais, a campanha #JustiçaParaLucas chama atenção nas redes sociais para o episódio de violência, com milhares de compartilhamentos. A ação, que ganhou destaque em todo Brasil, é um contraponto ao cenário de intolerância e discriminação vivido – e naturalizado – diariamente. “Quero apenas mostrar às pessoas que todos somos iguais. Que o meu sangue é vermelho igual ao seu”.

Primeiramente Obrigado DEUS!Na Segunda Na Saída Da Escola Pef Lourdes Maria de Camargo, Fui Agredido Por 5 Garotos…

Publicado por Lucas Salvattore em Domingo, 28 de fevereiro de 2016