Mulher é presa em estádio por estar com máscara do Lula na bolsa

A dentista, que tem deficiência motora, foi agredida e detida mesmo após jogar o objeto no lixo

A recifense foi detida mesmo após jogar a máscara do ex-presidente no lixo
Créditos: Ricardo Stuckert
A recifense foi detida mesmo após jogar a máscara do ex-presidente no lixo

A dentista Maria Luiza Maia, nascida em Recife (PE), relatou ter sido agredida e presa por uma policial militar por estar com uma máscara do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao tentar assistir ao jogo Sport x Corinthians, no Itaquerão, zona leste de São Paulo, no último domingo, 17. A recifense, que mora na capital paulista há 6 anos, tem deficiência motora decorrente de um quadro grave de lúpus sistêmico.

Segundo o texto publicado em seu perfil no Facebook, quando foi alertada durante a revista no estádio, Maria Luiza imediatamente jogou a máscara fora. Mesmo assim, foi humilhada ao avisar que tem deficiência e ainda foi empurrada contra o portão de entrada pela policial militar que fazia a revista, momento em que bateu a cabeça.

“Quando a policial me empurrou, gritei para chamar atenção que era deficiente e que não precisava ela me tratar assim. Que eu faria o que ela pedisse. Não adiantou. Ela queria exercer sua autoridade abusivamente. Um outro cabo se interpôs fisicamente para conter a colega e o agradeço pela atitude”, disse a dentista.

“Eu não me recusei a nada, jamais discutiria com PMs, só indaguei que se a máscara era problema e já que eu tinha jogado ela fora, eu queria assistir o jogo. A policial feminina gritava que eu não ia assistir jogo não, que ela era autoridade e fazia o que queria. O sargento masculino disse que eu não era deficiente pra ir ao jogo e que eles iam fazer eu ver o que era ficar deficiente. Mostrei minha carteirinha de deficiente e parece que isso só os fez ter mais raiva e me deram voz de prisão”, contou ela no post.

Maria Luiza afirma que, após a agressão, acordou com úlceras na boca, travada de artrite, olhos inflamados, dor no corpo todo e um galo na cabeça. “Deixo o texto como alerta contra o ódio e a intolerância que está se instalando no Brasil e que não podemos fechar os olhos para esses absurdos”, ressalta a vítima.

A recifense registrou boletim de ocorrência depois do caso.

Veja o relato na íntegra:

“Me chamo Maria Luiza, sou dentista, tradutora, recifense, moro em São Paulo há 6 anos e sou deficiente. Tenho deficiência motora decorrente de um quadro muito grave de lúpus sistêmico.

Ontem tentei assistir ao jogo Sport x Corinthians no Itaquerão e fui presa por estar com uma máscara do Lula DENTRO DA BOLSA.

Estou ainda bastante cansada, confusa e abatida fisicamente e psicologicamente, então reproduzo aqui o resumo que o advogado Luiz Barbosa enviou pelo Whatsapp.

Saliento que fui debochada quando alertei que era deficiente e a PM feminina que fazia a revista me empurrou contra o portão de entrada do estádio, fazendo com que eu batesse a cabeça.

Eu não me recusei a nada, jamais discutiria com PMs, só indaguei que se a máscara era problema e já que eu tinha jogado ela fora, eu queria assistir o jogo. A policial feminina gritava que eu não ia assistir jogo não, que ela era autoridade e fazia o que queria. O sargento masculino disse que eu não era deficiente pra ir ao jogo e que eles iam fazer eu ver o que era ficar deficiente. Mostrei minha carteirinha de deficiente e parece que isso só os fez ter mais raiva e me deram voz de prisão.

Deixo o texto como alerta contra o ódio e a intolerância que está se instalando no Brasil e que não podemos fechar os olhos para esses absurdos.

Depois explico mais, podem perguntar, questionar, acabei de fazer exames de sangue pra ver se está tudo ok, estou me sentindo mal mas foi decorrente do medo e estresse causados.

Acordei com úlceras na boca, travada de artrite, olhos inflamados e dor no corpo todo fora o galo na cabeça da empurrão que a cabo me deu no portão. Meu dia hoje foi perdido decorrente disso.

[9/17, 01:12] adv: boa noite. Estou no 24 DP.

Uma professora do município, residente da Mooca, já havia acionado advogada. Foi lavrado boletim de ocorrência que possivelmente decorrerá para um Inquérito Policial, que tramitará no 65 DP. Foram para o IML de Artur Alvim. 

Foi apreendida e conduzida ao DP por conta de, ao passar pela revista Policial na entrada do estádio do Corinthians, portar na bolsa uma pequena bandeira estilizada do PT. O fato gerou tensionamento com os policiais do que decorreu situação de agressão à professora.

[9/17, 01:12] adv: Permaneço no distrito em função de outra ocorrência similar relacionada à Maria Luiza, está detida no guichê de acesso à torcida do Sport Recife por portar na bolsa uma máscara de Lula. Desse fato decorreu insultos e agressões físicas e verbais à simpatizante da parte dos policiais que a conduziram ao distrito policial onde aguarda ser chamada para depor e expedição de guia de encaminhamento ao IML para exame de corpo de delito.

[9/17, 01:12] adv: Pelo que extraí da conversa com as duas companheiras, concluo como sendo de natureza nitidamente política a ação dos policiais.

[9/17, 01:12]: A professora foi detida e agredida no guichê de acesso à torcida do Corinthians.

Quando a policial me empurrou, gritei para chamar atenção que era deficiente e que não precisava ela me tratar assim. Que eu faria o que ela pedisse. Não adiantou. Ela queria exercer sua autoridade abusivamente. Um outro cabo se interpôs fisicamente para conter a colega e o agradeço pela atitude.

Comuniquei imediatamente aos demais torcedores do Sport Club do Recife que estavam no estádio do ocorrido os quais optaram por minimizar e relevar o ocorrido que foi muito grave. Me senti amedrontada, desamparada e abandonada.

Dado meu histórico de saúde e uso contínuo de anticoagulantes, uma pancada na cabeça representa pra mim risco de vida. Me mantive calma, uma vez cientes do meu estado e que provei ter limitações físicas, a postura truculenta do sargento foi apaziguada e tentaram me tratar bem, oferecendo até bolo. Sendo que antes o próprio disse que eu não era deficiente pra ir ao jogo que se eu dizia que era deficiente eles podiam me fuder e fazer ser uma.

Lamento que os colegas da torcida do Sport em São Paulo não me acompanharam, nem deram importância devida ao fato e fui humilhada por estar sozinha. Uma vez que não tive apoio de quem estava no estádio, enviei mensagens para amigos e graças ao apoio da professora que estava também detida, me fortaleci e permaneci serena.

Agradeço ao advogado enviado pelo PT São Paulo que passou a noite me acompanhando e orientando. E também pela ASCOM do partido pela nota de repúdio e apoio emitida nesta segunda feira.

Quero também salientar que costumo ir a campo assistir jogos do Sport desde criança, sou sócia subscritora, título herdado de meu pai, Severino Ferreira Maia, leão de ouro, ex diretor de futebol e de remo e conselheiro por 5 décadas de nosso amado clube e NUNCA, nunquinha imaginei passar tal situação ao tentar ir a campo. Fui 4 vezes no itaquerão e dessas vezes, só em uma um policial zombou que eu era muito “branquinha” pra ser pernambucana e me deixou passar quando mostrei o RG de Pernambuco.

Não podemos concordar que o ódio gratuito seja institucionalizado. A cabo estava visivelmente “destemperada”, palavra usada na DP por seu superior.

Policiais “destemperados” não podem ser postos para lidar com o público, policiais tem que ser melhor treinados, tem que ter um suporte melhor. Policiais existem para orientar e proteger não para agredir. Eu procuro ter esperança, mas o ocorrido ontem me deixou incrédula.

Fui procurada pela Democracia Corinthiana que é um coletivo fundado por Sócrates e cia na decada de 80 e eles pediram autorização para levar o ocorrido à direção do clube.

Fui procurada também pelo advogado corintiano Renan Bohus que também ofereceu toda e quaisquer ajuda necessária, inclusive jurídica.

Demonstraram preocupação e ofereceram apoio. Não tenho palavras para agradecer.

Infelizmente não recebi o mesmo dos meus conterrâneos.”