Homem negro é acusado de furto e torturado em supermercado no Maranhão
Um homem negro de 35 anos foi mantido em cárcere privado, ameaçado com arma de fogo e torturado por funcionários de um supermercado do Grupo Mateus, em Santa Inês (MA). Ele foi acusado de furto e amarrado por quatro horas dentro de um almoxarifado.
A Polícia Civil do Maranhão prendeu quatro pessoas envolvidas nesse caso na última segunda-feira, 27.
Segundo relato, o homem comprou dois quilos de frango e estava com a nota fiscal do produto quando foi abordado pelos seguranças armados. Ele foi algemado, levado para a sala e preso com um fio metálico, depois fotografado.
Por horas, os funcionários exigiram que ele confessasse um suposto furto.
“Os funcionários, em vez de realizarem o procedimento legal de acionamento da Polícia Militar ou da Polícia Civil, para que ele fosse conduzido e autuado pelo crime de furto, o que eles fizeram foi amarrá-lo, praticar tortura psicológica e ainda tortura física, porque ele foi mantido amarrado em uma barra de ferro, em pé, por quatro horas”, disse o delegado Allan Santos ao UOL.
O carrinho que a vítima estava levando tinha uma sacola em cima e outra na parte de baixo, mas, segundo o delegado, não há comprovação de qualquer furto por meio dos vídeos registrados pelas câmeras de segurança.
Quando foi liberado pelos seguranças, ele prestou queixa do ocorrido.
Outros casos recentes
No meio deste mês, outro homem negro foi acusado de furto e agredido por seguranças em um supermercado, desta vez em Serra (ES). Um cliente filmou o caso e mostrou que o suspeito foi levado a uma salinha do estabelecimento e apanhou de um dos funcionários.
O homem que grava pediu que a polícia fosse chamada para esclarecer o caso, mas foi ignorado. Ele alerta aos seguranças que não é papel de funcionário de supermercado agir como polícia.
No início de dezembro, um vídeo do TikTok viralizou nos Estados Unidos. A gravação mostra uma mulher acusando um homem negro de roubar o seu celular, mas o aparelho estava na bolsa dela.
A cena de racismo teve um desfecho tão irônico que mereceu menção no jornal New York Post.
Como denunciar racismo
Casos como esses estão longe de serem raros no Brasil. Para que eles diminuam, é fundamental que o criminoso seja denunciado, já que racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89. Muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.
Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.
A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.