O milagre de São Rafael
Durante a infância e a adolescência, Flávio José Dionysio tinha dificuldade com a leitura e a escrita. Mantinha-se afastado dos livros. “Não conseguia entender direito o que estava no papel”. Ao chegar à faculdade, sentiu-se ainda mais atormentado diante dos textos passados pelos professores. “Meu vocabulário era muito pobre.” Apesar desse passado, ele se transformou, nesta semana, numa das estrelas da educação do Brasil – e justamente por ajudar estudantes a gostarem de ler.
Desde 2005, ele dirige um colégio (Rita Pinto de Araújo) localizado numa das regiões mais pobres da cidade de São Paulo. Na segunda-feira passada, apareceu em primeiro lugar entre as escolas públicas com 5º ano da capital, de acordo com o índice de educação (Ideb), divulgado pelo Ministério da Educação.
Só para dar uma medida de comparação: o colégio está na frente, com folga, da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da USP, cercada de doutores e especialistas por todos os lados.
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Flávio tinha pouca ajuda para enfrentar a dificuldade com a língua portuguesa. Muito menos em casa. Seus pais são o que se classifica como analfabetos funcionais. Ele persistiu e entrou numa faculdade de pedagogia. “Foi aí que vi o tamanho do meu atraso.” Mas resolveu enfrentar o problema.
Passou a ler tudo o que lhe caía nas mãos, sempre acompanhado de um dicionário. Aos poucos, aumentava sua capacidade de entendimento dos textos e de escrever. Formou-se e seguiu carreira na rede pública de São Paulo. Até chegar, em 2005, a diretor da escola Rita Pinto, no distrito de São Rafael, no topo da lista dos piores indicadores sociais de São Paulo e 9ª maior taxa de analfabetismo funcional da cidade.
Trecho da coluna Urbanidade, publicada no jornal Folha de S. Paulo