‘O senhor não vai me chamar de mentiroso’, diz Bolsonaro sobre Moro

Em pronunciamento cercado por ministros, presidente afirmou que nunca pediu que fosse blindado

24/04/2020 17:43 / Atualizado em 02/05/2020 11:28

O presidente Jair Bolsonaro e ministros durante pronunciamento
O presidente Jair Bolsonaro e ministros durante pronunciamento - Reprodução/TV Brasil

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez nesta sexta-feira, 24, um pronunciamento longo, duro e cheio de mágoas, com respostas diretas ao que seu ex-superministro Sergio Moro afirmara mais cedo, à imprensa, quando anunciou sua demissão e agravou a crise política. Bolsonaro afirmou que a exoneração “a pedido” do ex-diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, foi negociada com ele, e que Moro não pode chamá-lo de “mentiroso”.

Em sua fala, o ex-juiz tinha dito que, diferentemente do que foi publicado no Diário Oficial da União, Valeixo não fora demitido “a pedido”. Também foi firme ao negar ter ciência da exoneração, o que chama a atenção, já que o decreto traz a assinatura eletrônica tanto do presidente quanto do ex-ministro.

Cercado por seus ministros, Bolsonaro rebateu, no Palácio do Planalto, ter feito interferência politica na Polícia Federal e afirmou estar “lutando contra o sistema”: “Nunca pedi a ele [Moro] que a PF me blindasse ou alguém da minha família” e que “sempre” foi “do diálogo”.

Num dos momentos em que destaca a mágoa que fica da relação desfeita, arrematou: “Eu sempre abri o coração para ele. Duvido se ele abriu o coração para mim”.

Moro acusa Bolsonaro de trocar comando da PF para obter informações sigilosas

Bolsonaro, ego de Moro e PF

No início da fala, o presidente alfinetou o ex-ministro, sem citá-lo, dizendo que ele “tem um compromisso consigo próprio, com seu ego, e não com o Brasil. O que eu tenho ao meu lado, e sempre tive, foi o povo brasileiro. Hoje, essa pessoa vai buscar uma maneira de botar uma cunha entre eu e o povo brasileiro”. Também se referiu a Moro como um “ídolo”.

No pronunciamento, Bolsonaro afirmou que houve também um pedido de Moro para que a troca do chefe da PF fosse realizada apenas depois que o ex-juiz da Lava Jato fosse indicado como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).  “É desmoralizante para um presidente ouvir isso.”

Pelo Twitter,  Moro negou que tenha existido esse pedido. “A permanência do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nunca foi  utilizada como moeda de troca para minha nomeação para o STF”, afirmou.

Sobre uma suposta interferência política que teria pedido a Moro em investigações da Polícia Federal, negou: “Eu não conto com a isenção da imprensa por parte das matérias publicadas. Desde o começo, passou-se a se falar que eu estava dificultando as operações contra a corrupção. Mas é claro, a fonte da corrupção não era tão abundante quanto antigamente. E isso começou a abater sobre mim como se eu fosse contrário a Lava Jato. As grandes operações da PF no passado foram em cima de estatais ou de empreiteiros. Nós botamos um ponto final pra mim, e isso foi muito caro pra mim. Eu estou lutando contra um sistema. Coisas que aconteciam no Brasil, quase não acontecem mais. E em grande parte pela minha coragem em indicar um time de ministros preocupados com o Brasil”.

Para o presidente, não houve interferência na autonomia do órgão e usou o episódio em que foi atacado, durante a campanha, para comparar com os pedidos de investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco, até hoje sem solução: “Se posso trocar um ministro, porque não posso trocar o diretor de uma Polícia Federal? Eu não tenho que pedir autorização a ninguém para isso. Será que é interferir na Polícia Federal quase que exigir e implorar a Sergio Moro quem mandou matar Bolsonaro? A PF de Sergio Moro se preocupou muito mais com Marielle do que com quem resolveu me matar”.