Opinião: chantagem explica o silêncio da ex-mulher de Bolsonaro?

Revista revela conversa misteriosa em que Ana sugere ter informações contra o candidato

Há uma série de mistérios em torno de Ana Cristina Valle, ex-mulher de Jair Bolsonaro. Mas um deles sobressai: por que ela nega agora os fatos que, antes, denunciou à polícia e à Justiça?

A revista “Época” traz uma forte pista: chantagem. Em junho deste ano, a Época esteve com Ana, com quem teve essa misteriosa conversa.

“Antes de tentar eleger-se deputada federal, Ana passou os últimos meses como chefe de gabinete do vereador Renan Marassi, em Resende. Um dos projetos articulados pela dupla no município foi a implantação de caixas com preservativos em banheiros e na porta de boates.

Ana recebeu ‘Época’ no dia seguinte ao encontro com Bolsonaro na Alerj, em 5 de junho, no gabinete do vereador Marassi. Aos 52 minutos da conversa, o vereador, que acompanhava a entrevista, pediu ao repórter: ‘Pode desligar o gravador rapidinho?’. O pedido foi atendido. Ana então prosseguiu: ‘Tenho algumas coisas picantes para falar sobre o Jair’, disse. “Mas vamos ver antes se ele vai me dar apoio na minha campanha, se não, te chamo aqui e te conto. Não posso falar o que é, mas é picante, é da época em que eu ainda estava com ele.”

Mais acusações de Ana Cristina Siqueira Valle contra Jair Bolsonaro vieram à tona
Créditos: Reprodução / Facebook e Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Mais acusações de Ana Cristina Siqueira Valle contra Jair Bolsonaro vieram à tona

O fato: Ana assumiu o sobrenome de Bolsonaro e hoje é candidata a deputada federal com seu apoio pelo Podemos.

A revista ‘Veja’ teve acesso a um processo de cerca de 500 páginas, protocolado em abril de 2008, que traz detalhes da separação litigiosa de Bolsonaro (PSL) e Ana.

Segundo a reportagem de capa, divulgada na noite desta quinta-feira, 27, além da disputa pela guarda do filho do casal, o caso incluiu acusações de furto de cofre com R$ 1,6 milhão, ocultação de bens e relatos de “comportamento explosivo” e “desmedida agressividade” do deputado federal.

A primeira acusação de Ana Cristina é que Bolsonaro teria ocultado milhões de reais em patrimônio pessoal na prestação de contas à Justiça Eleitoral em 2006, quando foi candidato a deputado federal, e eleito. Ele declarou R$ 433.943, mas a ex-mulher anexou uma relação de bens e de imposto de renda que somava um patrimônio de R$ 4 milhões.

De acordo com a revista, Ana também acusou o ex-marido de furtar US$ 30 mil e mais R$ 800 mil — R$ 600 mil em joias e mais R$ 200 mil em dinheiro vivo — de um cofre que ela mantinha em agência do Banco do Brasil, em 26 de outubro de 2007. No mesmo dia, o caso foi registrado em um boletim de ocorrência na 5ª Delegacia de Polícia Civil.

A ex-mulher ainda declarou que a renda mensal do deputado na época chegava a R$ 100 mil, pois ele recebia “outros proventos” além do salário de parlamentar.

As acusações de Ana também incluem o caso revelado pela Folha de S.Paulo na tarde desta terça-feira, 25. Segundo o Itamaraty, ela teria sido ameaçada de morte pelo deputado em 2011 – motivo que a levou a deixar o país. Como prova, consta um telegrama arquivado no órgão.

Conforme revelou a “Folha”, Bolsonaro acionou o Itamaraty por causa da disputa de guarda do filho do casal, Jair Renan, que acontecia em paralelo ao desenrolar do caso do cofre. De acordo com a ‘Veja’, enquanto a ex-mulher o acusava de furto do cofre, o deputado dizia que Ana Cristina tinha sequestrado o filho.

Atualmente, Ana usa o sobrenome Bolsonaro e concorre a deputada federal pelo Podemos. Ela nega as acusações e defende o ex-marido.

Questionada pela revista, a ex-mulher não explicou sobre como resolveu o litígio com Bolsonaro e passou a apoiá-lo publicamente. “Quando você está magoado, fala coisas que não deveria”, disse. Sobre as joias, afirmou: “Era coisa minha, que juntei. Coisas do meu ex-marido, joias que ganhei do Jair”.

Procurado pela Veja, o candidato do PSL não respondeu.

Confira a reportagem na íntegra.