Paciente de médico preso diz ter sido operada por falsa médica
Segundo o relato, Kellen Cristina Queiroz, ajudante de Bolívar Guerrero, vendia cirurgias e era tratada como médica dentro do Hospital Santa Branca
Fernanda Almeida, 24 anos, paciente do médico preso Bolívar Guerrero alega ter sido operada por uma falsa médica. Kellen Cristina de Queiroz dos Santos, técnica de enfermagem, já havia sido citada anteriormente por outras pacientes do Hospital Santa Branca, e com o mesmo teor: fingindo ser uma profissional de medicina apta a realizar procedimentos cirúrgicos.
“Para mim, a Kellen era médica. Tanto que tratei minhas cirurgias com ela. Ela, inclusive, cobrava a mais para estar na cirurgia. Dizia que o doutor Bolívar era muito ocupado e não conseguia dar tanta atenção depois, no pós-operatório. Mas que, se a paciente topasse pagar a mais, ela daria toda assistência no pré-operatório, durante e nos pós”, relatou Fernanda ao g1.
A jovem conta que passou por uma cirurgia na clínica de Bolívar Guerrero, em janeiro de 2021, para colocar silicone, e ainda fez um retoque em agosto do mesmo ano.
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Ela relatou que Kellen, além de se passar por médica, fazia oferta e vendia as cirurgias, usava jaleco branco dentro do hospital e ainda tinha tratamento por todos de como se fosse uma médica formada.
Segundo Fernando, a cirurgia que estava no valor de R$ 7 mil apenas com o médico Bolívar, passaria a ser R$ 8,1 mil com ajuda de Kellen Queiroz. Então, na esperança de realizar um procedimento bem-sucedido, supostamente assegurada por dois profissionais, ela aceitou fazer o pagamento a mais para ter a presença da assistente.
Suposta cirurgia feita por falsa médica
Depois que realizou a primeira cirurgia, e perceber que o resultado não tinha ficado bom, Fernanda foi falar com Kellen, que rapidamente respondeu, marcando uma revisão, alegando que o inchaços no local operado podem mudar o formato do seio.
“Vem, minha linda, pra eu te ver. Você está causando com esses seios. Muita gente me ligando e querendo um igual. Estão babando no seu seio. Vamos benzer”, diz print da conversa entre Kellen e Fernanda.
Em fevereiro de 2021, quase um mês após a cirurgia, Fernanda pede ajuda novamente, mas dessa vez a respeito das cicatrizes, e recebe a indicação de Kellen para passar uma pomada.
Fernanda conta que chegou a voltar no consultório para realizar mais uma revisão, já que achou que os peitos ficaram tortos e caídos. O atendimento aconteceu em agosto de 2021 e de novo ela teve que pagar um valor a mais por ter a “assistência” de Kellen no processo cirúrgico.
“No primeiro procedimento, levei anestesia geral e apaguei. Mas, na segunda, tenho certeza que foi ela que me operou. Eu ouvia a voz dela na sala de cirurgia, fazendo as coisas. No segundo procedimento, só vi o doutor Bolívar na hora que ele saiu de um outro centro cirúrgico, com as luvas ainda sujas de sangue e veio marcar o meu peito. Quando fiz uma cara de nojo, ele tirou uma das luvas e jogou fora. Marcou o peito e foi embora”, falou Fernanda.
Ela relata que, além de não ter tido Bolívar em sua cirurgia, teria sido destratada por uma anestesista que disse: “Essa aí está gostando de fazer cirurgia”, e não recebeu ajuda da então “Dra. Kellen”.
O resultado do segundo procedimento cirúrgico não melhorou a situação. Os seios foram levantados, no entanto ficaram com auréolas diferentes e um peito mais para cima do que o outro.
Processo o médico e Kellen, a falsa médica
Após ficar descontente com o resultado dos dois procedimentos feitos na clínica, ficar quase o ano de 2021 inteiro com problemas relacionados aos pontos nos seios – que ficavam abrindo e soltando líquido -, ser dispensada por Kellen, ela decidiu entrar com um processo contra a técnica de enfermagem e contra o médico.
“Fiquei horrível, com uma cicatriz horrorosa, além de ter tido problemas nos pontos, que abriram e não paravam de sair líquido. Foi um dinheiro jogado fora. Sonhava em ostentar um decote e, hoje, ando mais tapada do que antes da cirurgia. Tenho vergonha”, conta.
Fernanda só teve conhecimento de que Kellen não era médica depois de algum tempo:
“Todo mundo a tratava como médica na Santa Branca, ela só vivia em consultório e se apresentava assim nas redes sociais também. Vivia postando foto em consultório e no centro cirúrgico”, falou.
Investigação
Quando chegou ao Hospital Santa Branca na última segunda-feira, 18, para prender o cirurgião plástico Bolívar Guerrero, acusado de mantar paciente em cárcere privado, a polícia se deparou com Kellen dentro da sala de cirurgia junto ao médico.
Questionada sobre realizar os procedimentos cirúrgicos, Kellen alegou ser estudante de medicina na UNIG, mas que estava com a matrícula trancada. Em seguida, ela afirmou que estava na sala como técnica de enfermagem.
“Estamos na fase de apuração do inquérito policial. Tudo está muito recente, mas estamos analisando todos os depoimentos, todas as evidências e, se constatados outros crimes, vamos investigar e indiciar”, disse a delegada Fernanda Fernandes, da Deam de Caxias (RJ).
Prisão de Bolívar Guerrero
Bolívar Guerrero Silva foi detido no dia último dia 18 de julho quando estava dentro do Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. De acordo com as autoridades policiais ele mantinha uma mulher em cárcere privado após ela sofrer complicações no pós-cirúrgico de uma abdominoplastia.
Daiana Cavalcanti estava tentando ser transferida de hospital, mas o médico dificultou a transferência, mesmo com duas liminares da Justiça.
Daiana estava internada desde junho na clínica de Bolívar, e foi transferida na manhã da última quinta-feira, 21, para o Hospital Geral de Bonsucesso, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
Bolívar responde a pelo menos 19 processos na Justiça por erros médicos e teve sua prisão temporária mantida pela Justiça depois de uma audiência de custódia.