Pastor se nega a batizar jovem negra porque ela tem cabelo crespo

O caso aconteceu na Igreja Assembleia de Deus de Jacobina, na Bahia e mobilizou jovens a fazer um protesto contra a atitude do pastor

Um pastor da igreja evangélica “Assembleia de Deus” negou-se a batizar Rebeca Santos, uma jovem negra, de 16 anos, porque ela tem cabelo crespo. O caso aconteceu em Jacobina, na Bahia, no último dia 11 de novembro.

Testemunhas e a própria jovem contaram nas redes sociais que o pastor afirmou que cabelo crespo não é “cabelo de crente”.

Pastor se nega a batizar jovem negra porque ela tem cabelo crespo
Créditos: Reprodução/Instagram
Pastor se nega a batizar jovem negra porque ela tem cabelo crespo

A jovem participava de atividades na igreja, quando uma palestrante elogiou o cabelo da garota que acabou sendo vítima de racismo pelo pastor.  “Ele pegou o microfone e disse que eu não seria batizada porque meu cabelo não servia para ficar na igreja”, relatou a adolescente.

Martha Miranda, estudante e amiga da vítima,  de 24 anos, contou que o pastor chamou a adolescente para conversar. “Ele a chamou para uma reunião e disse que ela poderia assinar o formulário de batismo. A situação foi humilhante e em nenhum momento ele pediu desculpas. O pastor ainda disse para ela mudar o cabelo pois, segundo ele, cabelo crespo não é cabelo de crente. Isso a deixou ainda mais chateada e ela deixou de frequentar a igreja”, relatou.

“Nossa amiga foi impedida de ser batizada na igreja que frequenta (Assembléia de Deus) porque tem cabelo crespo. O pastor da igreja disse que ela não seria batizada com ‘esse cabelo’. Então a irmã dela teve a ideia de chamarmos todos os crespos e crespas que conhecíamos para que ela não se sentisse sozinha e deslocada”, afirmou Martha, nas redes sociais.

Indignados com a atitude do pastor, um grupo de amigos da adolescente, todos negros e de cabelos crespos, realizou um protesto pacífico no culto do último domingo, 15, em Jacobina.

Segundo a amiga da vítima, “Tinham várias testemunhas e, no domingo, quando eu e outros amigos fomos visitar a igreja para fazer o protesto, todas as pessoas perceberam o motivo da nossa presença”, conta.

“Nós somos tão fortes e unidas. Pensei que seria constrangedor passar pela igreja cheia, mas a empatia foi maior que a militância. Feliz em saber que não estamos sozinhas e não somos menores ou inferiores a ninguém. Temos o direito de seguir a religião que quisermos, bem como ocupar qualquer lugar. Seguimos”, disse Martha.

A vítima fez uma postagem na rede social agradecendo a solidariedade que recebeu. “Nem sei como falar o quão GRATA eu estou e o apoio que eu tive até aqui. Muito obrigado, a todos, sem exceção. Cristo é o melhor caminho sempre, buscar o evangelho é incrível e perdoar também é a melhor retirada de peso que existe”, postou.

Racismo: saiba como denunciar e o que fazer em caso de preconceito

Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.

Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.

A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro. Para mais informações, clique aqui.