Petições mobilizam 177 mil por cursos de filosofia e sociologia

Abaixo-assinados abertos na plataforma Change.org se posicionam contra anúncio do presidente Bolsonaro e ministro da Educação sobre cortes de verbas

Em parceria com Change.org (Oficial)
30/04/2019 17:29

A notícia de que o governo poderá reduzir investimentos em cursos da área de humanas, como filosofia e sociologia, nas universidades federais, caiu como uma bomba para professores, alunos e associações acadêmicas. O descontentamento pode ser medido pelo volume de apoiadores de dois abaixo-assinados contra a proposta, criados ainda no dia do anúncio, sexta-feira, 26: um total de 177 mil pessoas.

As petições foram abertas na plataforma Change.org por um professor e um aluno de filosofia que veem na medida um retrocesso para o país. Giovane Vaz, que faz mestrado como bolsista da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e integra o Movimento Acredito, está bastante preocupado com o que chama de “ataques” às disciplinas de Ciências Humanas.

“É preocupante que o governo esteja explicitamente empenhado em destruir uma área do conhecimento, ao invés de cumprir suas obrigações de melhorar os índices educacionais do Brasil”, comenta Giovane. O professor defende a importância que essas disciplinas têm para a formação superior e dispara: “O [presidente Jair] Bolsonaro e sua equipe parecem não saber o que é o conhecimento. Isso provavelmente se resolveria com boas aulas de filosofia”.

Veja o abaixo-assinado: change.org/HumanasSemCortes

Giovane durante apresentação de seu TCC no curso de Filosofia
Giovane durante apresentação de seu TCC no curso de Filosofia - Arquivo Pessoal

Segundo o professor, a ideia de priorizar determinadas áreas do conhecimento em detrimento de outras, como se elas fossem mais essenciais, é “desconhecer que a formação superior é interdisciplinar”. Para embasar seu argumento, Giovane explica que estudantes de medicina, por exemplo, precisam estudar Ética, que é uma disciplina da filosofia, bem como engenheiros necessitam de aulas de Ciências Humanas para ter as dimensões políticas, éticas e históricas da profissão.

Para ele, a possível “descentralização” dos recursos pode implicar, ainda, numa questão jurídica, já que o governo estaria interferindo na autonomia das universidades. O líder estadual do Movimento Acredito no Rio Grande do Sul levanta, ainda, uma preocupação sobre a liberdade dos estudantes mais pobres decidirem qual carreira desejam seguir. “Para onde vão os estudantes que querem cursar Ciências Humanas e não podem pagar por uma universidade privada?”, questiona.

Filosofia para todos

Com o título “Filosofia para todos”, o aluno do curso de licenciatura em filosofia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Jonas Pereira de Moraes, criou um dos dois abaixo-assinados na plataforma Change.org. Assim como Giovane, o estudante acredita que a redução da verba impactará negativamente no futuro do Brasil.

“Isso [a proposta] pode acarretar numa má formação de indivíduos, não incapazes de pensar, mas de organizar e interpretar os fatos e ver quais são as reais necessidades da sociedade”, explica o estudante. “Afasta o conhecimento sociopolítico do sujeito dentro da realidade social e pode ser uma manobra para colocar os mais afortunados, ‘a elite’, acima da sociedade”, completa.

Jonas Moraes faz licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Jonas Moraes faz licenciatura em Filosofia pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) - Arquivo Pessoal

No texto da petição, Jonas alega que a filosofia é a disciplina responsável pela formação de pensadores que podem contribuir tanto economicamente quanto socialmente com o desenvolvimento do país. Em entrevista, o segurança patrimonial e agente de prevenção de perdas, desabafa: “Querem privar o cidadão do discernimento correto, pois um povo que não pensa é mais facilmente manipulado”.

A proposta

A informação foi divulgada por Bolsonaro, em transmissão ao vivo pelas redes sociais, nesta sexta-feira (26). O anúncio foi feito ao lado do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que assumiu o cargo há menos de um mês, depois que uma enxurrada de críticas causou a demissão de seu antecessor, Ricardo Vélez Rodríguez.

Pelo Twitter, o presidente disse que o ministro estuda a medida. De acordo com o post, os alunos já matriculados não serão afetados. Confira as postagens.

Presidente Jair Bolsonaro falou sobre a proposta em postagens no Twitter
Presidente Jair Bolsonaro falou sobre a proposta em postagens no Twitter - Divulgação/Rede social