Petições mobilizam 177 mil por cursos de filosofia e sociologia
Abaixo-assinados abertos na plataforma Change.org se posicionam contra anúncio do presidente Bolsonaro e ministro da Educação sobre cortes de verbas
A notícia de que o governo poderá reduzir investimentos em cursos da área de humanas, como filosofia e sociologia, nas universidades federais, caiu como uma bomba para professores, alunos e associações acadêmicas. O descontentamento pode ser medido pelo volume de apoiadores de dois abaixo-assinados contra a proposta, criados ainda no dia do anúncio, sexta-feira, 26: um total de 177 mil pessoas.
As petições foram abertas na plataforma Change.org por um professor e um aluno de filosofia que veem na medida um retrocesso para o país. Giovane Vaz, que faz mestrado como bolsista da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e integra o Movimento Acredito, está bastante preocupado com o que chama de “ataques” às disciplinas de Ciências Humanas.
“É preocupante que o governo esteja explicitamente empenhado em destruir uma área do conhecimento, ao invés de cumprir suas obrigações de melhorar os índices educacionais do Brasil”, comenta Giovane. O professor defende a importância que essas disciplinas têm para a formação superior e dispara: “O [presidente Jair] Bolsonaro e sua equipe parecem não saber o que é o conhecimento. Isso provavelmente se resolveria com boas aulas de filosofia”.
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Veja o abaixo-assinado: change.org/HumanasSemCortes
Segundo o professor, a ideia de priorizar determinadas áreas do conhecimento em detrimento de outras, como se elas fossem mais essenciais, é “desconhecer que a formação superior é interdisciplinar”. Para embasar seu argumento, Giovane explica que estudantes de medicina, por exemplo, precisam estudar Ética, que é uma disciplina da filosofia, bem como engenheiros necessitam de aulas de Ciências Humanas para ter as dimensões políticas, éticas e históricas da profissão.
Para ele, a possível “descentralização” dos recursos pode implicar, ainda, numa questão jurídica, já que o governo estaria interferindo na autonomia das universidades. O líder estadual do Movimento Acredito no Rio Grande do Sul levanta, ainda, uma preocupação sobre a liberdade dos estudantes mais pobres decidirem qual carreira desejam seguir. “Para onde vão os estudantes que querem cursar Ciências Humanas e não podem pagar por uma universidade privada?”, questiona.
Filosofia para todos
Com o título “Filosofia para todos”, o aluno do curso de licenciatura em filosofia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Jonas Pereira de Moraes, criou um dos dois abaixo-assinados na plataforma Change.org. Assim como Giovane, o estudante acredita que a redução da verba impactará negativamente no futuro do Brasil.
“Isso [a proposta] pode acarretar numa má formação de indivíduos, não incapazes de pensar, mas de organizar e interpretar os fatos e ver quais são as reais necessidades da sociedade”, explica o estudante. “Afasta o conhecimento sociopolítico do sujeito dentro da realidade social e pode ser uma manobra para colocar os mais afortunados, ‘a elite’, acima da sociedade”, completa.
No texto da petição, Jonas alega que a filosofia é a disciplina responsável pela formação de pensadores que podem contribuir tanto economicamente quanto socialmente com o desenvolvimento do país. Em entrevista, o segurança patrimonial e agente de prevenção de perdas, desabafa: “Querem privar o cidadão do discernimento correto, pois um povo que não pensa é mais facilmente manipulado”.
A proposta
A informação foi divulgada por Bolsonaro, em transmissão ao vivo pelas redes sociais, nesta sexta-feira (26). O anúncio foi feito ao lado do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que assumiu o cargo há menos de um mês, depois que uma enxurrada de críticas causou a demissão de seu antecessor, Ricardo Vélez Rodríguez.
Pelo Twitter, o presidente disse que o ministro estuda a medida. De acordo com o post, os alunos já matriculados não serão afetados. Confira as postagens.