Caso Marielle: confira quais perguntas ainda estão sem respostas
Dois PMs foram presos acusados de envolvimento com a morte da vereadora
Nesta terça-feira, 12, dois PMs foram presos suspeitos de participação na morte da vereadora Marielle Franco (PSOL). Um deles é o policial militar reformado Ronnie Lessa, de 48 anos. O outro é o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, de 46 anos. A prisão foi feita dois dias antes de o crime completar um ano. A operação é mais um passo importante para o processo, mas muitas perguntas ainda precisam ser esclarecidas.
Quem foi o mandante da execução? Qual foi a motivação para o crime? Por que Marielle incomodava tanto? Por que um dos suspeitos foi coagido a assumir a autoria do crime?
O caso
Na noite de 14 de março de 2018, Marielle foi convidada para mediar um debate com jovens negras no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Quando deixou o local, por volta das 21h, entrou no carro do motorista Anderson Gomes com a assessora Fernanda Chaves. No meio do trajeto, o veículo foi perseguido por outros dois; 13 tiros foram disparados: 9 acertaram a lataria e os outros 4, o vidro. A vereadora e Anderson foram atingidos e morreram no local. Fernanda ficou ferida pelos estilhaços. Os carros fugiram sem levar nada.
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Sobre os presos
Ronnie Lessa: a denúncia aponta que ele é o autor dos 13 disparos que mataram Marielle e Anderson. Ele foi detido em um condomínio na Barra da Tijuca, o mesmo em que o presidente Jair Bolsonaro tem uma residência.
Lessa foi homenageado em 1998 na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) por seus serviços. Ele perdeu uma perna em um atentado há dez anos.
Élcio Vieira de Queiroz: a acusação diz que ele estava conduzindo um dos carros que perseguiu a vereadora. Ele também foi detido em sua residência, no Engenho de Dentro. Foi expulso da PM em 2015.
Os desdobramentos
Foi apurado que a arma utilizada na execução da vereadora foi uma submetralhadora MP5 9 mm e que a munição pertencia a um lote da Polícia Federal de Brasília. O então ministro da Segurança, Raul Jungmann disse que as balas foram roubadas havia tempos na sede dos Correiros na Paraíba. Já o Ministério da Segurança afirmou que, na verdade, o roubo ocorreu em julho de 2017 – o que não explica o fato de as mesmas munições terem sido identificadas na chacina que aconteceu em Osasco, na Grande São Paulo, em 2015.
Além disso, a polícia apontou que a morte de Marielle foi planejada, uma vez que os atiradores sabiam exatamente onde ela estava sentada. Arquivos armazenados na “nuvem” pelo celular de Ronnie Lessa também mostram que ele buscou informações sobre a arma do crime e a vereadora, como o seu endereço e sua agenda de compromissos.
As primeiras acusações
Quase dois meses após a ocorrência, em maio de 2018, uma testemunha deu à polícia indícios de envolvimento do vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-PM e miliciano Orlando Curicica com o caso.
A testemunha também integrava uma milícia do RJ e conhecia Curicica. Em depoimento, disse à polícia ter presenciado uma conversa em que os dois arquitetavam a morte da vereadora em função de uma disputa por áreas. Os acusados negam.
Pouco tempo depois, Curicica foi transferido para uma unidade prisional de segurança máxima e pediu para ser ouvido pelo Ministério Público Federal, alegando ter sido coagido a assumir a responsabilidade pela morte de Marielle.
À época, o “Jornal Nacional” divulgou detalhes da conversa em que miliciano conta que o delegado queria que ele assumisse o crime a mando de Siliciano. Ao negar, o oficial teria pedido que ele, então, apontasse o vereador como o mandante.
Conflito de interesses
Em dezembro do mesmo ano, o general Richard Nunes, então secretário de Segurança do RJ, disse que milicianos planejaram a execução porque a vereadora representava uma ameaça à posse de terras na Zona Oeste do Rio. Em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Nunes afirmou que ela vinha conversando com moradores sobre a questão, o que teria colocado em risco negócios dos criminosos locais.
Em 22 de janeiro, outras cinco pessoas foram detidas em uma operação contra milícias que atuam com esquemas de grilagem. Entre os presos estava o major da Polícia Militar, Ronald Paulo Alves Pereira, suspeito de também ter participado da execução.
Marielle incomodava
A assessora Fernanda Chaves, que estava ao lado de Marielle no momento da execução, falou sem esconder o rosto pela primeira vez em entrevista ao “Fantástico”. De acordo com ela, a vereadora mantinha um bom relacionamento com todos, mas a luta por suas bandeiras incomodava.