Racismo: Deputado Daniel Silveira diz que ‘tem mais negros no crime’
O mesmo parlamentar que quebrou a placa com o nome da vereadora Marielle Franco (PSOL)
O deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), o mesmo que quebrou a placa com o nome da vereadora Marielle Franco (PSOL), morta em um atentado no Rio de Janeiro no início do ano passado, negou a existência do genocídio da população negra, em um discurso de conteúdo racista feito às vésperas do Dia da Consciência Negra, nesta terça-feira, 19, no Plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília.
Silveira contestou os dados do Ipea, afirmando que ele teve o “prazer e o desprazer” de atuar em todas as favelas do Rio de Janeiro e que se mais negros morrem é porque “tem mais negros com armas, mais negros no crime e mais negros confrontando a polícia”.
Entre 2017 e 2018, negros foram mais de 75% das vítimas de letalidade policial, segundo o Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança 2019.
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“Por sua vez, os negros são as principais vítimas da ação letal das polícias. Só que também, como a maior parte da população carcerária é formada por negros no Brasil, é porque mais negros cometem crimes. E vão dizer mais uma vez ‘Eu não tive oportunidade da sociedade’. Não quis estudar, preferiu furtar”, disse o deputado, logo após seu colega de partido deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) rasgar uma placa contra o genocídio da população negra, numa exposição em comemoração ao Dia da Consciência Negra, no Hall da Taquigrafia da Câmara dos Deputados.
O quadro destruído por Tadeu, que também é policial militar, mostra um jovem negro algemado sendo morto por um polícial, que virava as costas para ele. A obra é do cartunista Carlos Latuff e trazia dados sobre violência contra negros. “Se fazem isso contra um cartaz, imagine contra gente de carne, osso e pele negra!”, afirmou o cartunista.
“Na véspera do Dia da Consciência Negra, repudio o ato de racismo, intolerância e violência de um deputado do PSL contra uma exposição que denuncia o genocídio da população negra e que comemora as duras conquistas. Respeito! Racismo é crime!”, afirmou o deputado Camilo Capiberibe (PSB-AP)
A deputada Jandira Feghali (PCdoB –RJ), líder da minoria na Câmara, comparou a morte de Agatha Felix, de 8 anos, por um policial com a fala de Silveira. “No dia que a perícia comprovou que a bala de um policial assassinou a jovem Ágatha, que é negra, este senhor expõe sua constatação sobre negros do Rio de Janeiro. Chocante o nível”.
O deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ) criticou o racismo estrutural e disse que a Câmara dos Deputados deve ser a casa das ideias, não a casa da violência. Criticou ainda a fala do deputado Daniel Silveira.
“Dizer que os negros morrem mais porque cometem mais crimes é de um racismo violentíssimo, é uma frase absolutamente inaceitável. Essa ignorância faz mal para a segurança e racismo é crime”, afirmou.
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) destacou que o parlamentar que retirou a placa poderia ter representado contra o tema caso se considerasse ofendido, mas “demonstrou nas vísceras a intolerância e o racismo”.
Racismo: saiba como denunciar e o que fazer em caso de preconceito
Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.
Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.
A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro. Para mais informações, clique aqui.