Do Rio para Berklee: a história da violoncelista Kely Pinheiro
Nascida na comunidade da Grota, em Niterói, a musicista fez uma vaquinha na internet e conseguiu o dinheiro para realizar o sonho de estudar na faculdade
“A música é como se fosse a minha vida, eu não faço outra coisa sem ser isso. Ela representa tudo pra mim: a maneira como eu vejo o mundo, a minha filosofia e os meus ideais. Quando eu estava na escola, me perguntavam: o que você faria se não fosse musicista? Eu não tinha a menor ideia de como responder isso”, afirma a violoncelista Kely Pinheiro, de 20 anos.
Nascida e criada na comunidade da Grota, em Niterói, Rio de Janeiro, Kely ganhou uma bolsa de estudos integral em uma das mais importantes escolas de música do mundo, a Berklee College of Music, em Boston, nos Estados Unidos. Em um primeiro momento, seu sonho parecia distante, pois o benefício não cobria os custos de moradia e alimentação. Mas, após uma vaquinha online, apoiada pela Catraca Livre, ela conseguiu o dinheiro necessário para o primeiro ano da faculdade e vai embarcar para o país já no final de agosto.
Trajetória na música
A trajetória da carioca na música começou aos cinco anos de idade, no projeto Orquestra de Cordas da Grota. “Eu iniciei tocando flauta doce e depois aprendi outros instrumentos, como piano e violão. Mais ou menos aos 12 anos, comecei a tocar violoncelo. Uma das minhas primeiras professoras foi uma violoncelista norueguesa, que me apresentou ao instrumento”, relata. Na comunidade, Kely conheceu muitos músicos e professores da Europa, o que abriu portas para investir em sua carreira.
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Após o projeto, ela tocou na Academia Juvenil da Orquestra Petrobras Sinfônica, na Orquestra de Câmara da Fatec, estudou no Conservatório de Niterói e faz licenciatura em música na Unirio, curso que terá que largar para se dedicar a Berklee. A jovem também atua há cinco anos na Camerata Laranjeiras, uma orquestra independente do Rio de Janeiro, fundada por uma alemã, um brasileiro e uma norueguesa.
“Tocando na Camerata Laranjeiras, nós viajamos para Alemanha, Noruega, Suécia, Holanda e também fizemos uma parceria com a Berklee, em que gravamos um material para a plataforma online deles”, conta. Foi a partir desse contato que Kely decidiu fazer a audição para estudar na faculdade norte-americana. A prova teve duas partes: uma primeira prática, em que o candidato tem que tocar e fazer uma série de testes de percepção musical e improvisação, e uma segunda etapa, na qual há uma entrevista em inglês com os professores responsáveis. Quando recebeu a notícia de que havia sido aceita na instituição, e ganhado a bolsa integral, a estudante não acreditou.
“Fiquei em choque. Foi uma felicidade muito grande para mim e para todas as pessoas que fazem parte da minha vida: minha família, amigos e professores. Foi uma conquista de todo mundo”, diz a musicista. Segundo a jovem, a maior dificuldade que enfrentou ao longo da carreira foi conciliar o estudo com o trabalho. “É preciso equilibrar e não deixar a necessidade de se manter financeiramente atrapalhar os estudos.”
No violoncelo, Kely se mostra bastante eclética: toca desde músicas clássicas, até Beatles, Alcione e outros estilos musicais. “No dia a dia, eu ouço muito canto gregoriano. Não, estou brincando. Eu gosto muito de rock, principalmente indie, Beyoncé, Katy Perry, entre outros artistas. Eu sou aberta a conhecer qualquer tipo de música porque toco de tudo no instrumento, então preciso de uma linguagem mais abrangente. Isso aproxima as pessoas da música clássica”, explica.
Para outras crianças e adolescentes que sonham em ser musicistas, Kely dá um recado sobre sua experiência. “A perseverança e a disciplina nos estudos são muito importantes. Por mais que às vezes pareça muito difícil, se você pensar dia após dia, dar o seu melhor nas pequenas coisas acaba te levando para um caminho que faz você conseguir o que antes era impossível.”
Como ajudar a Kely
“Meu maior sonho é terminar o curso na Berklee e voltar para o Brasil com o objetivo de retribuir toda a ajuda que eu tive”, afirma Kely Pinheiro.
A campanha de financiamento coletivo para custear a vida da violoncelista nos Estados Unidos bateu a meta e arrecadou mais de 100 mil reais, valor suficiente para o primeiro dos quatro anos da faculdade.
Para fazer uma doação à estudante, clique neste link.
Assista ao vídeo abaixo: