Sonhos

Paulo morava no Jardim Horizonte Azul com a mãe, o irmão, a irmã e o padrasto. Como as coisas por lá não estavam muito boas, dona Maria comprou um barraco na beira de um
rio que passava no Parque Santo Antônio. Ela foi tentando sobreviver num cômodo do inferno junto com o marido e os filhos, os bens mais preciosos que eles tinham eram as panelas dentro de uma única sacola e mais nada.
Aos poucos dona Maria foi conhecendo o pessoal do bairro, fazendo amizade e, algum tempo depois, arrumou um trabalho em uma escola de inglês como faxineira. Sua vida começava a melhorar; aquele barraco já não era barraco. Com muito esforço fez uma casinha que deu para esconder-se da chuva e proteger- se do sol por um bom tempo. Paulo era um desses fanáticos por futebol. Ele mais do que ninguém queria ser jogador. Nos
jogos de Playstation viajava achando que era um jogador de verdade, ficava narrando o jogo e até mexia nas funções para trocar o nome do atleta pelo seu. Chegou a fazer alguns testes em times renomados, mas infelizmente foi dispensado; ele não era diferente dos outros garotos, tinha um sonho de um dia brilhar nos gramados do mundo inteiro com seu talento. A garoa fina caía sobre o temido Parque Santo Antônio, às quatro e trinta da manhã os dois irmãos já haviam de acordar para uma peneira no São Paulo Futebol Clube. A ansiedade era grande. O medo de se atrasar era constante, toda hora Paulo
olhava no relógio e aflito chamava o irmão, que faria um teste
também naquele dia:
– Vamos, César, senão nóis perde a hora.
– Já tô indo, caralho, faz um dez aí – gritava com a boca ainda cheia.
E assim partiram com seus kichutes de solas gastas dentro de uma sacola plástica de supermercado. Esperançosos de realizarem seus sonhos foram em busca deles. Dona Maria era uma mãe superprotetora, enquanto seus meninos não saíam de sua vista ela não entrava pra casa.

Por Redação