Tayane luta contra o tempo para não perder a bolsa na Alemanha

Tayane lança vaquinha para não perder a bolsa que ganhou na Alemanha

Diamantes musicais

A luta de Tayane para não perder um sonho

Posted by Gilberto Dimenstein on Sunday, July 22, 2018

Moradora da comunidade de Heliópolis, Tayanne Sepulveda, de 26 anos, trompista, está acostumada na sua vida a enfrentar os mais complexos desafios, tantas foram as dificuldades que a vida lhe apresentou. Agora enfrenta mais um desafio depois depois que ganhou uma bolsa para fazer mestrado de música na Alemanha: conseguir embarcar.
Não tem ainda dinheiro para pagar quarto e alimentação. Por isso, lançou uma vaquinha.

Em 2006, Tayanne estava para fazer 14 anos quando sua mãe sofreu um grave acidente. “Meu pai trabalhava à noite”, ela conta. “E eu, como era a irmã, mais velha, tinha que cuidar da casa, dos meus irmãos. Eu não sabia qual era a gravidade do estado da minha mãe, meu pai protegia a gente e não contava. Mas todo mundo chegava em casa e começava a chorar, era muito triste, então sabia que tinha acontecido algo.”
Tayanne nasceu em São Caetano, mas cresceu em Heliópolis. Tinha um “contato informal” com a música na igreja, mas nunca havia de fato se interessado. Quando uma tia sugeriu à mãe que a inscrevesse no Instituto Baccarelli, não gostou da ideia. “Eu preferia ficar em casa ajudando.” Mas a família insistiu e ela foi. Gostou do violoncelo, mas não passou na prova. Tentou de novo. Mostraram a ela a trompa. “Fiz o teste, passei e comecei gradualmente a gostar do instrumento.”

A tragédia familiar poderia ter afastado Tayanne da música. Mas aconteceu o contrário. “Acabou que foi essa a época em que mais me apeguei ao instituto e à música. Comecei a estudar ainda mais. Com 15 anos, comprei um instrumento e em 2009 passei a tocar na orquestra.” Não era uma rotina fácil. Estagiária na Sinfônica Heliópolis, ainda integrava o grupo juvenil e, à noite, fazia o ensino médio. Ainda assim, entrou na faculdade e, em 2011, foi efetivada na sinfônica.
Dois anos depois, enfrentou um desafio que considera especialmente marcante: a “Sinfonia nº 3”, de Mahler, na Sala São Paulo, com Isaac Karabtchevsky na regência. “Ser a primeira trompa nessa peça foi especial, mas o naipe todo trabalhou demais para fazer um concerto bonito”, ela conta. E ainda se surpreende: “Hoje eu penso: nossa, como eu toquei aquilo? As pessoas achavam bom? Parece que quanto mais você sabe e mais você aprende, mais precisa saber.”

O desejo de melhor sempre é louvável, mas, no meio musical, Tayanne tem o que os críticos gostam de definir como “som especial”. Digo isso a ela, que não parece muito acreditar. Mas, de qualquer forma, não se trata de opinião. Basta ver sua trajetória. Em 2015, tocou em um concerto conjunto com a Osesp, no qual foi interpretado o “Gurrelieder”, de Schoenberg. O desempenho levou a um convite para ingressar na orquestra.