A violência da homofobia e transfobia na Turquia: “Deus é Grande”

A Suprema Corte da Turquia instaurou, desde 2014, uma definição jurídica que define a homossexualidade como não natural. “O comportamento sexual natural dos seres humanos é a relação sexual de um homem com uma mulher por meio da união de seus órgãos sexuais”, foi decretado.

Muitas religiões, como o islamismo, condenam a homossexualidade e ainda são incapazes de compreenderem a transexualidade. É claro, afinal, este último termo ainda é considerado “novo” devido ao fato de ser pouquíssimo debatido em salas de aula e pela mídia de massa. Qual o último personagem transexual que você assistiu numa novela?

Nem mesmo nas escolas é possível ensinar para as crianças, desde cedo, que a diversidade deve ser respeitada, pois segundo a própria bíblia, “somos todos filhos de Deus”.

O que leva uma pessoa a pensar que pode oprimir, odiar, agredir ou até mesmo matar alguém diferente dela? Neste caso, o diferente seria quem tenha uma orientação sexual ou gênero distinto ao do agressor.

A falta de informação, cultura e educação faz com que a sociedade pague um preço muito caro. E a soma desses fatores obviamente ocasiona no aumento da violência e intolerância.

Vivemos há séculos numa sociedade doente que usa o nome de Deus para julgar, condenar e matar. E sob esta perspectiva, novas vítimas aparecem todos os dias.

Nesta semana, em Istambul, uma ativista trans chamada Hande Kader foi encontrada morta com o seu corpo carbonizado depois de ter sido estuprada. Segundos os seus amigos, o crime foi motivado por discriminação e ódio. 

Amigos de Hande Kader fazem protesto após a sua morte


Poucos dia depois, na mesma cidade, um refugiado gay da Síria chamado Muhammad Wisam Sankari foi encontrado decapitado nas ruas.

Segundo relatos da LGBTI News Turkey, uma mulher transexual relatou que também foi atacada por um grupo de homens que gritava “Allahu Akbar”, ou na tradução, “Deus é grande”.

Felizmente, ela conseguiu fugir com vida. Mas ao chamar a polícia, eles lhe disseram que nada poderiam fazer com os agressores.

Uma das razões de noticiarmos fatalidades como estas é justamente para nos fazer refletir. Enquanto uns dizem que homofobia e transfobia é “mimimi”, ambas continuam fazendo cada vez mais vítimas pelo mundo.

Por Felippe Canale

Jornalista parceiro da Catraca Livre