Virada Cultural: das ruas para os muros?
Desde 2005, uma vez ao ano, as ruas do centro de São Paulo transformam-se, literalmente, em palcos para a celebração da cultura, da arte e da ocupação da cidade. Somente este ano, foram mais de 700 atividades realizadas, não apenas na região central, como em toda a capital.
É inegável que a Virada Cultural, desde seu início, assumiu um papel de revitalização e ocupação da cidade, para mostrar aos moradores e turistas a importância de abraçar o espaço público e ver a cidade como um cenário cultural, educativo e de integração social.
Em contrapartida, as ocorrências de violência, ao longo dos anos, tomou os holofotes da imprensa e, consequentemente, da população. Um dos episódios mais marcantes foi em 2007, quando Polícia Militar e fãs que assistiam ao show do Racionais MC, na Praça da Sé, entraram em conflito.
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Uma das estratégias adotadas para manter a proposta cultural do evento e garantir a segurança foi a sua descentralização, que além de oferecer mais opções de atrações aos frequentadores, tornou-o mais acessível aos moradores da periferia.
O público parece ter aprovado a pulverização das atrações. Segundo pesquisa realizada pela SPTuris, a edição de 2016 foi melhor do que a de 2015 na opinião popular. A nota média atribuída foi 8,4, enquanto que, em 2015, a nota dada foi 8,2.
Mesmo diante desde cenário, e em uma época em que o projeto “Ruas Abertas”, do atual prefeito Fernando Haddad (PT), deu um passo importante para que os cidadãos possam se apropriar cada vez mais do espaço público, o prefeito eleito, João Doria (PSDB), anunciou que a Virada sairá das ruas. Na última segunda-feira, dia 5, ele afirmou que a Virada Cultural passará a ser sediada no Autódromo de Interlagos, ao invés de ocupar o centro da cidade.
De acordo com o futuro prefeito, a decisão foi tomada por questões de segurança e para evitar os transtornos que o evento causa à população. Ele ainda afirma que o formato original, com atrações culturais gratuitas por 24 horas, será mantido. “Ela vai manter tudo de bom que sempre teve, sem os aspectos ruins, em Interlagos”, disse Doria.
Portanto, a solução encontrada pela gestão de Doria é eliminar os “aspectos ruins” cercando a Virada Cultural. Basta entender se os muros de Interlagos vão cercar, isolar e “proteger” apenas uma parcela da população. Outro questionamento que, também, fica é: “Como é possível garantir uma autêntica Virada Cultural se a sua essência está nas ruas?”.
Ruídos na comunicação
Apesar do anúncio de Doria, os rumos da Virada parecem estar confusos. O futuro secretário de Cultura, o cineasta André Sturm, contradiz o prefeito eleito ao afirmar que parte do evento seguirá ocorrendo no centro da cidade e que a Virada não será confinada em Interlagos. Segundo Sturm, apenas faltaram as explicações adicionais sobre como isso será feito.
Ele ainda afirmou que o centro será palco para shows menores, mas que o foco será o uso de espaços fechados, como bibliotecas, museus e o Theatro Municipal.
Vale lembrar que o mesmo levantamento da SPTuris apontou que 91% dos entrevistados indicam os palcos principais como o melhor da programação do evento, seguidos pelas apresentações de cultura popular, espetáculos de dança e teatro.
De uma forma ou de outra, o risco que a população corre agora é perder um dos eventos de maior expressividade cultural da cidade. Um evento que, apesar de precisar de ajustes e melhorias, de mais segurança e organização, não pode perder sua característica mais geniosa: o acesso e a democratização à cultura.