Aumento da audiência do ‘JN’ com Maju cala a boca de racistas

Maju Coutinho estreou no Jornal Nacional, na TV Globo no último sábado, 16

Após a estreia de Maria Júlia Coutinho no Jornal Nacional, a TV Globo celebrou o aumento em sua audiência em São Paulo, Rio de Janeiro e no Painel Nacional de Televisão (PNT), que reúne dados de 15 mercados do país.

A representatividade do que é a sociedade na televisão deu audiência. Maju assumiu o posto de apresentadora eventual, tornando-se a primeira jornalista negra a ocupar a bancada do telejornal que completa 50 anos em 2019.

Maju Coutinho estreia como âncora do JN no sábado, 16
Créditos: Reprodução/TVGlobo
Maju Coutinho estreia como âncora do JN no sábado, 16

Segundo a TV Globo, a jornalista também bombou na internet. “Maju Coutinho Jornal Nacional” rendeu mais de 100 mil pesquisas no Google. “Maju” ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter mundial durante quatro horas. Em relação aos últimos quatro sábados, o “JN” registrou média de 27 pontos de audiência, três a mais que a média (+13%).no país

Em um mundo ideal, a negritude de Maju não seria notícia. Mas em um país como o Brasil, onde o racismo é permissivo, onde diariamente as pessoas fecham os olhos para atitudes racistas, uma jornalista negra chegar à bancada do principal telejornal do país é uma grande vitória.

Maju chegou a falar sobre isso. “Há uma carga simbólica que não dá para ser negada”, disse Maju. “Lá na frente, espero que uma mulher negra em destaque não seja motivo de atenção, porque será normal”, desejou a jornalista.

Esse mundo ideal, livre do racismo está longe de acontecer.

A chegada de Maju na bancada do ‘JN’, precisa ser enaltecida e comemorada. Ela deu certo, a audiência aumentou, aproximou o público do programa, mas também é necessário que esse momento seja de reflexão.

Ao passo que Maju chega aplaudida pela audiência no Jornal Nacional e a emissora comemora a jogada acertada, no BBB 19, que está repleto de declarações racistas, ela optou, por muito tempo, em omitir das edições que iam ao ar na TV todas as frases racistas dos confinados.

A TV Globo só se manifestou depois de ser muito cobrada pelos telespectadores nas redes sociais e da Polícia Civil instaurar sindicância para investigar o que está acontecendo dentro da casa.

Este é o Big Brother de pior audiência da história do reality show nos primeiros 30 dias, dado que confirma a audiência que a representatividade e a igualdade racial dá para a TV.

E não é só no BBB que o racismo paira velado aos olhos da TV Globo. Na novela “Segundo Sol”, que estreou em maio passado, a direção da emissora afirmou na época, em uma nota arrogante que “rejeita o critério de representatividade racial na escalação de elenco”.

Vale lembrar que a novela se passa na Bahia, onde 76% dos habitantes se declaram pretos ou pardos segundo o IBGE, e o elenco contava apenas com três atores negros e em papeis secundários.

Em julho do ano passado, Ícaro Silva abriu o jogo sobre a dificuldade que sente em conseguir papéis na TV por ser negro. “Tenho dificuldade até hoje para conseguir papéis na TV. De produtor de elenco dizer: ‘tenho um papel de escravo, mas você é muito bonito para fazer, tem uma cara de Zona Sul [do Rio de Janeiro]’. Se não tiver escrito na sinopse que é negro, não escalam”, desabafou ao participar do “Programa do Porchat”, da RecordTV.

Ícaro Silva no “Programa do Porchat”, da RecordTV
Ícaro Silva no “Programa do Porchat”, da RecordTV

Até a televisão representar a realidade, onde 54,9% da população brasileira são negra/parda, segundo dados do IBGE, uma conquista como a de Majú será comemorada e dará altos picos de audiência.