Bombeiros são racistas com Cacau Protásio após cena em corporação
Cena registrada por bombeiro fora de contexto faz parte da gravação de um filme chamado "Juntos e Enrolados"
No domingo, 24, a atriz e humorista Cacau Protásio gravou as cenas do filme “Juntos e Enrolados” no Quartel-Central do Corpo de Bombeiros, no Rio de Janeiro, mas membros da corporação destilaram racismo, gordofobia e homofobia com o episódio através de um grupo de WhatsApp. Na gravação da cena registrada isoladamente e fora de contexto por um bombeiro, Cacau usa farda e dança com quatro bailarinos.
Nos áudios que os bombeiros trocaram entre eles, compartilhado no blog do Leo Dias, um dos homens fala: “Olha a vergonha no pátio do quartel central. Essa mulher do ‘Vai que Cola’, aquela gorda, colocou a farda e botou os dançarinos viados com roupa de bombeiro. Isso é um esculacho, rapaz. Qual é a desse comandante? Vai deixar uma putaria dessas no pátio do quartel?”
Outro reforçou a fala de forma ainda mais pejorativa: “Vergonhoso. Mete aquela gorda, preta, filha da puta numa farda de bombeiro, uma bucha de canhão daquela, com um monte de bailarino viado, quebrando até o chão. Vão achar que é o que? Bombeiro? Aquilo é tudo viado. Lamentável.”
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No dia da gravação, a atriz agradeceu em suas redes sociais a forma como foi recebida na corporação e disse estar orgulhosa por interpretar uma integrante. Depois que soube do vídeo e dos comentários preconceituosos, nesta quarta-feira, 27, postou a foto de um coração partido e, em seguida, quatro vídeos para explicar o que houve.
Ela conta que foi gravar a cena no Corpo de Bombeiros, foi muito bem recebida e assessorada, mas que estava circulando um vídeo feito de uma cena isolada, a xingando. A cena, segundo ela, se trata do sonho de um personagem, que na trama é seu superior.
“Sou negra, sou gorda, sou brasileira e sou atriz. Eu conto história, conto ficção. E eu não mereço ser agredida assim, como nenhuma pessoa. Eu respeito a opinião de alguns bombeiros de ‘ah, eu não acho certo’, mas vai ver realmente a história, vai ver o que é antes de agredir.”
Cacau disse ainda que printou todas as ofensas que viu na internet. “Porque isso é crime, você ser preconceituoso, racismo é crime. Você pode não gostar, mas você tem que respeitar. E por que esse ódio? Eu juro que não entendo”, indagou.
“O Corpo de Bombeiros é uma corporação que eu respeito, que eu amo, que eu queria ser quando criança”. A atriz já começou os vídeos com os olhos marejados. Ao falar isso, chorou. “Eu sei que sou uma pessoa forte, mas ouvir tudo isso de um ser humano é horrível, é muito triste. E como que uma pessoa que veste uma farda tão linda tem essa postura?”
Por último, Cacau diz ter ouvido boatos de que a cena que circulou em redes sociais e grupos de WhatsApp seria cortada do filme. “Então por que a pessoa que estava lá, autorizando, achou legal, abraçou a gente e disse que estava tudo bem?”
Nos comentários, famosos demonstraram apoio à atriz. A cantora Anitta escreveu: “Ô minha amiga, fica triste por causa de um bando de ignorante, não. Você tão inteligente, tão talentosa. Tão do bem. Vá atrás de seus direitos, mas não fique triste porque eles não merecem. Te amo muitão”.
O humorista Tirullipa disse: “Amiga, Deus é contigo e não liga pra esses demônios, não, pois eles querem te desestruturar e te tirar do foco. Estamos com você”. O ator Ícaro Silva escreveu: “Cacau, amorzão, você é uma genuína inspiração de talento, amor, beleza e profissionalismo”.
Assista aos vídeos:
Racismo: como denunciar e o que fazer em caso de preconceito
Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.
Como denunciar pela internet
Para denunciar casos de racismo em páginas da internet ou em redes sociais, o usuário deve acessar o portal da Safernet e escolher o motivo da denúncia.
Além disso, é necessário enviar o link do site em que o crime foi cometido e fazer um comentário sobre o pedido. Após esses passos, será gerado um número de protocolo, que o usuário deve usar para acompanhar o processo.
Se atente em unir provas! O primeiro passo é tirar prints da tela para que você possa comprovar o crime e ter como denunciar. Depois, denuncie o usuário pelo serviço de denúncias da rede social em que ocorreu o ato.
Disque 100
O Disque 100 é serviço do Governo Federal para receber denúncias de violações de direitos humanos.
Desde 2015, o serviço conta com dois módulos novos: um que recebe denúncias de violações contra a juventude negra, mulher ou população negra em geral e outro específico para receber denúncias de violações contra comunidades quilombolas, de terreiros, ciganas e religiões de matriz africana.
O serviço também aceita denúncias online de discriminação ocorrida em material escrito, imagens ou qualquer outro tipo de representação de idéias ou teorias racistas disseminadas pela internet.
Delegacias
A denúncia contra crime de racismo pode ser feita em delegacias comuns e naquelas especializadas em crimes raciais e delitos de intolerância. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) cumprem essa função.
Atualmente, o Decradi está vinculado ao Departamento Estadual de Homicídio e Proteção a Pessoa (DHPP), em São Paulo, e ao Departamento Geral de Polícia Especializada da Polícia Civil, além de estar inserida no programa Delegacia Legal, no Rio.
Em outros estados, existem delegacias especializadas em crimes cometidos em meio eletrônico, que podem ser acionadas em situações de injúria racial virtual.
Posso processar o agressor?
Sim! Tanto para racismo quanto para injúria racial, após o boletim de ocorrência, é possível ingressar com duas ações, sendo uma criminal e cível. O processo criminal é importante para dar força ao processo cível, que tem por objetivo conseguir uma indenização.
No caso do crime de racismo, o processo fica a cargo do Ministério Público e a indenização deve ser direcionada ao grupo atingido ou a uma entidade que represente esse grupo. Caso seja crime de injúria racial a indenização é para a vítima direta do crime.