Drauzio Varella diz a Mano Brown que já foi ‘preto por um dia’

O médico contou um episódio de racismo que viveu ao sair acompanhado de dois amigos negros, em São Paulo

24/06/2020 23:54

O médico Drauzio Varella contou para o líder do Racionais MC’s Mano Brown, durante uma live entre os dois, realizada nesta quarta-feira, 24, que já foi ‘preto por um dia’ ao se deparar com uma abordagem policial racista quando saía com dois amigos negros, em São Paulo.

Drauzio Varella diz a Mano Brown que já foi ‘preto por um dia’
Drauzio Varella diz a Mano Brown que já foi ‘preto por um dia’ - Reprodução/Youtube

“Você sabe que eu já fui preto um dia, né? Um dia só, e não gostei”, afirmou Drauzio em claro tom de ironia. “Eu achava que o senhor era preto quando olhei daqui”, disse Mano Brown brincando com o médico.

Drauzio Varella então contou o episódio. “Eu saí uma noite para tomar um chope e ouvir um samba em um bar na avenida Antártica (SP). Na hora de ir embora, falei ao meu amigo que pegaria um táxi, e ele: ‘Não, espere, meu filho vem pegar a gente’. Era um menino de 19, 20 anos com o carro. Entramos, eu no banco de trás e os dois na frente, pai e filho. Andamos uns 200 metros, o menino disse: ‘Vamos ser abordados'”, relatou Drauzio.

Mano Brown então apontou: “O mano já estava treinado, né? Não tem jeito, é o instinto”.

“O menino já sabia. Encostou o carro, vieram dois guardas com revólver na mão apontando para a cara da gente, eu levantei os braços, eu já era conhecido com essa coisa de televisão. Falei: ‘Vocês me conhecem?’. Eles: ‘Conhecemos o senhor, não conhecemos esses dois aí’. E foram com o revólver na cabeça dele. E eu gritando com os caras: ‘Para, são meus amigos!'”, disse Drauzio Varella.

“Os manos são ‘negão’, né?”, perguntou Mano Brown. “É, acharam que estavam me raptando ou qualquer coisa dessa. Precisei gritar com eles”, respondeu o médico.

Mano Brown então deu aquela aula sobre racismo estrutural. “A mentalidade racista está em todo mundo, naquele exato momento, funcionando ao mesmo tempo. Cada um no seu lugar de fala. Os dois ‘negão’ porque estão vendo a vida por um triz ali, os caras [policiais] porque estavam vendo o senhor no meio, um branco no meio de dois ‘negão’. Se tem um descuido, pelo racismo, pela lógica errada da leitura antecipada que leva à tragédia, a leitura de um cara quando tem um branco no meio de dois ‘negão’: ‘Ele é vítima, temos que proteger esse branco agora, depois a gente vê quem está certo’. O Brasil é isso aí”, explicou o rapper.