Emicida detona burguesia e faz críticas na frente de Luciano Huck

'Para cada Emicida que chegou até aqui, quantos vão para a vala?', questionou o rapper

O rapper Emicida criticou a burguesia brasileira durante conversa com o apresentador da TV Globo Luciano Huck, no programa do canal GNT, Papo de Segunda.

Emicida detona burguesia e faz críticas na frente de Luciano Huck
Créditos: Reprodução/GNT
Emicida detona burguesia e faz críticas na frente de Luciano Huck

Emicida destacou o quanto o sistema capitalista é prejudicial, desigual e como suas mazelas atingem principalmente a população negra no Brasil. O posicionamento do rapper é referendado pelas estatísticas. No Brasil, se olharmos uma amostra dos 10% de pessoas com menor rendimento per capita, 75,2% delas são negras, e 23,7%, brancas, de acordo com o relatório “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), lançado em 2019.

“Tenho minhas dúvidas quando escuto Luciano falar desse convite ao 1% e da predisposição desse 1% participar da redistribuição de riqueza porque não faltaram conjunturas melhores para que esse 1% participasse da discussão e tomasse as rédeas. Inclusive não uso a palavra ‘elite’ porque significa o que uma categoria tem de melhor. Se referir a pessoas que têm dinheiro somente como a elite da categoria humana parece que a pirâmide da humanidade é definida pelo acúmulo”, disse Emicida.

Antes da afirmação do rapper, Luciano Huck havia falado sobre a distribuição de renda. O apresentador que desde 2018 ensaia uma candidatura para a presidência havia dito que desconhecia “qualquer sistema que tenha tirado mais gente da pobreza que o capitalismo” e completou: “Não tô falando de tirar do rico e dar pro pobre, essa discussão é muito limitada. Você tem que construir uma sociedade onde a educação, antes de tudo, seja igualitária”.

Emicida disse que a palavra correta para definir a parcela com mais dinheiro é burguesia. “A diferença dessas pessoas para outras é o dinheiro. E várias dessas só têm o dinheiro”.

Ainda no Papo de Segunda, Emicida se usou como exemplo para explicar que ele é uma exceção. Ele a pessoa que ascendeu socialmente, saindo da pobreza na periferia de São Paulo e abrindo sua própria gravadora, que hoje também lança roupas, livros e agencia outros artistas.

“‘Ah, mas você é um cara bem sucedido, nasceu num barraco de madeira e hoje tá confortável’. A imagem que me vem na cabeça é: você no penhasco contemplando uma imagem e alguém te empurra. Você se quebra todo, se agarra num cipó, se salva depois de tempos e com uma perna quebrada, perdeu a memória, uma série de desgraças, mas você consegue botar a mão no penhasco de novo. Aí a pessoa que tem empurrou diz: ‘tá vendo, fiz isso para mostrar seu potencial’”.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada no início do ano passado. A diferença salarial entre brancos e negros era de 45% no início do ano passado.

Mortos pela polícia e por crime de feminicídio são, na maioria, negros: pretos e pardos são 75% no primeiro caso; já as vítimas de feminicídio, 61% são mulheres negras.

“Essa gratidão que as pessoas tentam impor para pessoas como eu, não houve um cadastro que eu assinasse e dissesse que escolhi esse sistema econômico e queria participar. Nasci dentro dele e tive que me debruçar. E infelizmente, para cada Emicida que chegou até aqui, quantos vão para a vala? Sacou, mano?”, questionou o rapper.