9 famosas que assumiram publicamente terem feito aborto
Sem a possibilidade de abortar legalmente no Brasil, muitas mulheres se expõem a condições precárias para interromper a gravidez
A notícia de que o Supremo Tribunal dos Estados Unidos pode derrubar o direito ao aborto reacendeu os debates sobre o tema em diversos países. Nos EUA, uma decisão histórica em 1973 permitiu que as mulheres escolhessem interromper a gravidez.
A polêmica entre os norte-americanos começou quando um rascunho do juiz conservador Samuel Alito foi vazado. No escrito, Alito defende que a liberação foi “flagrantemente errada” e precisa ser anulada. A autenticidade do material foi confirmada pela Suprema Corte.
No Brasil, o aborto induzido é crime, salvo quando a gravidez for resultante de estupro e quando não houver outro meio de salvar a vida da gestante. Há jurisprudência em casos de feto anencéfalo e em alguns de outras malformações.
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Legalizado ou não, muitas mulheres apelam para a interrupção – não raro correm risco de perder a vida no processo. Algumas celebridades brasileiras e norte-americanas reconhecem publicamente que já abortaram e lutam pelo direito de escolha. Abaixo, conheça algumas delas:
1. Hebe Camargo
No programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1987, Hebe Camargo revelou ter feito aborto aos 18 anos, resultado de uma relação como o seu primeiro parceiro.
Na ocasião, a apresentadora evitou polêmicas e se restringiu a dizer que o assunto era “extremamente delicado”. Assista a um trecho:
2. Whoopi Goldberg
No livro “The Choices We Made” (“As Escolhas que Fizemos”, em tradução livre), uma coletânea de 25 relatos sobre o aborto, a atriz Whoopi Goldberg conta que ficou grávida aos 14 anos e entrou em pânico.
“Fiz banhos quentes. Bebi misturas estranhas indicadas por outras meninas: uísque com um pouco de cloro, álcool e bicarbonato de sódio e um creme”, relata.
“Fiquei muito doente. Naquele momento, tive mais medo de ter que explicar o que havia de errado comigo do que usar um cabide, e foi o que fiz.”
3. Aracy Balabanian
A atriz Aracy Balabanian contou ter optado por abortar duas vezes – uma quando jovem, outra chegando aos 40 anos.
De acordo com a biografia “Nunca Fui Anjo” (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2005), a primeira vez ocorreu por motivos financeiros. “A profissão não era regulamentada, não tínhamos bons salários, licença-maternidade e direitos”, conta no livro.
“Fiz um segundo aborto, porque meu filho teria um pai que não desejaria para ninguém.”
4. Astrid Fontenelle
Durante o programa “Saia Justa”, da GNT, Astrid Fontenelle relatou ter abortado aos 18 anos. “Não sabia me proteger”, contou a apresentadora emocionada.
“Tive muito medo de contar para a minha mãe. Não tinha dinheiro, tive que vender uma joia da minha mãe e botar no prego.”
5. Dercy Gonçalves
“Cada uma manda na sua xereca. Alguém vai mandar na minha? Eu vou pedir licença? O governo não tem nada a ver com isso”, declarou Dercy Gonçalves sobre os oito abortos que fez durante a vida.
O relato sobre os episódios está na biografia “Dercy: De Cabo a Rabo” (Globo Livros, 2011) e também no programa “Roda Viva”, de 1995. Veja:
6. Nicki Minaj
A cantora norte-americana Nicki Minaj contou, em entrevista à revista “Rolling Stone”, em janeiro de 2015, que interrompeu uma gravidez na adolescência.
“Eu era uma adolescente, foi a coisa mais difícil que já passei”, disse. “Não estava pronta, não tinha nada a oferecer a uma criança.”
7. Maitê Proença
Também na adolescência, então com 16 anos, Maitê Proença decidiu abortar. A atriz contou sobre o episódio no livro “Uma Vida Inventada: Memórias Trocadas e Outras Histórias”.
Favorável à legalização do aborto, a atriz já tinha se pronunciado sobre o tema em uma entrevista à revista “Veja”, em 1997.
8. Marília Gabriela
Marília Gabriela revelou ter abortado na mesma revista “Veja”, de 1997. Em 2014, a apresentadora fez parta de uma campanha de legalização do aborto.
“No Brasil, as mulheres morrem por abortos malfeitos há décadas”, disse na ocasião. “Nós, como sociedade, pretendemos continuar cúmplices dessa mortandade?”
9. Elke Maravilha
Em entrevista concedida para a revista “Sexy”, em 2014, Elke Maravilha relatou ter realizado três abortos e disse não se arrepender da decisão.
“Não foi nem um pouco difícil. Na hora que eu fiz, estava tudo bem. Nunca tive arrependimento. Ao contrário, fui sábia. Como poucas vezes fui na vida.”
Aborto no Brasil
Como foi dito acima, o aborto induzido no Brasil é crime, com penas de 1 a 3 anos de detenção para a gestante, de 1 a 4 anos para quem realize o procedimento, seja médico ou não, e de 3 a 10 anos para quem levar uma pessoa considerada incapaz ou sem consentimento.
Além dos casos excepcionados pela lei e amparados pela jurisprudência, muitas mulheres recorrem a clínicas ilegais ou a métodos que colocam podem matar.
Por ser ilegal, os dados sobre aborto no país não são precisos e há, como se pode imaginar, muita subnotificação de casos.
De acordo com informações divulgadas pelo próprio Ministério da Saúde, em 2016, o aborto inseguro causou a morte de 203 mulheres naquele ano -mais de uma mulher morta a cada 2 dias.
Um estudo realizado por pesquisadores da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro com dados públicos do Sistema Único de Saúde (SUS), de 2006 a 2015, foram registrados 770 óbitos maternos tendo procedimento abortivo como causa oficial.
Em 2019, o SUS registrou a média de 5 internações diárias de meninas entre 10 e 14 anos por abortar.
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), 3,2 milhões de abortos inseguros de adolescentes ocorrem por ano nos países pobres.
Vale ressaltar que a liberação do aborto não é uma obrigação de abortar. Em última instância, a mulher poderia escolher dar continuidade para a gestação ou não.