Leandro Narloch diz ter ‘terror a homofobia’ após ser demitido da CNN

'É triste a histeria que pequenas discordâncias causam hoje em dia', afirmou o ex-comentarista

10/07/2020 21:23

Logo após ser comunicado sobre sua demissão da CNN Brasil, nesta sexta-feira, 10, o comentarista Leandro Narloch se manifestou nas redes sociais sobre a saída emissora, negando que tenha cometido homofobia.

Leandro Narloch diz ter ‘terror a homofobia’ após ser demitido da CNN
Leandro Narloch diz ter ‘terror a homofobia’ após ser demitido da CNN - Reprodução/CNN

“A cultura de cancelamento me pegou. A CNN informou agora que, depois da polêmica desta semana, decidiu rescindir meu contrato. Lamento pelo motivo. Não sou nem fui homofóbico, tenho horror a homofobia e concordei explicitamente com a doação de sangue por homossexuais. Me preocupa o clima da sociedade hoje, em que é impossível discordar até mesmo de termos ou terminologias sem causar histeria, sem que o outro lado seja considerado um monstro que precisa ser banido”, Leandro Narloch.

“Agradeço a todos os colegas da CNN e amigos que expressaram apoio e tristeza pelo que ocorreu. E já antecipo anúncios dos próximos dias: um curso contra a cultura de cancelamento, sobre ‘temas sensíveis’ e ideias proibidas, e uma frente para preservar a diversidade ideológica e a liberdade do debate. Abraços e bola pra frente!”, completou.

Entenda o caso

Narloch foi demitido porque distorceu uma pesquisa sobre gays com HIV, no programa Live CNN, para afirmar que a comunidade homossexual no país é mais propensa a ser soropositiva.

O programa falava sobre a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de revogar a proibição de doação de sangue por homens que transam com outros homens após determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), que julgou a restrição discriminatória.

O comentarista iniciou sua fala chamando orientação sexual de opção, forma que está em desuso, pois ninguém opta por ser homo ou heterossexual. “A mudança, na verdade, é pequena. Ela vai restringir mais a conduta, e não o tipo de pessoa, a opção sexual [sic] do indivíduo”, começou Narloch. Por isso, ele foi detonado na web.

Em seguida o comentarista da CNN afirmou: “Toda essa polêmica começou porque, não há dúvida disso, os gays, os homens gays, eles têm uma chance muito maior de ter Aids, né? Em 2018, uma pesquisa mostrou que 25% dos gays de São Paulo eram portadores de HIV”.

Mas o que disse Leandro Narloch não é o que aponta a pesquisa. De acordo com o estudo, de 2018, realizado a pedido do Ministério da Saúde, após testes de HIV terem sido realizados em 3.958 homens de 12 capitais, o vírus foi detectado em 18,4% dos exames (em São Paulo, a taxa foi de 24,8%). No total, 75% dos entrevistados afirmaram fazer sexo apenas com homens.

Quando olhando os dados corretamente, fica evidente a distorção promovida pelo jornalista da CNN. Ele mesmo questionou o que havia acabado de dizer, mas sustentou a ideia de que gays tem mais chance de contrair HIV. “Mesmo que esse número seja exagerado, e de fato ele parece mesmo exagerado, o fato é que é dezenas de vezes maior, maior a chance do que na população geral”.

Leandro Narloch concluiu que a mudança promovida pela Anvisa é “pequena” porque gays com mais de um parceiro sexual, segundo ele “promíscuos”, seguem com restrição para doação de sangue.

“A questão é que outros critérios para exclusão já restringem os gays que têm comportamento promíscuo, né? A regra como estava agora, ela estava muito injusta com os gays, por exemplo, que se cuidavam, que faziam sexo protegido ou então que tinham um parceiro só durante toda a vida. E se você simplesmente fizer uma regra, como já existem em vários hemocentros, que exclui as pessoas que têm muitos parceiros sexuais, ou sexo sem camisinha, você já retira todo o problema. Então aí é uma pequena mudança e, sim, muito boa”, finalizou Narloch.

Homofobia é crime!

Desde junho de 2019, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o crime de homofobia deve ser equiparado ao de racismo.

Os magistrados entenderam que houve omissão inconstitucional do Congresso Nacional por não editar lei que criminalize atos de homofobia e de transfobia. Por isso, coube ao Supremo aplicar a lei do racismo para preencher esse espaço.

Entretanto, apesar da notícia positiva, poucos LGBT sabem o que podem fazer caso sejam vítimas de algum crime do tipo. Para mais informações, clique aqui.