Milton Nascimento responde pedido de boicote de Roger Waters

"Pouquíssimas vezes declinei de um convite. Afinal de contas, todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo?", justificou o cantor mineiro

Milton Nascimento recusou atender ao apelo do cantor britânico Roger Waters, ex-integrante da banda do Pink Floyd, para cancelar um show em Tel Aviv, Israel. Em suas redes sociais, o cantor mineiro justificou usando um trecho da música “Nos Bailes da Vida”:”Todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo?”.

Waters apoia o movimento de Boicote, Desinvestimentos e Sanções (BDS), que pressiona artistas internacionais a não se apresentarem em Israel, alegando que o país é responsável por crimes severos contra o povo palestino. Na última semana, o ex-Pink Floyd fez um apelo para que Milton aderisse ao boicote também.

“Quando li que ele estava planejando cruzar a linha de piquete do movimento de BDS para se apresentar em Tel Aviv, fiquei chocado. Eu escrevi para Milton pedindo uma oportunidade de falar com ele. Nem ele nem ninguém de sua equipe me respondeu”, escreveu Waters.

O cantor e compositor brasileiro, no entanto, não viu justificativa para acolher o apelo e se manifestou dias depois, já em solos israelenses. “Fui convidado a cantar aqui por uma empresa gerenciada inteiramente por um brasileiro. Somente com essa informação cai por terra qualquer tipo de argumento de que eu esteja contribuindo com o “apartheid israelense”, justificou.

“Este show NÃO tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense. São meus fãs israelenses que me trouxeram até aqui, sendo que, grande parte destes fãs são brasileiros que vivem em Israel”, completou o artista.

“Todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo?” disse Milton Nascimento
Créditos: reprodução/Instagram
“Todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo?” disse Milton Nascimento

Veja o conteúdo da carta de Milton Nascimento:

“Minha música já me levou para muitos lugares, alguns dos quais eu jamais imaginei. E sou grato por isso. Pouquíssimas vezes declinei de um convite. Afinal de contas, todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo? Já estou em Tel Aviv desde ontem. Fui convidado a cantar aqui por uma empresa gerenciada inteiramente por um brasileiro. Somente com essa informação cai por terra qualquer tipo de argumento de que eu esteja contribuindo com o “apartheid israelense”. Este show NÃO tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense. São meus fãs israelenses que me trouxeram até aqui, sendo que, grande parte destes fãs são brasileiros que vivem em Israel. Durante a ditadura militar brasileira eu jamais deixei de tocar no meu país. Então, por que eu deixaria de tocar agora? Por que deixaria de compartilhar experiências de amor e mudança enquanto acontece no Brasil um governo de extrema-direita? Mesmo divergindo das ideias de um governo, jamais abandonarei meu público. Afinal, são as pessoas que importam e que podem transformar. Minha questão, a qual deixo aqui para reflexão de todos: por que um povo deve sofrer retaliação pelos atos políticos de seus governantes? As minorias contrárias devem continuar sem voz? Para mim, repito, o artista deve ir onde o povo está e hoje eu estou aqui para celebrar a paz e tudo que nos une. Viva o amor, viva a música!” .
Milton Nascimento, 29/06/2019.

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“Minha música já me levou para muitos lugares, alguns dos quais eu jamais imaginei. E sou grato por isso. Pouquíssimas vezes declinei de um convite. Afinal de contas, todo artista deve ir onde o povo está, não é mesmo? Já estou em Tel Aviv desde ontem. Fui convidado a cantar aqui por uma empresa gerenciada inteiramente por um brasileiro. Somente com essa informação cai por terra qualquer tipo de argumento de que eu esteja contribuindo com o “apartheid israelense”. Este show NÃO tem qualquer incentivo do governo de Israel, muito menos do exército israelense. São meus fãs israelenses que me trouxeram até aqui, sendo que, grande parte destes fãs são brasileiros que vivem em Israel. Durante a ditadura militar brasileira eu jamais deixei de tocar no meu país. Então, por que eu deixaria de tocar agora? Por que deixaria de compartilhar experiências de amor e mudança enquanto acontece no Brasil um governo de extrema-direita? Mesmo divergindo das ideias de um governo, jamais abandonarei meu público. Afinal, são as pessoas que importam e que podem transformar. Minha questão, a qual deixo aqui para reflexão de todos: por que um povo deve sofrer retaliação pelos atos políticos de seus governantes? As minorias contrárias devem continuar sem voz? Para mim, repito, o artista deve ir onde o povo está e hoje eu estou aqui para celebrar a paz e tudo que nos une. Viva o amor, viva a música!” . Milton Nascimento, 29/06/2019.

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A militância política de Roger Waters

Roger Waters é um grande militante de causas políticas em todo o mundo. Em 2018, durante o período eleitoral no Brasil, o cantor e compositor inglês fez uma série de shows no país e fez questão de marcar sua posição contra a candidatura do atual presidente Jair Bolsonaro.

Durante os shows por sete capitais, ele chegou a projetar no telão a hastag #EleNão e também a listar os políticos classificados por ele como fascistas.

Waters se manifestou contra a candidatura de Bolsonaro em shows pelo Brasil

Na apresentação em São Paulo, às vésperas da eleição, o telão trazia a frase: “Essa é a nossa última chance de resistir ao fascismo antes de domingo”. Todas essas manifestações de Waters dividia as reações do público em aplausos e vaias.

Na apresentação no Rio, ele homenageou a vereadora Marielle Franco, que foi assassinada em março daquele ano. O músico recebeu em seu palco a filha dela, Luyara Santos, a viúva, Mônica Benício, e a irmã, Anielle Franco.

Em seu discurso, o cantor britânico disse ter ficado de “coração partido” ao ler sobre a execução da parlamentar.