Opinião: No ano de Bolsonaro, racismo impera no BBB 19

Coincidência o presidente eleito com discurso mais intolerante ter o mesmo perfil dos participantes do reality show?

11/02/2019 16:11

A Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) do Rio Janeiro (RJ) abriu um inquérito para apurar casos de racismo dentro do ‘BBB 19’, após vir a público na edição do programa do último domingo, 10, uma série de declarações preconceituosas por parte de Maycon, brother polêmico do reality show.

Paula e Maycon soltam uma frase preconceituosa quase todos os dias dentro do BBB 19
Paula e Maycon soltam uma frase preconceituosa quase todos os dias dentro do BBB 19 - Reprodução/TV Globo

“De acordo com informações da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) foi instaurado inquérito para apurar o ocorrido. As investigações estão sob sigilo”, dizia a nota enviada à imprensa nesta segunda-feira, 11.

Para se ter uma ideia da gravidade da situação, em menos de 24 horas, o vendedor de queijos soltou três comentários envolvendo racismo e intolerância religiosa com dois alvos fixos: Rodrigo e Gabriela – ambos participantes negros.

Até insinuar um ‘trabalho’ feito para prejudicar Isabella ele insinuou envolvendo a designer. Em conversa com Paula e Hariany, o brother contou que, além de sentir um arrepio ao ver Rodrigo e Gabi na pista de dança, ele também tem uma teoria sobre a gripe que acometeu a modelo.

“Eu falei: ‘Ela [Gabriela] é uma pessoa boa, mas talvez a pessoa ruim é a que está andando junto com ela’. Porque esses dias que ela ficou doente, foi muito estranho”, opinou.

Paula, que também tem uma lista extensa de declarações racistas, concordou que o vírus que Isabella pegou pode ter relação com a sugestão de Maycon. “Pegar gripe assim, né?”. “Foi coisa estranha isso aí. E não era pra ela não, viu?”, continuou o participante. “Isso pega sempre nas pessoas mais próximas, se a gente está blindado”, respondeu a bacharel em Direito.

BBB da intolerância com Bolsonaro no poder

Maycon e Paula têm dado exemplo de como as pessoas não devem agir diante de racismo e preconceito – tudo isso no ano em que Bolsonaro assumiu o poder
Maycon e Paula têm dado exemplo de como as pessoas não devem agir diante de racismo e preconceito – tudo isso no ano em que Bolsonaro assumiu o poder - Reprodução/TV Globo

E o show de horrores não para por aí. Recentemente, a sister declarou que tem medo de Rodrigo, afirmou aos seus aliados no jogo que o “nosso Deus é maior”, declarou com espanto já ter beijado um rapaz da favela, e tirou sarro da dependência química de Fábio Assunção. Diego também já deu um exemplo de machismo e gordofobia ao estipular parâmetros de uma roupa ideal para uma mulheres com silhuetas perfeitas:

Quem acompanhou os outros 18 programas do ‘BBB’ sabe que assuntos polêmicos como estes acontecem com uma frequência maior do que deveriam. Você se lembra do caso de racismo ocorrido em 2016? O Ministério Público Federal (MPF) no Rio de Janeiro abriu um processo contra a Globo por discriminação racial e dano moral coletivo por causa da esponja no formato de um homem negro que foi colocada na pia da cozinha, como você pode ver no link abaixo:

E quando o participante Marcos Harter foi expulso por manter um relacionamento abusivo com Emilly no ‘BBB 17’? O médico reagia com agressividade e partia pra cima da estudante em frente às câmeras:

Mas o que Jair Bolsonaro tem a ver com todas estas polêmicas do reality show? Coincidência ou não, justamente no ano em que o candidato do PSL – que ficou conhecido por suas declarações racistas, homofóbicas, machistas e intolerantes – é eleito presidente da república, a Globo escala um time de participantes com discursos semelhantes aos do político. Será que é possível afirmar que, após a vitória de Bolsonaro, o perfil dos confinados nada mais é do que um retrato fidedigno da cultura brasileira?