Crianças entendem melhor poesia do que os adultos

A afirmação é de um grupo de pedagogos e psicólogos que compõem a equipe da plataforma de assinatura de livros “Leiturinha“. Segundo a equipe, a poesia ser mais facilmente assimilada pelas crianças do que pelos adultos, reforçando a importância do incentivo a esse gênero literário dissociado da intenção pedagogizante: para eles, é mais importante proporcionar a experiência da poesia do que associá-la a uma avaliação de compreensão ou atividade escolar.

O próprio pesquisador e filósofo francês Gaston Bachelard já afirmava, em um livro de 1988 , “A poética do devaneio”, que “a infância é um germe de poema”. Com essa afirmação, ele defende o dom natural dos pequenos para o “devaneio poético”, responsável, em grande parte, pela maneira como as crianças elaboram o mundo.

Se muitos adultos têm dificuldade de ler poesia, isso se dá principalmente pelo fato de que o poema é o lugar da metáfora e da linguagem simbólica, que sugere mais do que afirma, e oferece possibilidades mais do que fatos. Na vida adulta, nos distanciamos dessa forma de enxergar as coisas.

Mas ao contrário, para as crianças, assimilar esse tipo de linguagem é natural, faz parte de suas habilidades imaginativas mais puras.

Para ler poesia com as crianças, mais do que “mostrar” onde está o sentido, o importante é oferecer a experiência.
Para ler poesia com as crianças, mais do que “mostrar” onde está o sentido, o importante é oferecer a experiência.

Dicas de incentivo à leitura

“Quem conseguiu definir a poesia até hoje? Ninguém. Há duas mil definições que vêm desde os gregos, que já se preocupavam com o problema, e Aristóteles tem nada menos que uma Poética para isso, mas não há uma definição da poesia que me convença e que sobretudo convença a um poeta. No fundo, a poesia é isso que fica de fora quando terminamos de definir a poesia: escapa e não permite definição.”

A provocação acima é do escritor argentino Jorge Luis Borges, e revela algo que é fácil esquecer, principalmente no ambiente escolar: poesia não é para ‘entender’.

Para ler um poema, não é necessário nenhum pré-requisito a não a disponibilidade e o interesse, e quanto mais “puros” estiver o leitor, melhor vai conseguir aproveitar o conteúdo.

“Mania de Explicação”, de Adriana Falcão, é uma verdadeira ode à imaginação poética. Com simplicidade e lirismo, a autora propõe ‘explicações’ de criança para as palavras do dia a dia.
“Mania de Explicação”, de Adriana Falcão, é uma verdadeira ode à imaginação poética. Com simplicidade e lirismo, a autora propõe ‘explicações’ de criança para as palavras do dia a dia.

É na infância que desenvolvemos hábitos e preferências. Lendo poesia desde cedo, desenvolve-se uma sensibilidade em aspectos da vida com um todo, como sensibilidade e capacidade de ressignificar o cotidiano a partir de observações aparentemente banais.

A função do poema transcende sua intenção enquanto instrumento educativo. Por isso, é importante ensinar as crianças a lerem os poemas livres de intenção, apenas lendo.

A curiosidade pelos livros pode começar já na primeira infância.
A curiosidade pelos livros pode começar já na primeira infância.

“Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas e, com o tempo, deixam de sê-lo?”: essa é a provocação central do livro “Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira”. Organizado e ilustrado pela compositora Adriana Calcanhoto, esta coletânea reúne poemas de alguns dos grandes nomes da poesia brasileira, em um livro dedicado a crianças de todas as idades.

Uma dica de mediação para esta e outras obras infantis é ‘não é preciso entender tudo ao pé da letra’. Incentivar a criança a refletir e meditar sobre o que leu também ajuda na compreensão e estimula a criatividade, além de contextualizar e ambientar a obra. Afinal, a poesia tem sua origem na fala. Quando parecer difícil de entender, pode se fazer a leitura em voz alta.