Eduarda, diagnosticada com autismo, entende Filosofia como poucos

A capacidade imaginativa das crianças e sua habilidade de recriar sentidos nas situações mais cotidianas revela um dom quase natural dos pequenos para filosofar. Eduarda Santos, de 7 anos, deu mais uma demonstração de que crianças são pessoas pequenas, mas com ideias enormes. Em uma prova de Filosofia na escola, a menina, que foi diagnosticada com autismo, elaborou respostas surpreendentes a questões corriqueiras, e encantou a internet.

Quando a avaliação questionou “Qual o seu maior sonho?”, a pequena respondeu: “Comer dois potes de sorvete”. A resposta veio acompanhada de uma ilustração que mostra dois grandes potes de sorvete cor-de-rosa. A resposta filosófica vem logo abaixo, quando a atividade pede que os alunos descrevam a importância do sonho mencionado. “Refletindo sobre seu sonho representado acima, você o julga como um desejo ou uma necessidade?”. A pequena Eduarda, então, filosofou feito gente grande: “Necessidade é o que a gente precisa; desejo é o que a gente não precisa“, escreveu Eduarda, que completará 8 anos em breve e é diagnosticada com autismo.

Com simplicidade e lirismo, a menina faz uma metáfora do valor relativo das coisas. E a prova continua: “Seu pedido na questão anterior foi um desejo ou uma necessidade? Justifique sua resposta”, ao que Eduarda respondeu: “Desejo, porque eu não precisava”. Simples assim? Não, sua resposta é material filosófico dos mais potentes.

Kenya, mãe de Eduarda, disse que a menina relatou o feito como algo normal. “Nós adultos temos tantos sonhos, desejos e às vezes nem tudo é necessidade. Realmente parei para pensar: ‘O que é importante hoje?’. Chorei, chorei muito. São coisas pequenas que fazem a diferença, pequenos gestos“.

A pequena Eduarda tem apenas 7 anos e já sabe filosofar sobre o valor que damos às coisas.
A pequena Eduarda tem apenas 7 anos e já sabe filosofar sobre o valor que damos às coisas.

A importância de incentivar o devaneio infantil

Para Peter Worley, educador e pesquisador da King’s College de Londres, muitos professores caem no equívoco de achar que aprender filosofia é aprender o que ela quer dizer. Para ele, é muito mais do que isso, é colocar-se à disposição da reflexão e do pensamento crítico. Além disso, a Filosofia é mais uma das disciplinas que considera a criança como um ser integral, dotado de habilidades cognitivas tão ou mais desenvolvidas do que os adultos, necessitando apenas de estímulos e de conteúdos e referências que não as subestimem.

Daí a importância de refletir sobre o que as crianças perdem quando o ensino da Filosofia nas escolas não é estimulado suficientemente. Afinal, mais do que um currículo obrigatório, a filosofia é inerente ao ser humano, e estudos já comprovam que ela contribui para a apreensão das ciências práticas, como a matemática.