A conexão clandestina das notícias falsas

Catraca Livre revela o esquema de notícias falsas, comandado pelo MBL, para derrubar o secretário da Educação da cidade de São Paulo, Alexandre Schneider – esse esquema está agora sob investigação da Delegacia de Crimes Eletrônicos de São Paulo.

Alexandre Schneider é atacado por ter desautorizado a intimidação feita por Fernando Holiday, vereador e líder do MBL, às escolas públicas. Em entrevista publicada hoje pela Folha, líder do MBL, vereador Fernando Holiday insina rompedimento com João Doria se o secretário não for demitido.
Essa foto corre nas redes para insinuar que o secretário tem fortes laços com o PSOL. Mas o deputado nunca foi do PSOL. Era do PT e, desde 2015, está na Rede Sustentabilidade.

O secretário de Educação de SP, Alexandre Schneider (dir.), ao lado de Molon

O esquema é tão violento que o secretário pediu demissão, mas o prefeito João Doria recusou. Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL, espalhou nas redes que Schneider é partidário do PSOL. Montagens com fotos do secretário segurando um livro com o símbolo da foice e martelo na capa foram replicadas nas redes sociais.

Mensagem recebida pela vereadora Sâmia Bomfim
Mensagem recebida pela vereadora Sâmia Bomfim
Mensagem recebida pela vereadora Sâmia Bomfim
Mensagem recebida pela vereadora Sâmia Bomfim
Mensagem recebida pela vereadora Sâmia Bomfim

Por denunciar a intimidação de Fernando Holiday, líder do MBL, as vereadoras Sâmia Bonfim e Isa Penna tiveram seus números de celulares nas redes sociais

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O núcleo difusor das notícias falsas é o site JornaLivre, há dias assumido por Roger Scar depois de uma investigação do Catraca Livre.

Roger Scar, editor do JornaLivre
Roger Scar, editor do JornaLivre

Depois de três semanas de investigação, o Catraca Livre conseguiu revelar nesta terça-feira (4) um primeiro rosto por trás do site Jornalivre, associado ao MBL – e, a partir dele, mais descobertas estão mostrando conexões clandestinas.

Quem se apresentou como editor do JornaLivre, conhecido por ofender jornalistas, políticos e empresários, foi Roger Scar, cujo nome na verdade é Roger Roberto Dias de André. Ele mora em Joinville (SC), mas, no seu perfil nas redes sociais não aparece um detalhe: até dezembro do ano passado, ele era diretor de formação política da juventude catarinense do DEM. Ele nega, porém, que seja filiado ao DEM – o mesmo partido de Fernando Holiday, líder do MBL e um dos principais personagens tanto das páginas pessoais de Scar quanto do JornaLivre.

Seguindo a orientação do MBL, o site apoia a campanha presidencial de João Doria. Mas o prefeito garante que não conhecia o site e condena sua atitude. “É inadmissível que uma publicação jornalística use do anonimato para ofender as pessoas e disseminar mentiras. A obrigação da polícia é investigar os responsáveis. Isso até parece uma sabotagem”, diz Doria.

A razão dele esconder sua vinculação com o DEM é simples: evitar comprometer Fernando Holiday, acusado pelo Catraca Livre de ter vinculações com um site-fantasma, agora investigado pela Delegacia de Crimes Eletrônicos da Secretaria de Segurança de São Paulo.

Com a descoberta de Scar, foi possível estabelecer novas conexões da rede de ataques, formadas por diferentes sites, perfis falsos e verdadeiros. A mentira começa com perfis falsos e, depois, passa a ser reproduzida por perfis verdadeiros, tentando dar credibilidade à notícia.

O delegado José Mariano de Araújo, responsável pelo Departamento de Crimes Eletrônicos de São Paulo, disse hoje suspeitar que Roger Scar (Roger Roberto Dias de André) é “apenas um laranja”. Scar se apresentou como editor do site-fantasma JornaLivre ( https://jornalivre.com/), que entrou em listas dos sites de notícias falsas no Brasil. O site divulgava anonimamente ofensas contra políticos, publicitários, artistas e jornalistas como Otavio Frias Filho (“Folha”), André Petry (“Veja”), Mino Carta (“Carta Capital”), Tatiana Farah (BuzzFeed), Delfim Netto, Wagner Moura, Regina Casé, Letícia Sabatella. Sobre Gilberto Dimenstein, fundador do Catraca Livre,  o site diz que ele é   de “extrema esquerda” e tem  “boteco irregular” na Vila Madalena.

A suspeita do delegado, um dos maiores especialistas brasileiros de crimes eletrônicos, é baseada em sua investigação sobre os conteúdos do site. O site é produzido em Santa Catarina, mas, em sua maioria, cobre assuntos locais da cidade de São Paulo, ligados ao MBL. “O site não tem anunciante. Como se mantém? Por que alguém de outro Estado cobre tantos assuntos de outra cidade?”, pergunta Mariano, que vai acionar a polícia de Santa Catarina para ouvir Scar.

Chamou a atenção ontem do delegado que um dos principais assuntos do Jornalivre foram os ataques ao secretário municipal de Educação de São Paulo, Alexandre Schneider, que desautorizou Fernando Holiday a intimidar professores de escolas municipais. Desde então, o MBL lançou campanha para derrubar o secretário, alvo de notícias falsas.

Na visão do delegado, Scar foi obrigado assumir a autoria do site depois que a investigação do Catraca Livre mostrou suas relações com lideranças do MBL, em especial Fernando Holiday e Kim Kataguiri. “Isso torna Holiday um dos suspeitos. Mas ainda temos muito a investigar”.

Uma das principais vítimas do JornaLivre e das páginas de Scar é o jornalista Gilberto Dimenstein, fundador do Catraca Livre. Ele não apenas ajudou a denunciar o Caixa 2 de Holiday, mas investigava o JornaLivre. Quanto mais investigava, mais ataques recebia de diferentes locais.

Um deles veio de um site chamado Sul Connection , que servia como “fonte” para o JornaLivre.

Manchete do Sul Connection atacando Dimenstein
Manchete do Sul Connection atacando Dimenstein
Apresentação do site Sul Connection
Apresentação do site Sul Connection

Esse site começa, então, a ser reproduzido por perfis verdadeiros, como o de Holiday. Ou do publicitário André Kirkelis, diretor de criação de uma das mais importantes agências de publicidade do Brasil.

Kirkelis participou da invasão à palestra de Dimenstein, no último sábado (1º), por militantes do MBL. Aqui você vê, no vídeo, ele tentando agarrar o microfone.

Ocorre que o Sul Connection também é de Santa Catarina e reproduz os ataques de Rogério Scar contra Dimenstein. Aliás, descobrimos que Scar também faz parte do Sul Connection, como mostra a imagem abaixo.

Roger Scar além de ser editor do JornaLivre também assina publicação do Sul Connection

Mais Fake News

A rede de sites que reproduzem esse tipo de notícias falsas não é pequena. Outra página que vem ficando conhecida é   “O Reacionário” que também ataca o jornalista Gilberto Dimenstein por alertar, em seu perfil no Facebook, aos leitores que tomem cuidado com esse tipo de conteúdo.