Mais um brasileiro é identificado em vídeo de assédio na Rússia
Um torcedor brasileiro foi reconhecido por colegas de faculdade no vídeo de assédio na Rússia durante a Copa do Mundo. Nas imagens, que causaram revolta nas redes sociais, homens cercam uma mulher loira e cantam: “Essa é bem rosinha!”. Depois, mudam para “b… rosa!”.
O brasileiro é Leonardo da Silva Junior, conhecido como Leo Catuaba Selvagem Valente. Após a repercussão do caso, colegas escreveram uma carta de repúdio ao ato do torcedor.
“Em uma das versões do vídeo que circulam pelas redes, Leonardo aparece atrás da vítima, trajando um boné com a aba virada para trás. No registro, fica evidente que Leonardo entoa, junto do grupo, palavras ofensivas, as quais também profere a vítima, provavelmente desconhecendo a língua portuguesa e a intenção assediadora do grupo”, diz o texto assinado por 47 pessoas e enviado à Catraca Livre.
“A ‘brincadeira’ – como alguns/as se referem a esse ato – desses homens, que fazem referência à cor do sexo da vítima, como quem a celebra, é sintoma e resultado de desigualdades sociais de gênero e de raça, de forma indissociável, que há séculos danam mulheres, psicológica e fisicamente. Trata-se de um notório desrespeito que só é possível porque, em sociedades patriarcais, potencializa-se, prioritariamente, a autonomia ou soberania de homens brancos, heterossexuais e cisgênero”, continua a carta.
De acordo com o R7, o brasileiro apagou todas as redes sociais, mas a reportagem teve acesso ao conteúdo. Em um dos posts, ele faz uma ironia sobre as acusações: “Não sou eu. É meu irmão bastardo. Bjs”. Leonardo é formado em jornalismo, mas trabalha em uma empresa de São Caetano do Sul, na Região Metropolitana de São Paulo, com projetos na área de automobilística, segundo seu perfil no Linkedin.
A Catraca Livre tentou entrar em contato com Leonardo por e-mail, mas não obteve retorno.
Os outros três homens já identificados no vídeo são: o engenheiro Luciano Gil Mendes Coelho, do Piauí; o Policial Militar Eduardo Nunes, de Santa Catarina; e o político Diego Valença Jatobá, de Pernambuco.
Leia a carta de repúdio na íntegra:
“Carta de repúdio ao jornalista Leonardo da Silva Júnior, ex-colega de turma, assediador no caso envolvendo a mulher russa
Nós, jornalistas, ex-alunas/os da Universidade Metodista de São Paulo, do curso de Jornalismo, graduadas/os no ano de 2006, no período noturno, vimos por meio desta carta declarar o nosso absoluto repúdio ao ato do colega de turma Leonardo da Silva Júnior, conhecido nas redes sociais como Leo Catuaba Selvagem, que, junto de um grupo de homens, praticou assédio contra uma mulher russa, fato registrado em vídeo pelos próprios assediadores e que vem sendo amplamente divulgado e criticado.
Em uma das versões do vídeo que circulam pelas redes, Leonardo aparece atrás da vítima, trajando um boné com a aba virada para trás. No registro, fica evidente que Leonardo entoa, junto do grupo, palavras ofensivas, as quais também profere a vítima, provavelmente desconhecendo a língua portuguesa e a intenção assediadora do grupo.
Acontecimentos como esse são rotineiros no Brasil, onde assédios às mulheres, assim como à comunidade LGBTQIA+, são insuficientemente registrados, denunciados e juridicamente encaminhados. Por isso mesmo, apoiamos, e mais, consideramos imprescindíveis ações que envolvam a denúncia, a apuração e o enquadramento jurídico do ato, de teor evidentemente machista e racista, e consequências coerentes.
A “brincadeira” – como alguns/as se referem a esse ato – desses homens, que fazem referência à cor do sexo da vítima, como quem a celebra, é sintoma e resultado de desigualdades sociais de gênero e de raça, de forma indissociável, que há séculos danam mulheres, psicológica e fisicamente. Trata-se de um notório desrespeito que só é possível porque, em sociedades patriarcais, potencializa-se, prioritariamente, a autonomia ou soberania de homens brancos, heterossexuais e cisgênero.
É de longa data e larga repercussão a luta de movimentos feministas ou de mulheres no sentido de denunciar, legitimar e limar essas desigualdades, que são estruturais e estruturantes desta sociedade. É fundamental que se deixe de naturalizar acontecimentos como esse e que se busque e destaque, cada vez mais, alternativas para debater e desconstruir o machismo, condição predatória para as mulheres, comunidade LGBTQIA+ e também para a subjetividade dos homens heterossexuais cisgênero. A masculinidade tóxica é prejudicial a todas e todos.
O descaso com pautas envolvendo desigualdades de gênero e raciais deve ser combatido em todos os espaços, institucionais ou não, e também ceifado de formadores/as de opinião, como é o caso de Leonardo da Silva Júnior, que, embora hoje não exerça função no jornalismo, tem o título de Bacharel na profissão.
São outros homens identificados no registro em vídeo do ato, até o momento, o engenheiro civil Luciano Gil Mendes Coelho, ex-secretário de Saúde e de Educação do Estado do Piauí; Diego Valença Jatobá, que foi secretário de turismo de Ipojuca (PE); e o policial militar Eduardo Nunes, tenente em Lages, na serra catarinense.
Assinam esta carta as/os jornalistas:
Amauri Martins
Adriana Alves
Adriano Oliveira
Aline Szelpal Pires
Amanda Prado
Ana Luiza Rodrigues Basilio
Ana Paula Roldão
Camila Brunelli
Daniel Betega
Débora Freitas
Dóris Lira
Douglas Brito
Fabiana Menezes
Gabriela Rocha
Gabriel Toueg
Geisa D’avo
Havolene Valinhos
Jéssica Lavrini Panazzolo
Joana Horta
Karin Sato
Karla Machado
Laís Correard
Larissa Andrade
Luciana Robles Rafael
Marcelle Grêco
Marcelo Pereira da Silva
Marília Rosa Barbosa
Natane Tamasauskas
Nubia Zuanaci
Obede Junior
Pamela Lee Hamer
Paulo Roberto Scalabrin
Rafael Horta
Raquel Marques Cotrim
Renata Guerra
Renata Leandro Boniol
Renata Rossi
Renata Trigo Bayarri
Rodrigo Martins
Rosana Villar de Souza
Samara Busa
Sarah Maluf
Tatiana Ferreira
Tatiana Katibian
Thais Lazzeri
Thais Queiroz
Vinicius Navarro Morende”
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