Sem babás ou creches, mães criam grupos para cuidar dos filhos
Cada mãe dedica um dia da semana para cuidar das crianças do grupo e decisões são tomadas em coletivo
Ser mãe nos dias de hoje não é fácil. A falta de tempo obriga mães e pais a deixarem os filhos em creches ou aos cuidados de babás.
Mas existe um gargalo que torna o problema ainda maior. As creches públicas estão superlotadas e não é todo mundo que tem dinheiro para bancar uma instituição privada ou contratar uma babá.
Além disso, as instituições podem não contemplar a educação que os pais desejam para os filhos.
Da necessidade, uma solução
A partir dessa necessidade, grupos de mães passaram a se organizar para cuidar dos filhos umas das outras. Tomando decisões coletivas, elas constroem a educação de seus pequenos.
O movimento está ganhando força e recebeu o nome de Creche Parental, Cooperativa de Mães ou Cuidado Coletivo.
“A cooperativa é uma extensão da minha casa”
Grace L. Barbosa, de Curitiba, é mãe de Júlia. Ela conta que participava de encontros maternos com outras mães e sempre conversava sobre as necessidades e os tipos de cuidados que procuravam, mas não encontravam.
“Nosso grupo surgiu a partir da necessidade mesmo. Só depois fomos descobrir que já existiam modelos semelhantes em outros lugares do mundo”, conta Grace.
Ela também lembra que o cuidado coletivo não é uma novidade. “Antigamente, você ainda podia deixar os filhos com a avó, uma tia ou vizinha. Vivemos outro contexto agora. Uma geração de crianças na qual os avós ainda trabalham”, comenta.
“O melhor da cooperativa é que é uma extensão da minha casa. Eu conheço o filho das outras mães como se fossem os meus filhos”, comenta.
Compromisso e dedicação
Por outro lado, a cooperativa acaba sendo um trabalho a mais. “É uma coisa que exige tempo. Dedico uma tarde por semana, preparo material pedagógico e participo de reuniões”, comenta. Sem contar que as mães não têm formação profissional na área e aprendem com a própria experiência.
Para ela, o esforço compensa: “Eles cuidam uns dos outros e ficam o tempo todo juntos. Eu vejo minha filha cuidando das outras crianças como se fossem irmãos”.
Eles não querem reproduzir o modelo atual
Camila Fernandes mora no Rio de Janeiro e é doutoranda em antropologia do Museu Nacional da UFRJ. Ela estuda o cuidado de crianças, especialmente em comunidades populares, e se interessou pelas cooperativas de mães como uma alternativa às creches elitizadas e à precariedade dos serviços públicos.
Ela também lembra que esses coletivos têm um posicionamento político. “Eles se recusam a contratar babás, pois acreditam que estas profissionais precisam deixar os filhos em situações muitas vezes de risco ou de fragilidade, além deste trabalho não receber a remuneração devida relativa ao seu valor de trabalho”, comenta.
“As classes médias e as elites são acostumadas com o emprego do serviço doméstico. isto reproduz uma hierarquia de classes. E esses grupos estão tentando sair desse ciclo e cuidar das próprias tarefas”, comenta Camila Fernandes.
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