Príncipe George, 4, é chamado de ‘reizinho gay’ na internet

27/07/2017 12:45

A família real britânica é mais uma vez o centro dos holofotes da mídia esta semana. Presenças constantes na imprensa, a princesa Kate Middleton e o príncipe William agora dão lugar à imagem do filho, o pequeno George, de quatro anos. Uma foto em que ele aparece com as duas mãos junto ao rosto viralizou nas redes sociais, e foi o suficiente para disparar uma série de comentários tão capciosos quanto ambíguos. O que tudo isso significa?

Príncipe George, 4.
Príncipe George, 4.

De um lado, pessoas avaliando a pose do menino como “afeminada”, e taxando-o como “o primeiro reizinho gay” da História – o que foi comemorado de forma supostamente irônica como uma espécie de ascensão homossexual ao reino. De outro, o preconceito. A associação do comportamento do menino à sua orientação sexual deu margem a comentários homofóbicos, que colocam a homossexualidade num lugar de julgamento e de conotação negativa.

Por conta disso, a foto despertou críticas àqueles que estariam desrespeitando a sexualidade de uma criança em formação. “Insinuar que o príncipe George é gay é o tipo de homofobia que você ficaria ofendido se fosse com você. Gays deveriam saber melhor do que ninguém: ele é só uma criança!”, defendeu um usuário do Twitter.

Os comentários de alguns foram publicamente criticados por julgar a sexualidade de um menino de apenas quatro anos.
Os comentários de alguns foram publicamente criticados por julgar a sexualidade de um menino de apenas quatro anos.

Por se tratar da imagem pública de uma criança, há uma série de questões a serem levadas em consideração aqui. Por que é considerado normal uma criança ter sua imagem e identidade sexual exposta de forma arbitrária e colocada sob avaliação? Por que o registro de um comportamento supostamente afeminado é considerado uma ofensa?

O Catraquinha conversou sobre o assunto com a pedagoga Caroline Arcari, diretora da Escola do Ser e autora do livro “Pipo e Fifi”, que trata do tema prevenção do abuso sexual infantil. Para ela, precisamos considerar antes de qualquer coisa que se trata de uma criança em sua primeira infância e que, portanto, deve ter sua liberdade de ser resguardada e respeitada.

“Chorar, dançar, ser sensível, se movimentar de forma delicada, cozinhar, cuidar dos filhos, trocar fraldas, ter medo são características que não precisam do órgão genital. Basta ser humano. Não são piadinhas. Não são comentários inofensivos. São sintomas de uma sociedade doente que mostra que é urgente a reflexão sobre novas e diferentes masculinidades, que estabeleçam papeis mais justos e com maior igualdade entre homens e mulheres”, defende.

Preconceito = Desinformação

“O teor das piadas feitas quanto à pose do príncipe envolve ignorância, confusão quanto aos conceitos de comportamento, gênero e orientação sexual. O fato de ele supostamente se expressar de forma diferente dos padrões estabelecidos como a ‘masculinidade vigente’ não tem necessariamente a ver com sua orientação sexual. Estamos falando de uma criança em fase de desenvolvimento, lembremos disso”, ressalta a especialista.

Para além do fato de ser uma criança exposta na mídia, é valido refletir sobre alguns porquês, como por exemplo: por que considerar ultrajante alguém ser chamado de “gay”?

Das piadas homofóbicas aos comentários sobre o gesto aparentemente afeminado do príncipe, o mecanismo principal que teceu essa reação na internet foi o mesmo: o machismo. Assim como ‘magro’ nao é elogio e ‘gordo’ não é ofensa, apenas características pessoais, ‘hétero’ não deveria ser elogio, assim como ‘gay’ não deveria ter conotação depreciativa ou negativa. São caracteristicas da personalidade humana.

Especialista em sexualidade e educação infantil, Caroline criou o curso “Princesas de capa, heróis de avental”, que ensina meninos e meninas a desempenhar considerados sexistas, como slingar e cuidar da casa, a fim de trabalhar a questão de gênero por uma perspectiva lúdica, e desconstruir os papéis sociais historicamente associados ao feminino e masculino. Nesse sentido, ela evoca a importância de subverter as noções de gênero na educação das crianças, se quisermos construir uma sociedade mais igualitária.

“Na exigência de se manter essa masculinidade agressiva – pautada no controle e exercício de poder – está o arcabouço de uma sociedade que mata milhares de mulheres todos os dias, autoriza casamento infantil, comete violência doméstica e sacrifica tudo que pode abalar os valores do macho predatório.

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