Celíaco completa 1.000 dias de viagem volta ao mundo

Juan Ayala, 32 anos, é “Un Celiaco Por El Mundo” ou o “Viajante Celíaco”. Ele e sua esposa, Mar Serrano, 31, estão rodando o mundo desde maio de 2013. Trabalhando como economistas por um longo tempo, eles decidiram mudar suas vidas. “Era nosso sonho. Tínhamos um estilo de vida ‘regular’, trabalhávamos em um escritório com poucas horas livres por dia. Em 2013, demos nosso primeiro passo para mudar isso. Deixamos nosso trabalho e começamos a planejar nosso primeiro destino: Ásia”, conta Juan.

Viajar mundo a fora não é algo fácil para ninguém e fica ainda mais difícil quando o viajante tem doença celíaca (causada pela intolerância ao glúten) e está longe de casa há 1.000 dias –completos em 10 de fevereiro de 2016. Juan recebeu seu diagnóstico aos 26 anos. Isso só aconteceu depois de muito tempo, desde que ele tinha 13 anos, de problemas gástricos, anemia e tonturas. Essa doença autoimune, no entanto, não impediria o sonho de Juan se tornar realidade. “Celíacos sempre podem comer alimentos naturalmente sem glúten –carnes, peixes, ovos, legumes, frutas. Eu evito todas as chances de contaminação cruzada e sei que posso sempre encontrar algo seguro na minha bolsa. Eu não peço ao mundo uma refeição sem glúten deliciosa, como pão ou molhos especiais. Eu apenas escolho pratos simples e deixo o mundo me mostra suas maravilhas sem glúten”, acrescenta ele.

Desafios

O maior desafio de viajar com restrição alimentar, na opinião de Juan, é a falta de conhecimento não só de não celíacos, mas também dos próprio celíacos. “Se todo mundo tivesse conhecimento sobre a doença celíaca, seríamos capazes de detectar pontos de glúten, descartar refeições arriscadas, escolher produtos naturalmente sem glúten e garantir nossa saúde. Não se trata evitar ingredientes sem glúten, mas a contaminação cruzada. Essa é a parte mais difícil e não só para celíacos, mas para sensíveis ao glúten e alérgicos”, completa. O que Juan tenta fazer é ensinar outras pessoas por onde passa sobre as desordens relacionadas ao glúten.

Foto por Juan Ayala
Foto por Juan Ayala

A parte mais complicada da alimentação durante a aventura de Juan aconteceu nos países da Ásia: Camboja, Laos e Myanmar. As dificuldades estavam relacionadas à comunicação e à falta de informação sobre a doença celíaca. “Os hábitos alimentares deles incluem muitos molhos, como o molho de soja e temperos”, lembra. Juan também enfrentou desafios para comer em segurança na América do Sul: Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Paraguai. “Eles têm a ideia errada de que todos os ‘gringos’ têm um estômago fraco. Por isso, eles não cuidam da contaminação cruzada e é uma dificuldade comer em restaurantes”, reforça. Mas em nem todos os países latinos a situação é a mesma. “Na Argentina, Uruguai e Chile, o conhecimento está ganhando espaço e está ficando mais fácil para os celíacos comerem fora. A regulamentação brasileira para rotular os produtos sem glúten também ajuda muito, embora o país precise revisar essa lei e permitir menor quantidade de glúten (ppm -partes por milhão) em cada produto e fiscalizar melhor as empresas”, completa ele.

Surpreendentemente, Juan encontrou nesta viagem muitos países que têm pratos naturalmente sem glúten em seus hábitos alimentares. Por outro lado, muitas vezes ele encontrou lugares que dizem ter no menu opções sem glúten e ele acabou conseguindo comer apenas arroz e frutas. Em outras ocasiões, foi a um supermercado indicado por ter produtos sem glúten e não encontrou nada nas prateleiras.

Para evitar ser contaminado com glúten, Juan trabalha duro todos os dias. “Eu tive que aprender a dizer algumas palavras no idioma local dos lugares que visito e a descobrir onde o glúten pode estar escondido. A solução parece ser simples: observar, aprender, sobreviver e melhorar as habilidades para viagem sem glúten. Eu não hesito em entrar em um lugar, verificar tudo e, se encontrar algo estranho, saio. E eu sempre tento cozinhar minha própria comida, buscando opções de couchsurfing para hospedagem ou albergues com cozinha para os hóspedes. Eu já me contaminei algumas vezes. Quando isso acontece, tento descobrir onde errei e espero o tempo e os sintomas passarem, não há muito que um celíaco possa fazer”.

De olho no glúten

Mar, sua parceira de viagem, não é celíaca, mas ela é a responsável pela parte de pesquisa dessa aventura. “Ela geralmente come sem glúten também bem e coloca mais dois olhos em tudo, especialmente para evitar lugares que não sejam seguros para uma alimentação sem glúten. Ela ajuda a explorar os mercados, os pratos tradicionais e, a melhor parte, ela cozinha muito bem”.

Para celíacos ou pessoas em dieta restritiva, Juan deixa algumas dicas sobre viagem. “Viajantes celíacos devem incluir as refeições como uma tarefa extra no cotidiano de uma viagem. Decida o próximo destino, onde dormir, o que visitar e também o que comer. Planejamento e flexibilidade são as chaves para uma viagem tranquila e saudável. E não se esqueça: um celíaco viaja para desfrutar o mundo, não a comida. Você pode sim encontrar algo gostoso sem glúten, então, considere isso um prêmio! Celíacos não comem glúten, mas isso é tudo, temos de lutar para ter uma vida normal, o que inclui viajar”, finaliza ele.

Próximos destinos

A primeira parte da volta ao mundo da dupla de viajantes começou pelo lado leste e já está completa. A meta, agora, é percorrer o oeste. Em poucos dias, Juan e Mar estarão viajando para a Guiana Francesa, Suriname e Guiana – os países mais desconhecidos na América do Sul. Após estes destinos, eles vão navegando pelo Caribe, visitar a maioria das ilhas e descobrir o que eles podem comer no meio do mar e entre as ilhas. Confira como é uma dieta celíaca nesses lugares acompanhando de perto as aventuras de Juan.

Por Zero Gluten & Lactose