“O Jogo das Mulheres do Jaraguá”: Futebol e cultura Guarani em exposição no Museu do Futebol
Mostra reúne fotografias, vídeos, objetos e relatos que colocam as mulheres da Terra Indígena Jaraguá como protagonistas de sua própria história
No coração da cidade de São Paulo, um grito de resistência ecoa pelos campos e pelas paredes do Museu do Futebol. Trata-se da mostra “Jaraguá Kunhague Ouga’a – O jogo das mulheres do Jaraguá”, uma homenagem vibrante à luta, à alegria e à espiritualidade das mulheres Guarani Mbyá. Em cartaz na Sala Osmar Santos, a exposição inaugura um novo formato de mostras temporárias, com duração mais curta, mas com impacto profundo.
Mais do que uma exposição, Jaraguá Kunhague Ouga’a é um manifesto: uma narrativa potente sobre a vivência do futebol feminino indígena como símbolo de identidade, de lazer e de autonomia política. Curada pelas próprias jogadoras guaranis Lurdes Yva Potye e Roseane Reté, com co-curadoria da pesquisadora Maíra Vaz Valente, a mostra reúne fotografias, vídeos, objetos e relatos que colocam as mulheres da Terra Indígena Jaraguá como protagonistas de sua própria história.
Futebol com raízes espirituais
A experiência da mostra começa pela opy, a casa de reza, conduzindo o visitante por um mergulho no cotidiano e nos rituais do povo Guarani Mbyá. Um dos destaques é o ka’a, cerimônia da erva-mate que celebra a transição do “tempo velho” do inverno para o “tempo novo” da primavera e do verão. Essa dimensão espiritual entrelaça-se naturalmente com o futebol, que, para essas mulheres, é menos sobre competição e mais sobre comunhão, alegria e pertencimento.
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Mesmo quando disputam torneios, o espírito que move as atletas não é o da vitória a qualquer custo, mas o da convivência em coletivo. “A gente joga para se encontrar, para rir, para se fortalecer”, relatam as jogadoras nos vídeos exibidos na mostra.
Camisas, histórias e liderança
Entre os objetos expostos estão camisas desenhadas pelas próprias jogadoras, inspiradas em elementos da arte guarani. Cada uma representa uma das cinco equipes femininas da Terra Indígena, reforçando que, ali, o futebol também é ferramenta de expressão cultural.
Mais que atletas, muitas dessas mulheres se tornaram líderes comunitárias a partir do jogo. O futebol, um espaço tradicionalmente masculino, foi conquistado com negociação e resistência — elas precisaram disputar o uso do campinho com os homens da aldeia, em uma luta simbólica e concreta pelo direito de brincar, existir e ocupar seu lugar.
Vozes e olhares indígenas
A maioria do acervo é de autoria guarani: imagens captadas pelas próprias jogadoras, fotógrafos indígenas e colaboradores próximos à comunidade. A exposição também conta com uma obra inédita da artista pataxó Tamikuã Txihi, que vive na Terra Indígena do Jaraguá. Tudo isso em uma apresentação bilíngue, com textos em português e guarani — reafirmando o direito de existir em sua própria língua.
Território e conquista
A mostra acontece em um momento emblemático. Por décadas, a Terra Indígena Jaraguá foi a menor do país, com apenas 1,7 hectare — cerca de dois campos de futebol. Hoje, após anos de mobilização, o território foi oficialmente reconhecido com 532 hectares, graças à republicação da declaratória do Ministério da Justiça em maio de 2025. Um avanço histórico que reconhece a presença e a resistência de sete aldeias: Tekoa Ytu, Tekoa Pyau, Tekoa Itakupe, Tekoa Itawera, Tekoa Itaendy, Tekoa Pindo Mirim e Tekoa Yvy Porã.
Um jogo que é muito mais que um jogo
“Jaraguá Kunhague Ouga’a” é uma exposição sobre futebol, sim. Mas também é sobre espiritualidade, política, afeto e luta. É um convite para que o público repense o lugar do esporte na vida das comunidades indígenas e reconheça as múltiplas camadas de resistência que cabem em um chute na bola.
Ao final da visita, o que fica é a certeza de que o campo de futebol do Jaraguá não é apenas um espaço de lazer. É um território de memória, força e futuro — onde cada partida é também um ato de afirmação cultural.
Exposição “Jaraguá Kunhague Ouga’a – O jogo das mulheres do Jaraguá”
Onde? Museu do Futebol (Sala Osmar Santos) – Endereço: Praça Charles Miller, s/n – Pacaembu, São Paulo – SP
Quando? Terça a domingo
9h às 18h (entrada permitida até 17h)
Toda primeira terça do mês, até as 21h (entrada permitida até 20h)
Quanto?
Inteira: R$ 24,00
Meia: R$ 12,00
Grátis para crianças até 7 anos
Grátis para todos às terças-feiras
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