A nova geração de avós que esbanja jovialidade nas redes sociais
Os chamados avolescentes desconstroem a imagem típica dos idosos e mostram que felicidade e quebra de tabu não têm idade
Se antes, nas mãos, ficavam as agulhas de crochê, agora os dedos estão ocupados em segurar o smartphone com acesso à rede Wi-Fi. E conectada, a nova geração de avós esbanja jovialidade nas redes sociais. Recém-chegada ao Instagram, Dirce Ferreira, de 72 anos, já coleciona 30 mil seguidores, ou ‘seguinetos’ como ela gosta de chamar.
O sucesso veio depois que ela resolveu reproduzir fotos da neta Mariana, de 27 anos, que trabalha como dançarina nos Estados Unidos. Em poses sensuais, dona Dirce aparece seminua e afirma: “Idade é só uma questão de espírito”.
As imagens, segundo a enfermeira aposentada, eram apenas para fazer gozação no grupo da família, mas como todos se divertiram muito, ela resolveu – com a ajuda dos netos – postar na rede social, que é justamente a preferida entre os jovens brasileiros.
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“Aqui na minha cidade, Uberlândia, MG, muitos me julgaram quando eu tirei a foto pelada. Inclusive, teve um cara que comentou assim: ‘Fala para essa velha pelancuda sair daí e ir criar os netos’. Eu já criei todos os meus netos, a mais nova tem 27 anos. Em compensação, tiveram outras pessoas que não viram uma velha pelancuda, elas viram arte”, conta orgulhosa.
A neta Izabela Assis, de 30 anos, garante que a avó nunca ficou presa em pensamentos antigos. “Ela sempre procurou entender o mundo em que ela vive. O que ela não sabe e quer entender o porquê, ela vai no Google, pesquisa e vai atrás”, comenta.
Agora, em seu Instagram, entre publicações de receitas e dicas de cuidados com a horta, a mineira posta fotos suas de maiô, dançando, praticando exercícios físicos e esbanjando saúde e auto-estima.
Dona Dice está longe de ser uma exceção. A nova geração de pessoas com mais de 60 anos está hiperconectada às redes sociais. Os chamados avolescentes possuem perfil no Facebook, Instagram e alguns até produzem conteúdo para o YouTube.
De acordo com uma pesquisa do IBGE, são os idosos que formam o grupo de usuários que mais cresce em presença nas redes sociais. Outras pesquisas sugerem que contato com a família e amigos está entre os principais motivos que levam esse público a manter-se conectado.
Tabu não tem vez
Como todos os avós, Dirce sabe que pode aprender com os netos e vice-versa. E as questões vão muito além do uso da tecnologia. Quando a neta mais velha resolveu abrir sua homossexualidade para a família, o acolhimento da aposentada foi fundamental.
“Ela fez parecer algo normal, e – na verdade – é, né? Então, quando a gente vê uma senhora com 72 anos tratando de alguns assuntos da forma que têm de ser tratados, com naturalidade, e vê outras de 30 olhando com preconceito, a gente imagina que tem algo errado aí”, comenta Izabela.
E dona Dirce garante: preconceito é a única coisa que ainda não entra na sua cabeça. “Antigamente, os pais queriam bater nos filhos por conta da orientação sexual, mas o mundo não é desse jeito, isso é coisa normal. Eu mesma sofri preconceito quando me separei do meu marido com 24 anos, naquela época, mulher desquitada não era vista com bons olhos. Mas esse negócio de tabu é só ir quebrando, enfrentando a realidade como ela é”, diz.
Um mundo inteiro para descobrir
Para essa geração de avolescentes, a terceira idade não é sinônimo de velhice e, talvez por isso, pouco se parecem com os avós de gerações anteriores.
“Na época dos meus avós, era ‘sim, senhora’ e ‘não, senhora’. Tudo você tinha que dar na mão, você não podia falar nada, às vezes, nem levantar a cabeça direito porque eles eram muito sistemáticos. E hoje é muito diferente, meus netos têm liberdade de conversar comigo sobre todo tipo de assunto. Muitas vezes, eles falam primeiro comigo para depois levar para os pais deles”, conta.
Além de ter as redes sociais como um hobby, dona Dirce busca a longevidade dançando, fazendo exercícios físicos e até tatuagem com os netos.
“Esse envelhecer para mim não significa nada porque eu não me sinto velha. Cada parte que enruga mais, eu entendo como se fosse uma experiência um aprendizado. Mas a minha mente e o meu coração não envelheceram, não, estou melhor ainda porque hoje tenho sabedoria. Então, eu digo: não fiquem no sofá, ocupem a cabeça, tem um mundo inteiro para gente descobrir”.