Vinagre, bicarbonato ou água sanitária? Saiba o que realmente funciona na limpeza da casa, segundo especialista
Misturar vinagre, bicarbonato e água sanitária parece inofensivo, mas pode ser perigoso e ineficaz; engenheiro químico explica o que realmente limpa
Baratos, fáceis de encontrar no mercado e presentes em quase todas as casas. Vinagre, bicarbonato de sódio, limão e água sanitária são os queridinhos das receitas caseiras de limpeza.

Apesar da popularidade, essa prática pode não só ser ineficaz como também perigosa. Quem explica é o engenheiro químico Caio Henrique Gomes, do Centro Universitário Facens, em entrevista à Catraca Livre.
Misturas com vinagre, bicarbonato, limão e água sanitária são eficazes na limpeza da casa?
Segundo Caio, os dois principais erros cometidos na limpeza doméstica envolvem justamente o uso inadequado desses ingredientes populares.
“O primeiro erro muito comum é a mistura de produtos diferentes que, por diversas vezes, além de reagirem entre si e gerarem uma terceira substância não adequada a finalidade original (limpeza), podem ser perigosos ou tóxicos”, alerta.
Essas combinações mal pensadas afetam não só quem está limpando, mas também animais e outras pessoas no ambiente. Um segundo erro, também comum, é exagerar na quantidade dos produtos.
“Temos a tendência de achar que quanto mais concentrado ou quanto ‘mais forte’ o produto for, teremos um resultado melhor na limpeza. No entanto, em diversos casos, não seguir os rótulos […] apenas gera um gasto maior para quem utiliza desses produtos, uma vez que podem ter maior rendimento, ou melhor ação, quando diluídos”, diz Caio.
Entre os exemplos de misturas perigosas, ele cita a junção de água sanitária com vinagre, bicarbonato, detergente ou desinfetante. “Essas misturas […] além de gerarem gases tóxicos, também anulam o efeito bactericida e fungicida da água sanitária.”
E as demais misturinhas? Funcionam? Caio opinou sobre elas. Confira a seguir:
Vinagre com bicarbonato de sódio
É uma combinação clássica — e quase sempre inútil. Caio é direto: “a mistura de vinagre e bicarbonato de sódio também não resulta em milagre algum.”
O que acontece ali é uma reação química que gera gás carbônico, água e acetato de sódio.
“A possibilidade de limpeza dos dois produtos é diminuída com a mistura, embora tenhamos a sensação que a efervescência que a reação gera resultará em limpeza”, afirma.
Ou seja, a mistura só parece limpar porque faz espuma, mas o que realmente ajuda é o atrito do pó durante a esfregação. O efeito visual impressiona, mas a sujeira continua ali.

Vinagre
O vinagre puro diluído em água pode ser útil em algumas situações. “Por ter um pH ácido pode agir como desengordurante e desinfetante para alguns casos”, afirma.
Ele é eficaz em retirar odores de superfícies, como panelas, talheres, tábuas e objetos metálicos com marcas de calcificação ou manchas de uso.
Mas ele faz um alerta: “Em materiais de recém-nascidos, pessoas com comorbidades e animais de estimação, o seu uso é desaconselhável, uma vez que é composta por ácido acético, uma substância irritante a mucosas.”
Além disso, nunca deve ser fervido. “Essa ação leva à evaporação do ácido acético, gerando fortes irritações aos olhos e nariz.”
Bicarbonato de sódio
Também tem seu valor — desde que não se espere dele uma ação desinfetante. “O bicarbonato tem pH básico, agindo também em gorduras e reagindo com substâncias que podem gerar odores desagradáveis, mas sem efeitos desinfetantes significativos”, explica.
Na prática, ele funciona bem como abrasivo suave (ajuda na remoção física de sujeira quando esfregado).

Mistura caseira ou produto pronto?
Para o especialista, a resposta é clara. “Os produtos destinados à limpeza têm de passar por diversos testes de eficácia, aprovações e parâmetros de qualidade que asseguram o uso seguro.”
Além disso, muitos já são desenvolvidos para serem biodegradáveis, o que ajuda a reduzir o impacto ambiental.
Misturas caseiras, por outro lado, não têm esse tipo de controle. “Podem representar uma falsa sensação de limpeza ou desinfecção de superfícies, além do risco que misturar substancias pode oferecer”, diz Caio.
No fim, o maior conselho é escolher um tipo de produto por vez e não os misturar: “assim, o risco de se intoxicar por gases gerados em reações químicas é diminuído e a eficácia máxima do produto pode ser obtida.”
Alerta sobre água sanitária
Existem alguns riscos ao misturar água sanitária com outros ingredientes caseiros. Segundo o engenheiro químico, “os principais riscos são a geração de substâncias tóxicas, que em alguns casos podem causar intoxicações, desmaios ou outros efeitos adversos“.
Além disso, ele alerta que as propriedades dos produtos podem ser anuladas, criando uma falsa sensação de limpeza ou desinfecção.
Isso significa que, mesmo após a aplicação, microrganismos podem continuar presentes em superfícies que parecem estar higienizadas.
O que realmente limpa, segundo a ciência?
A resposta é simples: sabão. “É o produto mais polivalente e de baixo custo que se encontra em qualquer lugar”, afirma Caio.
Seu poder de remover gordura, combinado com a ação mecânica de esfregar, continua sendo uma das formas mais eficazes de higienizar superfícies — inclusive contra microrganismos.
Para sujeiras mais pesadas, como óleo ou graxa, o ideal é recorrer a produtos industrializados específicos, como os desengordurantes. Eles são compostos por associações de detergentes e outras substâncias com eficácia comprovada em laboratório.

Resumo prático do que realmente funciona:
- Mais seguro e eficaz: sabão, detergente e desinfetantes industrializados conforme as instruções do rótulo. Existem diversos produtos com finalidades diferentes, é importante que, ao selecionar o produto, se tenha certeza do objetivo de aplicação, como retirar mofo, cheiro ou gordura.
- Pode ajudar com moderação: vinagre para desodorizar e desengordurar, bicarbonato como abrasivo.
- Evite a todo custo: misturas entre produtos, principalmente com água sanitária ou entre vinagre e bicarbonato.
- Cuidado com óleos, silicones e ceras: o efeito de espalhamento dá a falsa impressão de limpeza. Esses produtos possuem apenas componentes para dar brilho às superfícies. Então, quando usados isoladamente, apenas espalham a sujeira e microrganismos pelas superfícies caso essas não tenham passado por um processo de limpeza antes.
Se a ideia é limpar bem, com segurança e sem desperdiçar tempo ou dinheiro, o caminho é mais simples do que parece: use um produto por vez e confie no bom e velho sabão.